Brasil, Cuba e mais: manifestantes vão às ruas pelo mundo no Dia do Trabalhador
Movimentos e centrais sindicais reivindicam proteção aos direitos trabalhistas, mas também falam em solidariedade à Palestina e rechaço ao governo Trump
(*) Matéria atualizada às 16h37 de 01 de maio de 2025
Movimentos populares e centrais sindicais de vários países convocaram manifestações nesta quinta-feira (01/05) no âmbito do Dia do Trabalhador e da Trabalhadora. No Brasil, já desde as primeiras horas do dia, milhares de pessoas estavam nas ruas exigindo melhores condições de trabalho.
Até às 9h30, já haviam sido iniciados atos em Maceió, na Praia da Pajuçara; em Salvador, no Farol da Barra; em Teresina, Ponte Estaiada; em Natal, Teatro Alberto Maranhão; em Aracaju, no bairro Santa Maria; em Belém, na Praça do Operário; e em Belo Horizonte, na Praça Sete de Setembro.
Em São Paulo, manifestantes se concentraram na Praça Oswaldo Cruz, na região central da capital financeira, para seguir pela avenida Paulista em um ato contra a escala 6×1, convocado pelo movimento Vida Além do Trabalho (VAT). Participam também o movimento de empregadas domésticas, representantes de ambulantes, políticos, entre outros.
De acordo com a coordenadora do VAT em São Paulo, Priscila Santos Araújo, o esquema que impõe seis dias de trabalho e uma de descanso “afasta a gente da família, da nossa fé, não deixa a gente ter saúde, ter sonhos… Ter o mínimo […] É uma escravidão.”
No dia anterior, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu o fim da jornada 6×1 em rede nacional. O ex-deputado federal José Genoino, que participou da mobilização nesta manhã, reforçou a importância do tema, além da ampliação da isenção do Imposto de Renda, sustentando que é preciso ocupar as ruas para pressionar o Congresso a respeito das pautas trabalhistas.
Destaca-se também a presença dos entregadores de aplicativo, no Viaduto Tutóia, na Vila Mariana, que há um mês realizaram a maior greve nacional da categoria. Na ocasião, foram registrados protestos em pelo menos 70 municípios, incluindo um ato com 2 mil motociclistas na porta do iFood em Osasco.
“Somos trabalhadores, chega de escravidão moderna”, dizia uma faixa nesta quinta-feira. “Ifood, Rappi, 99 e Uber: parasitas!”.
Neste 1º de maio, nosso time marca presença no Dia do Trabalhador em Osasco para defender as pautas dos trabalhadores e dentre elas, o fim da escala 6×1. Acompanhe com a gente por aqui 👇 pic.twitter.com/QDr46k87MS
— Bancários de São Paulo, Osasco e Região (@spbancarios) May 1, 2025
Cuba exige fim das sanções dos EUA
Sob o lema “Criamos juntos pela Cuba”, a população cubana, incluindo autoridades políticas, sociais e sindicais, bem como representantes e convidados de delegações internacionais, concentram-se na Praça José Martí da Revolução, em Havana, para celebrar o Dia Internacional do Trabalhador.
O local foi decorado com bandeiras cubanas e também de outros países, como as da Palestina em repúdio ao genocídio israelense, e cartazes alegóricos ao partido proletário. Além dos trabalhadores, estudantes e organizações solidárias comemoram a data.
“Celebramos a festa do proletariado mundial no meio de um cenário internacional complicado. O mundo está sofrendo uma renovada e perigosa ofensiva imperialista, com expressões neofascistas que buscam redesenhar o sistema internacional, ignorando os princípios da coexistência pacífica e da igualdade soberana entre os Estados”, disse o secretário-geral da Central de Trabalhadores de Cuba, Ulises Guilarte de Nacimiento.
O dirigente sindical acrescentou que “esta celebração do Dia Internacional dos Trabalhadores em Cuba é uma nova e inequívoca demonstração do apoio majoritário do heróico povo cubano à sua Revolução, que representa seus interesses e que, com a participação e o compromisso de todos, busca todos os dias soluções para os problemas e enormes desafios impostos pela batalha econômica que estamos travando com nossas próprias forças”.
Entre as reivindicações que o povo trabalhador da Cuba realiza nesta quinta-feira está o fim do bloqueio econômico, comercial e financeiro do governo dos Estados Unidos contra o país.
🇨🇺| A 25 años del histórico discurso, en el que el Comandante en Jefe Fidel nos legara el concepto de Revolución, cientos de miles de habaneros llenaron la Plaza porque que “no existe fuerza en el mundo capaz de aplastar la fuerza de la verdad y las ideas”.
📸| @cubadebatecu pic.twitter.com/SerWj7QCIc
— Presidencia Cuba 🇨🇺 (@PresidenciaCuba) May 1, 2025

X/Presidencia de Cuba
Luis Arce marcha na Bolívia
Na Bolívia, a Central Operária Boliviana (COB) mobilizou protestos massivos em cidades como La Paz, Cochabamba, Tarija, Oruro e Santa Cruz, contando com a participação de setores estratégicos como mineração, manufatura, saúde e educação.
