Argentinos baixam o tom e anunciam revisão de licenças não-automáticas de importação
Argentinos baixam o tom e anunciam revisão de licenças não-automáticas de importação
Após as tensões comerciais entre Argentina e Brasil durante a última Cúpula do Mercosul por causa das licenças não-automáticas para importações, negociadores dos dois países parecem ter atingido uma trégua. Pelo menos essa foi a sensação que tiveram os industriais argentinos que participaram de uma reunião nesta quarta-feira (9), em São Paulo, com seus pares brasileiros.
“Saímos satisfeitos e agradecidos com o governo Lula. Eles mostraram uma grande disposição conosco”, disse Alberto Sellaro, presidente da Câmara Argentina de Calçados. “Os empresários brasileiros são muito agressivos e pretendem impor a nós a compra de 30 milhões de pares de sapato por ano. Se isso ocorrer, nossa indústria será muito atingida”, afirmou o industrial argentino ao Opera Mundi.
Sellaro, que participou da reunião, destacou que foi o secretário-executivo do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil, Ivan Ramalho que, de maneira pessoal, interveio para que as câmaras do país respeitassem os acordos firmados para o período 2009/2010, nos quais se estabelece que a indústria de calçado brasileira deve se limitar a não exportar mais que 15 milhões de pares ao sócio do Mercosul.
Este setor da economia é um dos mais sensíveis, já que o nível de importações tem uma incidência direta sobre a mão-de-obra.
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A delegação argentina foi encabeçada pelo secretário de Indústria, Eduardo Bianchi, que após o encontro bilateral e por meio de um comunicado à imprensa, disse que “foi iniciado um processo de análise para reduzir o número de produtos sujeitos a licenças não automáticas entre os dois países. As equipes técnicas também trabalharam sobre as questões de proteção comercial de ambas as nações para incrementar a troca de informação concreta sobre este ponto”.
No entanto, a sensível relação comercial entre os países ficou visível no comunicado quando se falou que “se manterão reuniões constantes e permanentes para solucionar as dificuldades que possam surgir no dia a dia”.
Vantagem brasileira
Um dos setores mais complexos é o de autopeças. As grandes multinacionais de veículos instalaram no Brasil as plantas fabris encarregadas de produzir os modelos menores e na Argentina as encarregadas dos desenhos de grande porte.
Segundo o economista Martín Guiraldés, professor da Universidade de Buenos Aires e analista do setor automotivo, “é indispensável ter uma regulação mais específica em matéria de comércio bilateral de autopeças. As próximas reuniões do setor deveriam ver isso. A Argentina é um mercado pequeno e, por isso, é indispensável proteger-se de um país como o Brasil, que compete com nações muito mais poderosas neste segmento, tais como China e Japão”.
Uma das características mais importantes entre ambas as nações do Mercosul é que a indústria brasileira tem capacidade muito maior de compra e desenvolvimento de robôs e máquinas pesadas para acelerar o ritmo de produção, um aspecto em que a Argentina está muito atrás. “Esta distância é a razão pela qual se deve ter uma regulação detalhada”, acrescenta o professor.
A próxima reunião técnica entre empresários será em janeiro, em Buenos Aires, um dia antes do encontro dos ministros da Indústria de ambos os países. Ali se poderá conhecer bem se as feridas cicatrizaram ou se, pelo contrário, estão cada vez mais profundas.
Calçados
Exportadores brasileiros afirmam que o governo argentino já normalizou a emissão de licenças não automáticas para a importação de calçados, um dos setores mais afetados pela suspensão de licenças automáticas de importação.
De acordo com a Abicalçados (Associação Brasileira da Indústria Calçadista), a Argentina promoveu uma “liberação maciça” de licenças de importação para calçados brasileiros nos últimos dias.
A associação reclamava que a liberação vinha demorando até 240 dias, o que permitia a entrada de calçados chineses no mercado local. Entre janeiro e agosto, os produtos asiáticos alcançaram 51% do volume importado e ultrapassaram os brasileiros no fornecimento de sapatos, tênis e sandálias à Argentina. Pelas regras da OMC (Organização Internacional do Comércio), as licenças não devem demorar mais de 60 dias.
Em calçados, as exportações do Brasil para a Argentina caíram 66% de janeiro a maio. No total, o país perdeu 10 pontos de participação nas importações totais.
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