Campanha de alemães ricos pede mais impostos, não menos
Campanha de alemães ricos pede mais impostos, não menos
Parece brincadeira, mas é pura verdade: um grupo de milionários alemães lançou uma campanha para pagar mais impostos sobre seus bens. O movimento Appell für Eine Vermögensabgabe (apelo ao imposto sobre propriedade) foi fundado em meados deste ano pelo médico aposentado Dieter Lehmkuhl, de 66 anos, para ajudar o país a sair da crise financeira mundial.
“Não pedimos mero idealismo, mas uma ação baseada na racionalidade econômica e no senso de justiça social”, disse Lehmkuhl ao Opera Mundi.
A idéia surgiu por conta do duro impacto da crise no país. A economia alemã está em recessão, a taxa de desemprego permanece acima de 7%. Segundo Lehmkuhl, cerca de 30% da força de trabalho estão desempregados, subempregados ou em vagas temporárias, ou então depende dos benefícios estatais. Além disso, a desigualdade social está em ascensão. “Em quase nenhum outro país o número de milionários aumentou tanto quanto na Alemanha”, diz o ativista.
Por isso, o grupo propõe que os 3% mais ricos do país – cerca de 2,2 milhões de alemães que possuem mais de 500 mil euros (1,2 milhão de reais) – paguem 5% de seu patrimônio durante dois anos, irrigando os cofres públicos com 100 bilhões de euros.
Segundo a proposta, depois do “empurrãozinho inicial” seria reintroduzido o imposto de 1% sobre o patrimônio, suprimido em 1997 durante o governo do conservador Helmut Kohl.
A receita serviria para patrocinar um “novo pacto verde” com a reestruturação da economia para dar maior ênfase à sustentabilidade, à educação e ao bem-estar social.
Crescimento
Desde a fundação, por 21 pessoas, o número de participantes do movimento praticamente dobrou, chegando a 45, mesmo com pré-requisitos bem criteriosos. Para serem aceitos, os candidatos têm que comprovar bens superiores a 500 mil euros e pagar uma cota de 200 euros.
“Achamos que os ricos devem arcar com a maior parte do prejuízo causado pela crise financeira. É muito injusto que o público em geral pague por isso, sendo que não contribuíram para a crise nem lucraram com o boom que a precedeu”, diz o médico, que chama a Alemanha de “um quase paraíso fiscal”.
A porcentagem do PIB alemão proveniente de impostos patrimoniais é somente 0,9%, contra 4,5% no Reino Unido e 3,4% na França.
Fã confesso do Estado de bem-estar social, que chama de “uma das maiores conquistas da civilização”, Lehmkuhl ataca as políticas neoliberais, adotadas no país nas últimas décadas, que teriam gerado desigualdades sociais e econômicas inaceitáveis. “Eu não quero viver num país de cidades muradas, com altas taxas de criminalidade e péssimo acesso a serviços públicos, onde a periferia está em chamas porque os jovens não vêem chances para o futuro”.
Opinião pública
A iniciativa já chamou a atenção da mídia. Desde meados de outubro, quando fez um protesto no parque Tiergarten, em Berlim, atirando dinheiro falso para o alto, Lehmkuhl e seus colegas não param de dar entrevistas. “Claro, muito do interesse vem do fato de estarmos quebrando um tabu, já que pouca gente imagina que ricos possam querer pagar mais impostos voluntariamente”, explica.
A campanha obteve ainda a simpatia de políticos do Partido Verde e dos social-democratas – embora reafirme sua independência de qualquer partido. Há alguns meses, conseguiu também provar sua popularidade nas ruas. Uma enquete encomendada ao instituto de pesquisas Emnid mostrou que 57% dos entrevistados apoiavam a volta do imposto sobre patrimônio.
Mesmo assim, a iniciativa ainda não conseguiu atrair as maiores fortunas da Alemanha. “Não temos muito contatos com eles”, admite Lehmkuhl. “Como os grupos de milionários são muito exclusivos, alguns podem ter receio de ficarem mal-vistos”.
Agora, convencê-los é uma tarefa fundamental. “O maior vácuo que existe no país não é entre alemães orientais e ocidentais, ou entre nacionais e estrangeiros, mas entre aqueles que percebem que a riqueza tem uma responsabilidade social e aqueles que não querem ver isso”, diz o médico.
“É como falou Gandhi: há o bastante no mundo para todas as necessidades humanas, mas não para sua cobiça”, filosofa Lehmkuhl.
O website da campanha (em alemão) pode ser conferido aqui.
NULL
NULL
NULL
























