O pré-candidato presidencial pela Frente Ampla, Danilo Astori, lançou sua campanha eleitoral, baseada no discurso da segurança, distribuição de renda e trabalho. Em carreata por La Teja, bairro de Montevidéu identificado com a classe trabalhadora e com a resistência à ditadura, Astori assegurou que, se eleito presidente, trabalhará para que o Uruguai seja um “país livre da cocaína”.
O ex-ministro da Economia é o candidato preferido do presidente uruguaio Tabaré Vázquez, mas não goza da mesma simpatia entre a maioria dos militantes da Frente Ampla. No final do ano passado, o Congresso da esquerda uruguaia nomeou o ex-guerrilheiro e líder tupamaro José “Pepe” Mujica como seu candidato oficial, embora Astori ainda tenha o direito de competir nas primárias.
A jornada de Astori ontem (4) começou com uma visita a casas de família, clubes e organizações sociais do oeste da capital. Paradoxalmente, uma das primeiras pessoas a receber o candidato presidencial na entrada do Pólo Tecnológico Industrial (PTI) foi o dirigente tupamaro Julio Marenales, integrante da comissão administradora do PTI, que aproveitou a ocasião para afirmar que Astori, ao contrário de Mujica, não alimenta a idéia de um “país produtivo”.
Astori falou da necessidade de os uruguaios patentearem suas invenções. “Cada vez que há uma patente nacional, fico feliz. Muitas vezes criticamos os méritos dos países desenvolvidos em propriedade intelectual e não patenteamos as nossas [invenções]. A defesa da propriedade intelectual tem que começar em casa”.
A visita serviu inclusive para confissões pessoais: Astori assegurou que desde criança queria ser torneiro mecânico. Conversou com quatro jovens carpinteiros durante a caminhada e os parabenizou pelas portas que fabricavam. “Vão votar?”, perguntou Opera Mundi. “Será concorrido, mas escolheremos Mujica”, responderam.
A primeira parada da campanha terminou com uma visita às instalações da empresa Envidrio, recuperada pelos trabalhadores com a colaboração do governo venezuelano. Em seguida, Astori e sua caravana de cerca de quinze carros chegaram à Federação Obreira da Indústria da Carne e Afins, na colina, e foram recebidos com aplausos pelos integrantes do grêmio de aposentados da indústria frigorífica, organização que utilizava como hino próprio La Marsellesa, o hino nacional francês. “Quando os cachorros do bairro ouviam o hino, começavam a latir, porque sabiam que vinha a fome e greve”, contou um operário aposentado.
Os moradores do bairro acompanharam atentos a caravana passar. Não houve manifestações hostis, nem grandes saudações. “Os jovens precisam trabalhar, Astori!”, gritou um rapaz quando passavam os carros.
Trabalhador protesta por ganhar pouco
Por volta das 18h, Astori parou na casa de um montevideano denominado “Pocho”, no bairro Nuevo París, onde cerca de 50 pessoas haviam se reunido para escutá-lo. Ali, o candidato presidencial assegurou que com o primeiro governo frenteamplista [do atual presidente Tabaré Vázquez], passou a ter certeza de que o crescimento econômico não seria possível “sem os trabalhadores deste país” e ressaltou que agora há emprego.
“Sim, por 3.000 pesos. Trabalhar por 3.000 pesos (R$ 300)”, protestou um adolescente, que foi imediatamente silenciado pelos companheiros. Ele deve estar revoltado porque ganha menos que um salário mínimo, que no México é de 4.400 pesos (R$ 440). No Brasil, o mínimo está em R$ 465.
Depois, os vizinhos pediram a construção de outra escola em tempo integral, com uma quadra de esportes. E segurança. “O tema policial é fundamental, porque não podemos ficar em casa com medo de que nos matem, nos agridam”, comentou uma mulher. Astori prometeu que essa será uma de suas prioridades.
O ato de encerramento foi realizado em frente ao Club Arbolito, fundado pelo presidente Tabaré Vázquez. Os cartazes de propaganda de sua campanha, que já começaram a aparecer nos muros da capital, são praticamente idênticos aos da campanha que levou Vázquez e a Frente Ampla ao governo nacional pela primeira vez na história do Uruguai – Astori é o candidato preferido do presidente.
Como bom economista, Astori recorreu aos números. Assegurou que se eleito presidente, o país crescerá 30%, o investimento aumentará 20%, a pobreza baixará 10% e desaparecerá a indigência. Também se comprometeu a combater as “bocas” de distribuição de droga e declarar o Uruguai um “país livre da cocaína”. Foi a proposta mais aplaudida da noite. E foi “o primeiro ato na rua” da Frente Ampla para as eleições internas, proclamou orgulhoso o ex-ministro.
O governo não possui dados atualizados sobre consumo e tráfico de drogas, nem sobre violência ou delinquência, mas os temas estão na boca de todos os candidatos, embora sejam tradicionalmente mais explorados pela direita. Mujica também o colocou entre as prioridades de sua campanha.
Maconha, cocaína e pasta-base de coca são as drogas mais apreendidas, nesta ordem. Mas a última é a que faz mais estrago, por ter o maior potencial destrutivo. Por ser barata, é largamente utilizada pelos mais pobres.
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