Bolsas mundiais caem após previsão de novas tarifas de Trump
Taxas assustam investidores ao passo que incertezas sobre direitos e democracia fazem norte-americanos considerarem migrar
O mercado mundial de ações sofreu uma queda nesta segunda-feira (31/03) após o presidente norte-americano Donald Trump afirmar que tarifas recíprocas irão atingir diversos países, e não somente com os quais os Estados Unidos têm mais déficit comercial.
Trump prometeu anunciar as novas tarifas na quarta-feira (02/04), o que ele chamou de “Dia da Libertação” para os Estados Unidos.
No Japão e em Taiwan, por exemplo, as ações caíram mais de 4%. Na Coreia do Sul, 3%. As empresas de tecnologia foram as mais atingidas. No entanto, na China, a queda foi mais moderada: 0,5% no continente e 1% em Hong Kong.
Na Europa, o índice Stoxx 600 caiu 1,8%, com as montadoras alemãs apresentando as maiores perdas que se somam às quedas recentes. A Volkswagen, maior montadora do continente europeu, caiu mais de 4% em Frankfurt.
Só as ações da indústria armamentista europeia é que subiram após a União Europeia sinalizar que aumentará o investimento na sua própria indústria de defesa para compensar a redução do apoio norte-americano.
Em Nova York, o mercado de futuros do S&P 500 caiu 1% nesta segunda-feira e já tinha recuado 2% na sexta-feira passada (28/03). Analistas do Goldman Sachs preveem outros 5% de queda nos próximos três meses.
A queda pode ser mais profunda se os Estados Unidos entrarem em recessão, o que esses analistas vêm com uma probabilidade de 33%. Outros sintomas da incerteza econômica foi a alta recorde do ouro e a queda trimestral de quase 4% do dólar.
Ao mesmo tempo, o crescimento do emprego nos Estados Unidos desacelerou de 151 mil, em fevereiro, para 258 mil, em março, segundo pesquisa da agência Reuters.
Aprovação do governo Trump em queda
Mas a insegurança diante das medidas adotadas por Trump não se restringe ao chamado mercado. Uma nova pesquisa de opinião realizada pela AP-Nork mostrou que a desaprovação do governo é de 56%, chegando a 60% em economia e 62% em negociações comerciais.
O que os norte-americanos mais aprovam em sua gestão é o tratamento dado à imigração, em que ele é aprovado por 49% dos entrevistados.

A desaprovação na economia pode crescer com o aumento da inflação. Os especialistas da área apontam que as novas tarifas terão um impacto negativo, por exemplo sobre a acessibilidade à moradia no país, como disse o economista Robert Barone à emissora catari Al Jazeera.
Outro indicador de como as medidas de Trump está impactando os norte-americanos é o aumento de solicitações de um segundo passaporte ou residência de longo prazo em outros países. Aqui, pesa tanto a incerteza econômica, como a relacionada à perseguições políticas e aos direitos das minorias.
Reportagem da Al Jazeera revelou que empresas especializadas em gerir esses pedidos tiveram um aumento de demanda. O crescimento foi de 400% no primeiro trimestre deste ano em comparação ao mesmo período de 2024.
Cidadãos dos EUA querem ter um plano B
Não há registros oficiais do número de cidadãos norte-americanos que solicitaram outros passaportes. Mas as estimativas das empresas da área colhidas pela reportagem da Al Jazeera sugerem que a proporção de pedidos feitos por requerentes vem crescendo.
Trump conseguiu irritar ainda mais os investidores ao dizer que não se importa com a repercussão de suas tarifas sobre os consumidores ou sobre as empresas norte-americanas, que pagarão mais caro por suas importações.
Um dos caminhos são os chamados “vistos dourados” ou esquemas de “cidadania por investimento”. São formas de obter residência de longo prazo ou até cidadania em troca de um investimento imobiliário, doação a um fundo de desenvolvimento ou compra de títulos do governo. O investimento exigido varia de US$ 10,7 mil euros a mais de US$ 1,2 milhão, dependendo do país. Já os pedidos de nacionalidade por ascendência cresceram 500%.