Em Tarija, o presidente boliviano Luis Arce, junto com o vice-presidente David Choquehuanca e outros ministros do governo, marcou presença na marcha ao lado de trabalhadores e organizações sociais, reafirmando o compromisso do governo com as demandas trabalhistas.
“Com muito orgulho e força, marchamos junto com nossa gloriosa Central dos Trabalhadores da Bolívia neste Dia Internacional dos Trabalhadores de 1º de maio”, escreveu Arce em suas redes sociais.

Facebook/Lucho Arce
México pela redução da jornada de trabalho
Das proximidades do Palácio de Belas Artes, na Cidade do México, os manifestantes avançaram em direção ao Zócalo, exigindo a redução da jornada de trabalho de 48 para 40 horas. Já a Coordenação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) e a Nova Central dos Trabalhadores (NCT), em paralelo, marcharam do Anjo da Independência até a praça principal da capital para exigir “aposentadoria e pensão justas”.
Com uma mobilização unitária,, que inclui professores e trabalhadores de universidade, setores culturais e grupos camponeses, a CNTE destacou que os setores compartilham da “mesma demanda ao governo federal de garantir condições dignas para todos os trabalhadores”.
Enquanto isso, sindicatos como mineiros, telefonistas e trabalhadores em transportes se reuniram na Plaza de la Constitución, onde reafirmaram a luta por melhores condições de trabalho.
De acordo com o jornal La Jornada, na Cidade do México “prevalece um clima festivo, ao ritmo de banda regional e chocalhos”..
Imagens que circulam nas redes sociais também mostram manifestantes mexicanos segurando bandeiras palestinas em solidariedade ao povo vitimado pelo genocídio de Israel na Faixa de Gaza e em territórios ocupados.
En la Ciudad de México jóvenes embozados, ajenos a la marcha de organizaciones laborales, realizan actos vandálicos en la manifestación por el Día Internacional del Trabajo. pic.twitter.com/IaAwZCPosR
— Joaquín López-Dóriga (@lopezdoriga) May 1, 2025
Primeiro Dia do Trabalhador sob gestão Orsi no Uruguai
A redução da jornada de trabalho para 40 horas, reajuste salarial, a luta contra a violência de gênero e uma aposentadoria digna foram as demandas que levantadas pelos manifestantes no Uruguai, em manifestações convocadas pela central sindical Plenário Intersindical de Trabalhaadores – Convenção Nacional de Trabalhadores (PIT-CNT).
Em Montevidéu, a marcha principal reuniu milhares de trabalhadores e contou com a presença do presidente Yamandú Orsi, da vice-presidente Carolina Cosse e do secretário da Presidência, Alejandro Sánchez.
“Este Primeiro de Maio é particular porque acaba de ser instalado um novo governo, mas também porque é necessário rever o que o anterior nos deixou. Processou-se uma austeridade brutal contra o povo, que se tentou esconder com os efeitos da pandemia”, disse a representante da Confederação de Organizações de Funcionários do Estado, Lorena Luján, em crítica ao governo conservador do ex-presidente Luis Lacalle Pou.
Os protestos desta quinta-feira também incluíram a participação da Associação de Mães e Familiares de Detentos e Desaparecidos, em um gesto que vincula a memória histórica às lutas atuais.

X/@sebas166019
Protestos na França com confrontos
Mais de 300 mil pessoas foram às ruas na França, incluindo 100 mil em Paris, para comemorar o Dia do Trabalhador, conforme as estimativas da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), um dos principais sindicatos franceses. Segundo a entidade, houve cerca de 270 manifestações em todo o país.
Embora as autoridades francesas ainda não tenham divulgado o balanço oficial, a polícia relatou que 29 pessoas foram presas na capital.
Os protestos no país europeu foram marcados por violência. O Partido Socialista denunciou que alguns de seus militantes sofreram agressões ao longo do dia. De acordo com a emissora francesa RFI, “manifestantes vestidos de preto, alguns carregando bandeiras antifascistas, empurraram membros do partido que estavam em um estande no trajeto da manifestação”.
O incidente foi repudiado pelo líder do Partido Socialista, Olivier Faure, na plataforma X, que afirmou que nunca aceitará “a violência de fanáticos que não servem a nenhuma causa e destroem as lutas coletivas”.
Par leurs méthodes les black blocs discréditent les combats qu’ils prétendent porter. Ils servent d’idiots utiles à tous ceux qui rêvent de transformer la foule des travailleurs en meute violente qu’il faudrait contenir.
Merci @Benjam1Lucas, nous ne céderons Nous ne nous… https://t.co/9ByO6uk7qk
— Olivier Faure (@faureolivier) May 1, 2025
Segundo a RFI, “as acusações de ‘traição’ são recorrentes contra o PS dentro da esquerda radical e da extrema esquerda, desde a decisão do partido de não votar as moções de censura contra o ex-primeiro-ministro François Bayrou, no ano passado”.
