Começou nesta segunda-feira (24/02) na Argentina o julgamento de 17 acusados de homicídio e tentativa de homicídio durante a repressão aos protestos de dezembro de 2001. Entre os réus estão Enrique Mathov, ex-secretário de Segurança do governo do ex-presidente Fernando de la Rúa (1999-2001), e Rubén Santos, ex-chefe da Polícia Federal.
A equipe de advogados do CELS (Centro de Estudos Legais e Sociais), que está à frente da acusação, ainda espera decisão da Corte Suprema argentina para processar também o ex-presidente, considerado responsável político pela estratégia repressiva, que deixou um saldo de entre 36 e 39 vítimas fatais, segundo diferentes fontes.
Cerca de 500 testemunhas foram convocadas e o processo investiga a morte de Alberto Márquez, Gastón Riva, Carlos Almirón e Diego Lamagna, além da tentativa de homicídio de Martin Galli e Paula Simonetti, todos atingidos nas imediações da Praça de Maio, onde fica a sede do governo argentino.
A investigação também busca estabelecer responsabilidades por lesões corporais cometidas contra 117 pessoas durante os protestos que marcaram o último do dia do governo de De la Rúa, que abandonou a Casa Rosada a bordo de um helicóptero na noite 20 de dezembro de 2001, quando ainda faltavam dois anos para o fim do mandato.
Durante os protestos, várias pessoas também foram detidas de maneira arbitrária. Imagens da época mostram policiais montados em cavalos reprimindo as Mães da Praça de Maio, um dos símbolos da luta por Justiça para as vítimas da ditadura militar no país. Os saques a supermercados e os protestos, que se intensificaram nos dia 19 e 20 de dezembro de 2001, foram retratados no documentário “Memórias do Saque”, do cineasta Fernando “Pino” Solanas.
Crise
Depois de dez anos do governo de Carlos Menem (1989-1999), do PJ (Partido Justicialista, fundado por Juan Domingo Perón), Fernando de la Rúa chegou à presidência da Argentina como o candidato da Aliança, uma frente formada por seu partido, o tradicional UCR (União Cívica Radical), e pela Frepaso, frente que congregava partidos de centro-esquerda.
De la Rúa assumiu o país após dez anos de políticas de ajuste do período menemista, marcado pela política de convertibilidade – $1 peso argentino equivalia a US$1. O presidente eleito em 1999 enfrentou em 2001 a desvalorização do peso, que agravou a crise social que já na metade da década de 1990 era combatida por movimentos sociais, como os de trabalhadores desempregados.
Nos primeiros dias de dezembro de 2001, o governo argentino anunciou a restrições a saques bancários superiores a $250 pesos ou US$250, medida que ficou conhecida como “corralito”. A medida aumentou as tensões e, nos dias 19 e 20 de dezembro de 20010 houve protestos em cidades de todo o país. Também a repressão aumentou durante esses dois dias, o que levou Fernando de la Rúa a decretar estado de sítio no país na noite de 19 de dezembro. No dia seguinte, o presidente argentino renunciou.
Durante os dez dias que se seguiram a renúncia de De la Rúa, a Argentina teve 5 presidentes. O último deles, Eduardo Duhalde, do PJ, assumiu o cargo em 2 de janeiro de 2002 e governou o país até maio de 2003, quando transmitiu a faixa presidencial a Néstor Kirchner (2003-2007).
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