“Sim, pelo grande Lula até visto terno e gravata. Isso sim é heróico”. A frase é do candidato uruguaio da coalizão de esquerda Frente Ampla, José Mujica, escrita em um dos artigos publicados em seu blog Pepe Tal Cual Es. Nela, ele se refere à sua ida a uma das alfaiatarias mais famosas de Montevidéu, onde provou um terno cinza. Pela primeira vez em sua vida de guerrilheiro, floricultor e político ele usará um terno deste tipo, em ocasião que elegeu como uma das mais especiais: a reunião que terá no próximo dia 5 de agosto com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto.
Além de conversar sobre a campanha eleitoral do Uruguai e as relações com a América Latina, Mujica pedirá ao Brasil que “libere créditos” para a compra de maquinário para a produção uruguaia, disse o candidato ao Opera Mundi.
Desde o início da campanha, há um ano, Mujica se distanciou de outros presidentes da região, como o venezuelano Hugo Chávez. A oposição política, formada pelo Partido Nacional e Partido Colorado, tentou por várias vezes colocá-lo no que considera “eixo do mal”, onde estão países como Bolívia, Equador e Venezuela.
Quando a Frente Ampla propôs em seu programa de governo convocar uma Assembléia Nacional Constituinte, acusaram Mujica de querer “refundar” o país ao estilo de Evo Morales, da Bolívia, e Rafael Correa, do Equador.
A direita também destacou o bom relacionamento que Mujica mantém com o ex-presidente argentino Néstor Kirchner, com o qual já se reuniu várias vezes nos últimos meses.
Mas o ex-guerrilheiro surpreendeu a si próprio e aos outros quando questionou duramente Kirchner em seu blog, onde pediu que o governo argentino libere um bloqueio mantido por três anos a um grupo de argentinos ativistas que protestava contra a instalação de uma fábrica de celulose na margem uruguaia do rio que une, ou separa, neste caso, os dois países.
E para não deixar dúvidas, Mujica anunciou, em abril, quem será seu exemplo na região. “Lula não tem feito nenhuma revolução, mas deu dignidade e esperança a 50 milhões de pessoas que estavam na miséria. E, ao mesmo tempo em que cumpria esta enorme meta solidária, fortalecia a economia brasileira. Admiro e me identifico com Lula”, disse o candidato em seu blog.
Opositores
A oposição não questiona a identificação de Mujica a Lula. “Acredito que Lula tem marcado uma linha de ação coerente na política internacional, diferentemente do que tem tentado outros países da região”, disse Francisco Gallinal, senador do Partido Nacional, em entrevista ao Opera Mundi.
No entanto, a direita uruguaia entende que o Mercosul não deve ser um mecanismo de integração política, como prega Lula. O candidato presidencial do Partido Nacional e ex-presidente Luis Alberto Lacalle questionou o presidente brasileiro, que foi o primeiro a enfatizar a importância da integração política.
O candidato do Partido Colorado, Pedro Bordaberry, entende, inclusive, que o Uruguai deveria passar de membro pleno do bloco do Mercosul para membro associado.
A oposição também considera que as relações entre os países da região não deve ser em função de igualdade de convicções, e critica a identificação que Mujica pretende fazer à figura de Lula. “Seria um erro tentar trazer para a campanha eleitoral uruguaia afinidades ideológicas com presidentes e partidos da região. As afinidades ideológicas se perdem diante dos interesses econômicos. Por exemplo, este governo não tem um bom diálogo com a Argentina, porque não interessa a Kirchner defender os interesses do país”, comentou Gallinal.
O senador anunciou que o Partido Nacional também prevê uma visita ao Brasil e, possivelmente, uma reunião com Lula. “Mas não vamos buscar afinidades ideológicas. Nós, do Uruguai, temos que aplicar nossas próprias receitas”, considerou.
As eleições uruguaias serão realizadas em 25 de outubro.
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