A crise que abateu o mercado de trabalho japonês tem feito muitos imigrantes apelarem para a criatividade na hora de equilibrar o orçamento. O paulistano Rodolfo Yamazaki, 51 anos, está entre os que encontraram uma forma curiosa de driblar os tempos difíceis na Terra do Sol Nascente: sua nova atividade é transportar até o aeroporto brasileiros que foram demitidos das fábricas e agora estão voltando para casa.
“Não somos oportunistas. É na crise que surgem as grandes ideias”, diz ele, que comprou duas vans com a ajuda de um sócio e decidiu investir no serviço após perder, assim como milhares de estrangeiros, o emprego que tinha como motorista de uma agência de terceirização de mão-de-obra. Rodolfo está há 12 anos no Japão, sete deles sem visitar o Brasil.
“Entre dezembro e janeiro houve um pânico generalizado, todo mundo queria ir embora. A gente fazia de uma a duas viagens por dia. Agora, são cerca de três por semana”, destaca o paulistano, que ganha cerca de 500 dólares para transportar um grupo de quatro pessoas da cidade de Hamamatsu até o Aeroporto Internacional de Narita, na região metropolitana de Tóquio. Para manter as contas em dia, ele também faz trabalhos como fotógrafo e se dedica a um site de eventos.
No caso da loja de produtos brasileiros Styllu’s, a oportunidade surgida em meio à crise foi investir na venda de sacolões de viagem, item que se tornou indispensável entre os que estão arrumando as malas rumo ao Brasil. Marcos Miura, administrador da empresa, revela que chegou a vender 1,5 mil unidades por mês no início deste ano. Antes da recessão abater o país, esse número não passava de 40. “O sacolão é mais barato do que uma mala de fibra, mais leve e dá para colocar bastante coisa dentro”, enumera Miura, que lançou até uma promoção no site da marca para impulsionar o comércio dessas bolsas.
Passagens só de ida
As agências de viagem que atendem a comunidade latina no Japão também têm registrado um movimento atípico por conta da crise. O gerente de marketing da Citytour Passagens Aéreas, André Kobayashi, afirma que a emissão de passagens com destino ao Brasil cresceu entre 30% e 40% no primeiro trimestre deste ano.
Segundo ele, a maioria das vendas realizadas nas 38 lojas da rede tem sido de bilhetes só de ida – que custam, em média, mil dólares. “Fizemos até plantão na loja de Nagóia”, comenta Kobayashi, que calcula a emissão de aproximadamente 150 passagens ao Brasil por mês, em cada uma das unidades da agência.
De acordo com o gerente da Citytour, o pagamento das parcelas do seguro-desemprego reduziu o ritmo das viagens em abril. Mas com o programa de retorno voluntário lançado pelo governo do Japão – que doará 3 mil dólares a cada imigrante desempregado que deixar o país, com o acréscimo de 2 mil dólares por dependente –, Kobayashi acredita que haverá um aumento na procura por bilhetes. “As companhias aéreas também reduziram o preço da taxa de combustível, o que baixou o preço das passagens”, acrescenta.
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