A exemplo do que aconteceu na Tunísia, as primeiras medidas tomadas pelo governo egípcio para conter a série de manifestações acabou por levar mais gente às ruas para protestar. Neste (29/01), o número de participantes das passeatas era ainda maior, tanto no Cairo quanto em outras cidades.
Já na madrugada, o presidente Hozny Mubarak anunciou a demissão do gabinete e a manutenção das medidas de segurança. O primeiro-ministro, Ahmed Nazif, e demais integrantes do alto escalão do governo renunciaram neste sábado. Além disso, Mubarak empossou Omar Suleiman, chefe da inteligência e aliado, como vice-presidente. A posição nunca havia sido preenchida desde a posse de Mubarak, em 1981. Outra alteração foi retirar a polícia das ruas e colocar as Forças Armadas no lugar.
Logo de manhã, os manifestantes começaram a se reunir aos milhares. Mas, ao contrário da véspera, quando houve grandes confrontos com a polícia – e um número de mortos que pode ultrapassar os 100 – tem prevalecido a calma. Funerais de vítimas dos protestos de sexta-feira (28/01) foram realizados durante as manifestações dest sábado.
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“Não houve confronto hoje. A demonstração é pacífica. Tem tanta gente na rua que os blindados estão cercados pela multidão, sem fazer nada”, diz o embaixador brasileiro no Cairo, Cesário Melantônio. “O governo adiantou o toque de recolher para as 16h hoje, mas a população, mais uma vez, não vai cumprir”, afirmou.
De acordo com o embaixador, é difícil prever o que vai acontecer. “Até agora, um impasse total entre o que a população o governo querem. Os manifestantes querem a saída do presidente. Ele pretende continuar.” Mas a comparação com a Tunísia, lembra ele, é automática. “É inegável o efeito do que aconteceu na Tunísia. Fez com que a população perdessem o medo de sair e pedir uma mudança de regime.”
Entretanto, Cesário Melantônio acrescenta que, diferentemente do que ocorre na Tunísia, no Egito praticamente não tem oposição, o que dificulta a negociação com o governo. E, ao mesmo tempo, deixa temerosos os atores internacionais, pois o país tem um peso geoestratégico muito maior que o tunisino.
“A reação de países da União Europeia e dos Estados Unidos vai ter um grande peso sobre o Egito”, acredita o representante brasileiro, lembrando que Hozny Mubarak é um grande aliado dos norte-americanos. “Se, por acaso, houver eleições livre e limpas, [o surgimento de] um governo novo, de política externa independente, distanciada de Israel, pode ter grande efeito na política geral do Oriente Médio.”
Dos 22 países da Liga Árabe, só Jordânia e Egito reconhecem a existência do Estado de Israel. Israel é o maior beneficiário da ajuda externa norte americana no mundo. O segundo lugar é do Egito.
Por telefone, o presidente Barack Obama disse a Mubarak que ele “tem a responsabilidade de dar sentido às suas palavras, e dar passos concretos para cumprir suas promessas.” Repetiu a mensagem da secretária de estado Hillary Clinton, feitas horas antes, de “conter a violência contra manifestantes pacíficos”, e reverter os bloqueios às comunicações.
Em 2010, o Egito recebeu 1,3 bilhão de dólares em auxílio militar e 250 milhões de dólares em ajuda financeira dos Estados Unidos. Segundo a Casa Branca, a assistência pode ser “revista” com base no que acontece no país.
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