Um conjunto de cartas e fotos de domínio público arquivadas na Biblioteca Nacional da Polônia revela a intensa amizade que o falecido papa João Paulo II manteve com a filósofa polonesa Anna-Teresa Tymieniecka, informou nesta segunda-feira (15/02) a BBC.
As mensagens mostram que o religioso manteve uma estreita relação com a filósofa durante mais de 30 anos, iniciada antes de ele se tornar pontífice. A emissora, que teve acesso a parte das correspondências íntimas, disse que as cartas não permitem afirmar que o papa quebrou o celibato.
A aproximação de Karol Wojtyla e Anna-Teresa começou quando ela entrou em contato com o então cardeal e arcebispo de Cracóvia, em 1973, para lhe consultar sobre um livro de filosofia que ele tinha escrito. Como morava nos Estados Unidos, ela viajou à Polônia para que eles analisassem o material e depois disso começaram as correspondências.
Arquivo Agência Efe
Karol Wojtyla, então papa João Paulo II, saúda multidão durante visita a Madri em 2003
Ambos se encontraram várias vezes, frequentemente a sós, para trabalhar numa versão ampliada no livro do cardeal “The Acting Person” (“A pessoa atuante”, em tradução livre). A amizade foi-se aprofundando e chegou a tornou-se um conflito emocional, segundo a BBC.
Em 1974, João Paulo II escreveu que releu quatro cartas da amiga porque eram “significativas e profundamente pessoais”.
A BBC também teve acesso a fotos em que aparecem juntos Karol Wojtyla e a filósofa, durante um acampamento.
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Em 1976, o então cardeal participou de uma conferência de bispos nos Estados Unidos e Anna-Teresa convidou-o para ficar na casa de campo da sua família em Vermont. Segundo a BBC, é possível que nessa visita ela tenha revelado a ele “intensos sentimentos”, pois a carta seguinte escrita por ele sugere um homem em luta para lidar com a amizade que mantinham.
“Minha querida Teresa, recebi todas as três cartas. Você escreve sobre estar arrasada, mas não consegui encontrar resposta a essas palavras”, escreve Wojtyla em carta datada em setembro de 1976.
Ele também a descreve como um “presente de Deus” e, numa carta escrita a 10 de setembro de 1976, ele a presenteia com um escapulário.
“Eu pertenço a você e, finalmente, antes de partir da Polônia, encontrei uma maneira, um escapulário. A dimensão na qual aceito e sinto você em todo o lugar em todos os tipos de situações, quando você está perto e quando está distante”, escreveu o papa, segundo a BBC.
Após se tornar papa, Woytila escreveu mais algumas mensagens. Numa delas dizia: “Escrevo após o evento, para que a correspondência entre nós continue. Prometo que me lembrarei de tudo nesse novo estágio da minha jornada”.
A rede britânica afirma que não teve acesso às cartas escritas pela filósofa, embora acredite-se que elas estejam numa coleção vendida pela própria Anna-Teresa à Biblioteca Nacional da Polônia em 2008, seis anos antes da sua morte. A Biblioteca não confirmou ter tais mensagens, mas ressaltou que a relação entre ambos não foi incomum.
João Paulo II morreu em 2005 e foi papa por 27 anos. Durante a sua vida teve várias amigas, entre elas a psiquiatra Wanda Poltawska, explica a BBC.