Vários foguetes foram lançados nesta segunda-feira (30/08) contra o aeroporto internacional de Cabul, no penúltimo dia da presença das tropas dos Estados Unidos no Afeganistão. Os norte-americanos aceleram a operação para concluir a retirada de pessoas do país em clima de ameaças de novos ataques.
Um ex-funcionário do Departamento de Segurança do governo afegão, derrubado pelos talibãs há duas semanas, informou que os foguetes foram lançados a partir de um veículo na zona norte de Cabul, onde fica o aeroporto. Moradores das proximidades do aeroporto afirmaram que ouviram o som da ativação do sistema de defesa de mísseis e que viram estilhaços caindo do céu, indicando que ao menos um foguete foi interceptado.
A Casa Branca confirmou o ataque com foguetes contra o aeroporto e destacou que a retirada prossegue sem interrupção. Por sua vez, o Estado Islâmico reivindicou a autoria do ataque.
As tropas norte-americanas se concentram neste momento em remover todos os militares e diplomatas dos Estados Unidos do país. “O presidente Biden (…) voltou a confirmar a ordem para que os comandantes redobrem os esforços para fazer o que for necessário para proteger nossas forças no local”, afirmou a Casa Branca em um comunicado.
Penúltimo dia
O presidente norte-americano, Joe Biden, estabeleceu a terça-feira 31 de agosto como data-limite para a retirada das tropas do Afeganistão. O marco significará o fim de duas décadas de uma operação militar iniciada como represália pelos atentados de 11 de setembro.
O retorno do movimento fundamentalista islâmico Talibã ao poder, do qual haviam sido afastados em 2001, desencadeou uma tentativa desesperada de fuga de afegãos do país. Os voos foram organizados pelos países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos. Eles permitiram a retirada de mais de 114.000 pessoas do aeroporto de Cabul.
As operações terminam oficialmente nesta terça-feira (31/08), mas vários países já concluíram suas missões. Algumas potências, como França e Reino Unido, pedem a criação de uma “zona protegida” em Cabul, sob controle da ONU, para a realização de operações humanitárias. Mas o Talibã já rejeitou a proposta.
U.S. Marine Corps photo by Sgt. Samuel Ruiz
Aeroporto de Cabul foi alvo de ataque com foguetes nesta segunda
Ameaça do Estado Islâmico
O grupo Estado Islâmico (EI), rival dos talibãs, representa uma grande ameaça na reta final da retirada, como demonstrou o ataque suicida contra o aeroporto na quinta-feira (26/08) passada. O duplo atentado matou mais de 100 pessoas, incluindo 13 soldados norte-norte-americanos.
Biden advertiu para a elevada probabilidade de novos atentados. O exército norte-americano realizou no domingo (29/08) um ataque aéreo contra um carro-bomba em Cabul. O veículo foi atingido por um drone a dois quilômetros do aeroporto da capital afegã.
Um porta-voz talibã confirmou que o carro cheio de explosivos, que seguia para o aeroporto, foi destruído. Os talibãs também informaram que um suposto segundo ataque atingiu uma casa.
Morte de civis
Ao longo dos 20 anos de guerra no Afeganistão, as tropas dos Estados Unidos foram acusadas de matar civis em seus ataques aéreos. Esse foi um dos motivos que provocaram a perda do apoio local. No domingo, a ação americana pode ter atingido novamente civis.
“Recebemos relatos de vítimas civis após o nosso ataque contra um veículo em Cabul”, afirmou em um comunicado o capitão Bill Urban, porta-voz do Comando Central militar norte-americano. Urban disse que as explosões foram “potentes” e que o exército investiga ainda se elas provocaram mortes entre civis. “Nos deixaria profundamente tristes qualquer perda de vida inocente”, afirmou.
Nos últimos anos, o braço do EI no Afeganistão e Paquistão executou alguns dos ataques mais violentos nestes países, com massacres de civis em mesquitas, praças, escolas e hospitais.
Embora o grupo Estado Islâmico e o Talibã sejam grupos sunitas radicais, os dois mantêm uma grande rivalidade. Ambos reivindicam que representam a verdadeira jihad (“guerra santa”).
O atentado de quinta-feira, a ação mais violenta contra os Estados Unidos no Afeganistão desde 2011, provocou um reforço da cooperação entre as forças norte-americanas e os talibãs para proteger o aeroporto. No sábado (28/08), combatentes talibãs escoltavam um fluxo constante de afegãos dos ônibus até o terminal de passageiros, onde as pessoas eram entregues a soldados norte-americanos para a retirada.
Retorno do líder talibã
O Talibã, que abrigou no passado a rede terrorista Al-Qaeda, “promete” uma versão mais “moderada” do regime fundamentalista que impôs no Afeganistão entre 1996-2001.
Muitos afegãos, especialmente aqueles que trabalharam com as missões estrangeiras ou para o governo destituído, temem a nova versão talibã. Milhares já conseguiram deixar o país na operação de retirada organizada pelas potências ocidentais, mas muitos ainda tentam fugir nos últimos voos norte-norte-americanos.
No domingo, os talibãs anunciaram que seu líder supremo, Hibatullah Akhundzada, está em Kandahar, sul do Afeganistão, e planeja fazer uma aparição pública em breve.