‘Big Brother jornalístico’: governo Milei quer restringir acesso da imprensa à Casa Rosada
Porta-voz argentino prepara sistema de ‘seleção popular’ de credenciados às coletivas, ‘entre jornalistas, youtubers e influenciadores’; também será instalado ‘botão silenciador’ de microfones
A Casa Rosada está estudando a implementação de um polêmico projeto de credenciamento para participar das coletivas de imprensa na sede governamental argentina.
A ideia consiste em selecionar as pessoas com direito a credencial através de uma votação pela internet, na qual competiriam não só jornalistas como também youtubers e influenciadores digitais.
A iniciativa está sendo preparada pelo ministro porta-voz da Presidência, Manuel Adorni. Em uma entrevista à agência espanhola EFE, na última quinta-feira (06/03), ele a descreveu como “um Big Brother jornalístico”.
“Estamos pensando num sistema no qual os jornalistas podem ser eleitos pelas pessoas; pensando numa fórmula para que as pessoas se sintam representadas, que se sintam informadas e que vocês aqui sintam também que podem fazer um trabalho melhor para os seus meios e para o povo; uma espécie de Big Brother jornalístico”, explicou o ministro.
Por se tratar de uma medida referente ao funcionamento interno da Casa Rosada, o sistema de seleção de credenciados para as coletivas pode ser adotado com uma simples ordem administrativa do presidente de extrema direita Javier Milei, sem precisar de aprovação do Congresso.
Adorni não deu maiores detalhes sobre o sistema, além do fato de que será através de uma votação pela internet e que poderão participar jornalistas, youtubers e influenciadores digitais.
“Ainda estamos desenhando o modelo, buscando uma fórmula. É parte de um projeto com o qual tento fazer com que o trabalho aqui seja cada vez mais profissional”, frisou o ministro.
Além disso, o funcionário revelou que o acesso às coletivas a youtubers e influenciadores deverá ser oficializado nos próximos dias, antes mesmo de finalizado o processo para o lançamento do sistema de “seleção popular” dos credenciados.

Javier Milei posa para selfie com seu ministro porta-voz, Manuel Adorni
Polêmica pós-escândalo das criptomoedas
A proposta despertou críticas até mesmo em meios conservadores, como o diário digital Perfil, onde o colunista Rodrigo Lloret afirmou que o sistema descrito pelo porta-voz “tem um claro objetivo: doutrinar os jornalistas críticos para unificar o relato a favor do governo”.
“Apesar da ideia de Adorni parecer descabelada, não se trata de algo novo nas direitas que se propagam em todo o mundo, e que colocam os valores da democracia em perigo. O acosso à prensa por parte de Milei repete uma estratégia similar nos Estados Unidos de Donald Trump”, acrescenta Lloret.
Outro fator que chamou a atenção da imprensa local é o fato de que o projeto surge semanas após a polêmica entrevista dada por Milei quando o escândalo das criptomoedas acabava de surgir.
A parte controversa daquele episódio não esteve no programa em si, e sim no fato de que, em simultâneo com a sua exibição, foram vazados vídeos no qual o entrevistador Jonathan Viale, do canal LaNación+, aceita que um assessor de Milei interrompa uma pergunta indesejada para orientar o presidente argentino sobre como respondê-la.
Em outro trecho vazado, Milei pergunta a Viale se ele está com a lista de perguntas que foram previamente aceitas por seus assessores mais próximos: Santiago Caputo, seu secretário de Comunicação (o mesmo que interrompeu a entrevista no outro trecho), e Karina Milei, sua irmã e secretária-geral da Presidência.
Botão silenciador
Outro mecanismo que será implementado antes da seleção para as coletivas de imprensa é o que foi chamado de “botão silenciador”, que servirá para que o porta-voz, ou outra figura que esteja oferecendo uma coletiva na Casa Rosada, possa silenciar o microfone de alguém que esteja fazendo uma pergunta, caso julgue necessário.
Durante uma coletiva, Adorni justificou a ideia, em um primeiro momento, dizendo que se trata de “evitar, por exemplo, que alguém arranque o microfone do pessoal que trabalha aqui na Casa Rosada (…) nesses casos, eu prefiro silenciar (o microfone), e acabou o problema”.
Porém, na mesma entrevista, ele confessou, em outra resposta, que poderia acionar o botão silenciador diante de perguntas que considere indesejadas. “Às vezes nós temos tantas perguntas (numa coletiva) que são repetidas, o que faz com que seus próprios colegas sintam que estão roubando seu espaço, por isso acho que esse recurso (botão silenciador) é interessante”, alegou.
Com informações de Infobae e Perfil.
