Apesar da estratégia do governo Lula de incentivo às relações Sul-Sul, do Brasil com outros países em desenvolvimento, o aumento das relações comerciais com a África Subsaariana nos últimos anos foi puxada somente pela alta nos preços do petróleo e derivados. Para tentar reverter essa situação e alavancar negócios, parcerias e investimentos brasileiros na região, principalmente ligados ao agronegócio, biocombustíveis e à cadeia de máquinas e equipamentos para o setor, governo e entidades empresariais promovem nesta semana dois grandes eventos e uma missão comercial.
Hoje (9) e amanhã será realizada em Dacar, capital do Senegal, a Exposição Brasil Agri-Solutions, feira organizada pela Apex-Brasil com participação de 25 empresas brasileiras dos setores de máquinas e equipamentos agrícolas, biocombustíveis e alimentos industrializados. Em paralelo à feira, o Ministério das Relações Exteriores promove o Fórum Brasil-África Subsaariana: Empreendedorismo para o Desenvolvimento. Participará dos eventos a missão comercial liderada pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, que passará também por Gana, Nigéria e Guiné Equatorial.
O foco da ação engloba 16 países da África Subsaariana: Benin, Burquina Faso, Cabo Verde, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Mauritânia, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa, Togo. Para os eventos em Dacar são esperados cerca de 400 empresários e representantes de governos dos 16 países da região. “O evento é fechado e o público bastante selecionado, queremos reunir somente pessoas com poder de decisão em empresas e nos governos”, destacou o gerente de projetos da Apex-Brasil para a África e Oriente Médio, Diogo Akitaya.
Já a missão liderada pelo ministro Miguel Jorge, que partiu no último domingo (7), conta com cerca de 90 empresários brasileiros dos setores de alimentos e bebidas, máquinas e equipamentos, tecnologia da informação, têxteis, calçados, energia, defesa, infraestrutura e mineração.
Os mercados da região, apesar de serem relativamente pequenos, têm enorme potencial de crescimento, um fator fundamental em um momento de crise e retração do consumo e da produção na maior parte do mundo. Akitaya explica que o objetivo da Apex-Brasil é reforçar, na África Subsaariana, a imagem do Brasil como opção de fornecedor em relação aos exportadores europeus, mais consolidados na região em função dos laços coloniais ainda recentes. “Nos posicionamos geralmente com produtos mais baratos e de qualidade semelhante aos europeus. Podemos ganhar mercado assim, os produtos brasileiros são bem aceitos na África”, afirmou.
Comércio concentrado
Apesar dos esforços de promoção comercial nos últimos anos, os números mostram que as exportações brasileiras para a região ainda são puxadas pelo setor petrolífero. Entre 2003 e 2008, as vendas externas brasileiras aumentaram 170,4%, enquanto os embarques para as 16 nações da África Subsaariana cresceram 238,3%, chegando a 2,59 bilhões de dólares no ano passado.
Esse bom resultado, porém, se deve somente ao aumento do preço dos derivados de petróleo. Excluindo os embarques desses produtos, basicamente gasolina, o incremento das vendas brasileiras para a região foi também de 170%, dentro da média geral. Além dos combustíveis, os produtos mais vendidos pelo Brasil para a África Subsaariana em 2008 foram açúcar, arroz, carne de frango e óleo de soja.
O embaixador da Nigéria no Brasil, Kayode Garrick, embora também fale na possibilidade de o Brasil ampliar suas exportações para a Nigéria, pede que os empresários brasileiros olhem mais para o potencial de investir e produzir no país. “Nos últimos anos temos recebidos muitos investimentos, principalmente de companhias da China, Índia, África do Sul e Malásia. Esperamos que o Brasil também venha a ocupar um lugar de destaque”, afirmou. Além do setor agropecuário, destacou Garrick, vêm recebendo grande volume de aportes externos na Nigéria os segmentos de telecomunicações, turismo, construção e infraestrutura.
“Temos uma grande necessidade de ampliar a geração de energia elétrica. O Brasil, por ter experiência e tecnologia nesse setor, pode participar”, disse. Segundo o embaixador, a Nigéria planeja ampliar sua capacidade de geração de eletricidade entre 15 mil e 20 mil MW (Megawatts)) nos próximos 10 anos. No Brasil, a carga de energia média passou de 38 mil MW em 1998 para 51 mil MW no ano passado – ou seja, um crescimento de 13 GW em uma década, abaixo da expansão planejada pelos nigerianos.
Embora o país seja grande produtor e exportador de petróleo, há interesse em diversificar as fontes de energia, com maior uso da hidroeletricidade e também dos biocombustíveis, explicou o embaixador.
Com quase 150 milhões de habitantes, a Nigéria é a maior economia da região, registrando um PIB (Produto Interno Bruto) de 214,4 bilhões de dólares em 2008. Os nigerianos são também os maiores clientes do Brasil na região. Foram 1,54 bilhão de dólares exportados no ano passado, 59,2% do que o Brasil vendeu aos 16 países da África Subsaariana. No entanto, 49,6% das vendas à Nigéria foram somente de gasolina.
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