Em discurso ao Conselho da Europa nesta terça-feira (01/10), Julian Assange, fundador do WikiLeaks, fez sua primeira aparição pública desde que foi saiu da prisão em junho, após cumprir pena no Reino Unido.
Na ocasião, Assange destacou que sua liberdade não se deu por uma decisão justa do sistema judicial, mas sim por uma escolha pessoal.
“Não estou livre hoje porque o sistema funcionou, mas sim porque, após anos de encarceramento, me declarei culpado de ter feito jornalismo”, afirmou Assange, se referindo aos 14 anos que passou entre a Embaixada do Equador em Londres e uma prisão no Reino Unido.
Durante o pronunciamento em Estrasburgo, no nordeste da França, o jornalista frisou: “Escolhi a liberdade em vez de uma justiça irrealizável”. Ele falou à comissão do Conselho da Europa, organização que reúne 46 países e promove os direitos humanos no continente. O órgão examina as condições de sua detenção com base em um relatório elaborado pela parlamentar islandesa Thorhildur Sunna Aevarsdottir.
O documento, que será discutido na quarta-feira (02/10), afirma que as ações judiciais e condenações impostas a Assange foram “desproporcionadas” e o classifica como “preso político”.
Tal relatório também impulsionou a criação de um projeto de resolução que encoraja os Estados Unidos a investigar os “crimes de guerra e violações de direitos humanos” revelados por Assange e pelo WikiLeaks.
O caminho de Assange até aqui
Assange, de 53 anos, foi protagonista de uma longa batalha judicial antes de sua prisão. Em 2019, ele foi detido pela polícia britânica e mantido na penitenciária de segurança máxima Belmarsh, em Londres. Antes disso, passou sete anos refugiado na Embaixada do Equador em Londres para evitar sua extradição, após ser acusado de agressão sexual na Suécia – acusações que mais tarde foram retiradas.
A detenção do jornalista foi desencadeada pela divulgação, em 2010 e via WikiLeaks, de documentos confidenciais que expunham crimes de guerra cometidos por militares norte-americanos no Iraque e no Afeganistão, durante a “guerra ao terror”.
Posteriormente, Assange foi acusado sob a Lei de Espionagem por obter e divulgar informações sobre a defesa nacional dos Estados Unidos.
Sua libertação foi parte de um acordo judicial, no qual ele se declarou culpado de ter acessado e disseminado informações sigilosas, incluindo relatos de assassinatos extrajudiciais e dados de aliados dos Estados Unidos.
“Me declarei culpado de buscar informações de uma fonte e me declarei culpado de informar o público sobre a natureza dessas informações. Não me declarei culpado de nenhuma outra acusação”, explicou Assange em sua fala.
A vida pós-libertação
Desde que foi solto, Assange retornou à Austrália, e se reencontrou com sua família. Embora mantenha um perfil discreto, o WikiLeaks e sua esposa, Stella, com quem se casou enquanto estava na prisão, compartilham algumas atualizações sobre sua vida.
Assange espera que seu testemunho no Conselho da Europa sirva para ajudar outras pessoas que também enfrentam perseguições, embora seus casos sejam menos conhecidos.
“Espero que meu testemunho ajude aqueles cujos casos são menos visíveis, mas são igualmente vulneráveis”, afirmou.
O australiano também fez um alerta sobre o aumento de retaliações contra os que expõem a verdade: “Há cada vez mais impunidade, mais sigilo, mais represálias contra aqueles que dizem a verdade.”
Sobre seu período de encarceramento, Assange admitiu não estar totalmente pronto para falar, mas ressaltou o impacto do isolamento. “O isolamento teve seu preço, o qual estou tentando desfazer”, declarou.