Terça-feira, 17 de junho de 2025
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Presa e torturada durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), a presidenta do Chile, Michelle Bachelet, inaugurou ontem (11), em Santiago, o Museu da Memória e dos Direitos Humanos. O edifício, desenhado pelos arquitetos brasileiros Carlos Dias, Lucas Fehr e Mário Figueroa, foi construído no coração da capital chilena para lembrar as vítimas da ditadura.

EFE

“Não podemos mudar nosso passado, mas podemos aprender a partir do que aconteceu. É nossa oportunidade e nosso desafio”, afirmou Bachelet, após cainhar pelo local. A presidente estava acompanhada dos três presidentes que governaram o país desde a volta da democracia: Patricio Aylwin (1990-1994), Eduardo Frei (1994-2000) e Ricardo Lagos (2000-2006).

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“O museu honra a memória e a dignidade” das vítimas da ditadura, “cujas fotos e vozes fazem pensar e reflexionar sobre como se chegou a produzir tanta dor em nossa pátria”, acrescentou Michelle, cujo pai, o general Alberto Bachelet, foi também torturado, antes de falecer na cadeia em 1974.

O museu, que custou 22 milhões de dólares ao Estado, terá uma mostra permanente com documentos, objetos, material audiovisual e arquivos de som com depoimentos das vítimas e de familiares, assim como fotos e reportagens.

A deputada federal Isabel Allende, filha do presidente Salvador Allende, morto no golpe de Estado de 11 de setembro 1973, disse que sua família entregou alguns objetos ao museu. “São poucos, pois os bombardeios sobre nossa casa e o palácio presidencial La Moneda acabaram com as coisas de meu pai. Por isso, estes objetos têm um valor muito importante, porque perdemos tudo.”

As principais referências do museu são o informe Retting, que em 1991 documentou 2.279 casos de presos desaparecidos e executados políticos, e o informe Valech, que calculou em 2004 que mais de 28 mil pessoas foram torturadas por razões políticas durante a ditadura.

Vargas Llosa vaiado

Assim que deixar o poder, em 11 de março desse ano, Bachelet será incorporada à diretoria do museu, que deve reunir 15 personalidades representativas de diversos setores da sociedade civil chilena.

A chefe de Estado teve de interromper o discurso ontem durante vários minutos por causa da intervenção de uma jovem mulher, irmã de Matías Catrileo, um índio mapuche morto em 2008 durante um confronto com a polícia. Os mapuches representam 6% da população chilena (18 milhões de habitantes).

EFE

Um outro incidente marcou a inauguração do museu: o escrito peruano Mario Vargas Llosa, presente no evento por ser o idealizador de uma instituição semelhante no seu país, foi vaiado pelo público. O escritor havia sinalizado apoio ao candidato conservador às eleições chilenas, Sebastián Piñera, líder das pesquisas de intenções de voto para o segundo turno, que será realizado no próximo domingo (17). “Uma pessoa que apóia Piñera não pode estar aqui”, gritaram vários convidados.

O episódio lembrou a polêmica política provocada pelo fato de o museu ter sido inaugurado seis dias antes da votação. A oposição de direita denunciou uma manobra de Bachelet para ajudar o candidato governista, o ex-presidente Eduardo Frei.

“A esquerda é capaz de muitas coisas para não perder o poder. São capazes de tentar tirar coelhos da cartola até o último minuto”, disse Carlos Larraín, presidente da Renovação Nacional, partido da base de Piñera. Os partidos de direita, que apoiam o bilionário Piñera, queriam que o museu fosse reformulado para incluir abusos cometidos durante a presidência de Salvador Allende.

Colaboradores de Pinochet

Durante o único debate entre os dois candidatos, organizado na noite de ontem e retransmitido por vários canais de televisão, Frei lembrou que estava poucas horas antes na inauguração do museu: “Deu para ver o horror que significou este episódio na historia do Chile, espero que não se repita”, declarou o ex-presidente.

Frei aproveitou para questionar o candidato direitista sobre a eventual participação num próximo governo de colaboradores de Augusto Pinochet. Piñera respondeu assegurando que não teria no seu gabinete ex-ministros do governo militar. No entanto, não descartou nomear quadros que trabalharam em postos técnicos durante a ditadura. “Sinto-me tão democrata e defensor dos direitos humanos como o senador Frei”, declarou o empresário.

O tema dos direitos humanos e o temor de que figuras do governo de Augusto Pinochet voltem podem incentivar algumas pessoas que optaram pelo voto branco no primeiro turno ou escolheram o ex-socialista Marco-Enriquez Ominami, escolham Frei.

De acordo com a maioria das pesquisas, o empresário direitista tem mais chances de vencer. Um informe presidencial, divulgado pela imprensa, avalia, porém, que Frei ganharia com uma margem semelhante à do socialista Ricarlo Lagos sobre Joaquín Lavín em 2000 (51,31% a 48,69%).

Bachelet inaugura museu em memória das vítimas da ditadura chilena

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