Argentina: criador da criptomoeda usada em esquema diz que ‘esperou instruções’ de Milei
Justiça do país designou juíza que avaliará primeira das quatro denúncias contra o presidente protocoladas nos tribunais
O empresário norte-americano Hayden Davis, criador da criptomoeda $LIBRA e dono da empresa Kelsen Ventures – à qual a divisa virtual também está vinculada –, afirmou em uma entrevista neste domingo (16/02) que conversou com o presidente da Argentina, Javier Milei e com assessores do seu governo, e que foi orientado a “esperar instruções” quando ocorreu o suposto caso de estelionato que teria afetado mais de 40 mil pessoas, no qual ambos poderiam estar envolvidos.
A declaração de Davis aconteceu em transmissão ao vivo do canal de YouTube Coffeezilla, do influencer Stephen Findeisen. Na conversa, o empresário disse que Milei “entrou em pânico” quando percebeu que o caso passou a receber repercussão negativa nas redes sociais, e que desde então diz estar sofrendo com medo de ser assassinado.
“Temo pela minha vida”, afirmou, sem dizer abertamente quem ele crê que poderia matá-lo, mas dando a entender que seriam pessoas ligadas ao presidente argentino.
Cripto estelionato
O caso em questão ocorreu na última sexta-feira (14/02), quando o mandatário de extrema direita publicou uma mensagem em seus perfis do Instagram e X para promover um suposto projeto privado de financiamento de startups argentinas por meio da compra da recém-criada criptomoeda $LIBRA.
Milei fixou suas postagens em ambas as plataformas, onde tem mais de 6 milhões de seguidores. O texto incluía a hashtag #VivaLaLibertadProyect, baseada em seu famoso slogan “Viva la libertad, carajo”.
Segundo o jornal argentino Página/12, as mensagens foram rapidamente amplificadas por militantes do partido governista A Liberdade Avança e por seus assessores. Essa disseminação da mensagem gerou uma alta vertiginosa no valor da $LIBRA, porém, minutos depois, a criptomoeda despencou para quase zero.
Especialistas no mercado de moedas virtuais relataram que o fenômeno foi resultado de um movimento de algumas carteiras virtuais que já possuíam uma grande quantidade de moedas #LIBRA, adquiridas anteriormente a um preço irrisório, e que aproveitaram para vender todas as suas moedas quando o valor disparou.

O empresário norte-americano Hayden Davis e o presidente argentino Javier Milei teriam sido cúmplices de esquema de estelionato envolvendo criptomoedas
Segundo estimativas, o golpe afetou mais de 44 mil pessoas, não só na Argentina, mas também em outros países. As carteiras virtuais que movimentaram o esquema teriam obtido um lucro entre 70 e 100 milhões de dólares em poucas horas.
Processos e impeachment
Desde então, os tribunais da Argentinos já registraram quatro processos movidos por diferentes grupos de pessoas que afirmam ter sido enganadas pelo esquema.
Todas essas ações judiciais apontam as empresas Kip Network e Kelsen Ventures (de Hayden Davis) como as principais operadoras do esquema de estelionato, mas indicam que o presidente deve ser investigado como possível cúmplice, mas e também com o empresário norte-americano Hayden Davis, dono da Kelsen Ventures, companhia responsável pela criptomoeda $LIBRA.
Nesta segunda-feira (17/02), a Justiça Federal argentina sorteou a magistrada María Servini como responsável por comandar as investigações do caso.
A juíza tem 86 anos e é conhecida no país por diversos causas judiciais históricas, entre elas o das denúncias contra o Estado argentino durante o escândalo do corralito, em 2001 – caso que envolveu o ex-presidente Fernando de la Rúa (1999-2001), último mandatário do país que não conseguiu terminar seu mandato.
No domingo (16/02), Milei também foi alvo de um pedido de impeachment apresentado pela coalizão peronista União Pela Pátria, principal força opositora ao seu governo.
Com informações de El Destape e Página/12.