No início do dia, trabalhadores e ativistas foram às ruas nas manifestações convocadas por sindicatos como a CGT e a Confederação Democrática Francesa do Trabalho (CFDT), exigindo mais respeito aos direitos trabalhistas, como melhores salários e proteção aos aposentados.
Em Paris, a marcha principal se iniciou no período vespertino, nas praças da Itália e da Nación. Por meio de slogans como “Pela paz, nossos aposentados e nossos salários”, os franceses também incluíram seu repúdio às medidas da gestão Trump que afetam o mundo e às modificações no Código do Trabalho francês.
Os protestos começaram nas primeiras horas em cidades como Marselha, Lille, Bordeaux e Estrasburgo, onde confrontos entre manifestantes e policiais foram relatados em Lille e Lyon.
A CGT relatou cerca de 260 mobilizações em território francês e descreveu o dia como um 1º de Maio “festivo e combativo”.
Excellent 1er mai à tous !
À tous les résistants en particulier !
Un 1er mai placé sous le signe des luttes pour notre libération nationale !
Un 1er mai de combat pour le #Frexit l’avenir, l’espoir et la France ! 🇫🇷
➡️ Voyez cette magnifique vidéo de manif dimanche dernier :… pic.twitter.com/bzoPLXljJ8
— Florian Philippot (@f_philippot) May 1, 2025
Itália: ‘mortes no trabalho estão aumentando’
Na Itália, os sindicatos como Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL), Confederação Italiana dos Sindicatos dos Trabalhadores (CISL) e União Italiana do Trabalho (UIL) realizaram manifestações em várias cidades do país para exigir que o governo garanta maior segurança no local de trabalho.
#PrimoMaggio, la Filca è presente con una delegazione a #Casteldaccia, con la segretaria generale #Cisl Daniela Fumarola. Ottavio De Luca: “Se non è sicuro non è lavoro! Bisogna fermare questa terribile, inaccettabile scia di sangue, una ferita per tutta la società” #1M2025 pic.twitter.com/YDM0Mo6ZlK
— Filca Cisl Nazionale (@FilcaCisl) May 1, 2025
Os protestos se concentraram em Roma, Montemurlo, onde um trabalhador morreu em 2021, e Casteldaccia, cenário de cinco mortes recentes em uma banheira industrial.
“Está claro que o governo não está cumprindo seu dever porque as mortes no trabalho estão aumentando, não diminuindo. E elas crescem porque os acidentes também crescem. Estamos enfrentando um verdadeiro massacre que deve ser interrompido”, afirmou Maurizio Landini, secretário-geral da CGIL.
Por sua vez, a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni de extrema direita garantiu que o emprego é um “pilar fundamental” de sua administração e prometeu “mais recursos, controles e incentivos para a segurança no emprego”.
“Um compromisso concreto que continua é o de segurança, com mais recursos, mais controles e incentivos e um forte impulso em termos de prevenção e treinamento. Ainda há muito a fazer, mas a direção é clara”, declarou a premiê por redes sociais.
No entanto, Daniela Fumarola, secretária da CISL, questionou a qualidade do emprego na Itália, especialmente para mulheres, jovens e trabalhadores no sul do país.
Nelle piazze del primo maggio con Daniela Fumarola segretaria generale a Casteldaccia e con Enrico Coppotelli segretario generale della Cisl Lazio a Roma, la Cisl medici è presente con le proprie delegazioni. Il reggente nazionale Ignazio Ganga partecipa alla giornata di Roma. pic.twitter.com/5hfManvniQ
— CISL Medici Nazionale (@CislMedici) May 1, 2025
Grécia paralisada
Na Grécia, sindicatos do setor ferroviário e marítimo a aderiram a uma greve geral de 24 horas, paralisando os serviços de transporte público e bloqueando portos em meio à temporada de alta no turismo. Os setores reivindicam aumentos salariais e melhorias nas condições de trabalho.
A Federação Marítima Pan-helênica (PNO), que é o principal sindicato dos marítimos, exigiu, por meio de comunicado, “a contratação de todos os colegas desempregados, a eliminação do trabalho não declarado, a assinatura de acordos coletivos de trabalho em todas as categorias de navios” e atendimento médico adequado para a tripulação.
Em Atenas, os sindicatos da Confederação Geral dos Trabalhadores Gregos (GSEE) e Confederação dos Funcionários Públicos (ADEDY) o Centro de Trabalho de Atenas convocaram uma marcha que reuniu cerca de 7.000 pessoas. Segundo o jornal grego Proto Thema, os manifestantes se reuniram em frente ao Parlamento, expressando mensagens de “dignidade no local de trabalho, salários justos, qualidade de vida”
Na capital, o transporte ferroviário intermunicipal também foi suspenso. Além de contratações permanentes, a categoria sugere a modernização urgente das estradas. Em 28 de fevereiro de 2023, um total de 57 pessoas morreram depois que um trem de passageiros e um trem de carga colidiram porque uma seção da via não tinha sistemas de segurança.

Giorgos Kontarinis/Eurokinissi/Reprodução
(*) Com Brasil de Fato, RFI e Telesur
