O governo brasileiro enviou uma carta à União Europeia (UE) nesta quarta-feira (11/09) solicitando a suspensão da implementação da lei antidesmatamento, que entrará em vigor em dezembro de 2024. O documento pede que o bloco europeu “reavalie urgentemente sua abordagem sobre o tema”.
“O Brasil é um dos principais fornecedores para a UE da maioria dos produtos objetos da legislação, que correspondem a mais de 30% de nossas exportações para o bloco comunitário”, diz o documento assinado pelos ministros das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro.
Segundo as estimativas brasileiras, o Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento (EUDR) aprovado pelo Parlamento europeu pode ter um impacto de quase US$ 15 bilhões em exportações.
Na mensagem, os ministros brasileiros classificam o projeto como “um instrumento unilateral e punitivo que ignora as leis nacionais sobre combate ao desmatamento” e argumentam que a decisão contém “aspectos extraterritoriais que contrariam o princípio da soberania”.
“A EUDR foi desenhada sem conhecimento de como funciona o processo produtivo e exportador dos diferentes produtos e qual é a realidade em cada país”, afirma a carta, lembrando que o governo e os produtores brasileiros estiveram em Bruxelas para manifestar os problemas relacionados à legislação e desafios operacionais para implementação, mas não foram ouvidos.
A implementação da legislação no fim do ano coincide com a intenção do Mercosul e da UE de fecharem um acordo comercial. Na semana passada, negociadores europeus retomaram as conversas em Brasília. O tratado começou a ser negociado há mais de duas décadas, no entanto, ficou travado em decorrência de “contradições internas” por parte do bloco europeu, conforme o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Fontes ouvidas pela agência Reuters relataram, sem fornecer detalhes, que houve avanços significativos referentes às áreas ambiental e de compras governamentais.
A UE e o Mercosul apontam que a negociação do bloco e a EUDR são questões separadas. No entanto, o governo brasileiro avalia um risco dos europeus usarem a lei, caso implementada, para reduzir ainda mais a cota de produtos agrícolas do país a serem exportados.
Sobre a Lei Antidesmatamento
Aprovada no dia 19 de abril pelo Parlamento Europeu, a lei determina a proibição da importação de produtos provenientes de áreas com qualquer nível de desmatamento identificado até dezembro de 2020 – seja legal ou ilegal.
O EUDR incide sobre diversos produtos constantes na cadeia produtiva brasileira, com exceção do óleo de palma, não exportado pelo país. A legislação engloba itens como soja, café, carne, cacau, papel, celulose, madeira e borracha.
De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária, entre as principais punições da determinação estão a suspensão do comércio importador, a apreensão ou completa destruição de produtos, além de multas em dinheiro correspondentes a até 4% do valor anual arrecadado pela operadora responsável.
(*) Com Ansa