Brasil lamenta tarifas impostas pelos EUA, mas fala em defender 'interesses' nacionais
Governo Lula avalia 'possibilidades de ação' para assegurar 'reciprocidade no comércio bilateral' após a gestão Trump impor tarifas de 10%
O governo brasileiro reagiu às medidas comerciais adotadas pelos Estados Unidos na tarde de quarta-feira (02/04). No começo da noite, Brasília divulgou uma nota conjunta dos Ministérios das Relações Exteriores e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
No documento, o governo Lula lamentou a decisão tomada pela gestão de Donald Trump em impor tarifas adicionais no valor de 10% a todas as exportações brasileiras para aquele país. “A nova medida, como as demais tarifas já impostas aos setores de aço, alumínio e automóveis, viola os compromissos dos EUA perante a Organização Mundial do Comércio e impactará todas as exportações brasileiras de bens para os EUA”, diz o texto.
O Brasil está entre os países que tiveram a menor faixa de acréscimo (10%) da extensa lista de Trump, ao lado da Argentina, Austrália, Chile, Colômbia, Reino Unido, Singapura e Turquia. Os 10%, porém, se somam à série de taxas anunciadas pelo governo republicano desde a chegada da extrema direita ao poder nos Estados Unidos.

‘Todas as exportações brasileiras para os EUA serão afetadas’, afirma nota do Brasil
Não são “apenas” 10%
Os 10% nas exportação para os Estados Unidos se somam às tarifas já implementadas por Washington, como as taxas adicionais de 20% sobre todas as importações chinesas, de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio, de 10% sobre as importações de energia do Canadá e a tarifa, que entra em vigor nesta quinta-feira (03/04), de 25% sobre todos os veículos (e eventualmente autopeças) importados.
Afirmando que “buscará, em consulta com o setor privado, defender os interesses dos produtores nacionais junto ao governo dos Estados Unidos”, o Palácio do Planalto destacou que “os EUA registram recorrentes e expressivos superávits comerciais em bens e serviços com o Brasil ao longo dos últimos 15 anos, totalizando 410 bilhões de dólares”.
Apontou também que “a imposição unilateral de tarifa linear adicional de 10% ao Brasil com a alegação da necessidade de se restabelecer o equilíbrio e a ‘reciprocidade comercial’ não reflete a realidade”.
Países mais taxados
Contra a China, os Estados Unidos aplicaram uma taxa de 34%, que se soma às tarifas de 20% sobre as importações do país, atingindo 54%. A União Europeia, por sua vez, receberam um acréscimo de 20% em suas exportações para os Estados Unidos. Canada e o México não constam na lista apesar da ameaça de uma tarifa de 25%, ainda em negociação.
Leia a nota do Brasil na íntegra:
O governo brasileiro lamenta a decisão tomada pelo governo norte-americano no dia de hoje, 2 de abril, de impor tarifas adicionais no valor de 10% a todas as exportações brasileiras para aquele país. A nova medida, como as demais tarifas já impostas aos setores de aço, alumínio e automóveis, viola os compromissos dos EUA perante a Organização Mundial do Comércio e impactará todas as exportações brasileiras de bens para os EUA.
Segundo dados do governo norte-americano, o superávit comercial dos EUA com o Brasil em 2024 foi da ordem de US$ 7 bilhões, somente em bens. Somados bens e serviços, o superávit chegou a US$ 28,6 bilhões no ano passado. Trata-se do terceiro maior superávit comercial daquele país em todo o mundo.
Uma vez que os EUA registram recorrentes e expressivos superávits comerciais em bens e serviços com o Brasil ao longo dos últimos 15 anos, totalizando US$ 410 bilhões, a imposição unilateral de tarifa linear adicional de 10% ao Brasil com a alegação da necessidade de se restabelecer o equilíbrio e a “reciprocidade comercial” não reflete a realidade.
Em defesa dos trabalhadores e das empresas brasileiros, à luz do impacto efetivo das medidas sobre as exportações brasileiras e em linha com seu tradicional apoio ao sistema multilateral de comércio, o governo do Brasil buscará, em consulta com o setor privado, defender os interesses dos produtores nacionais junto ao governo dos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo em que se mantém aberto ao aprofundamento do diálogo estabelecido ao longo das últimas semanas com o governo norte-americano para reverter as medidas anunciadas e contrarrestar seus efeitos nocivos o quanto antes, o governo brasileiro avalia todas as possibilidades de ação para assegurar a reciprocidade no comércio bilateral, inclusive recurso à Organização Mundial do Comércio, em defesa dos legítimos interesses nacionais.
Nesse sentido, o governo brasileiro destaca a aprovação pelo Senado Federal do Projeto de Lei da Reciprocidade Econômica, já em apreciação pela Câmara dos Deputados.
