Quarta-feira, 26 de março de 2025
APOIE
Menu

Diante da absoluta rejeição internacional às declarações do presidente norte-americano de que pretendia se apropriar de Gaza e reconstruí-la como um complexo turístico, a Casa Branca manifestou-se na quarta-feira (05/02) matizando e desdizendo algumas das afirmações do presidente. Manteve-se, entretanto, a questão crucial do plano que é a retirada forçada de cerca de 2 milhões de palestinos de suas terras.

A confirmação e os matizes foram feitos pela secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt. Embora confirmando a intensão de deslocar os palestinos de Gaza, transferindo-os para países vizinhos mesmo forçosamente, ela disse que isso seria uma transferência “temporária” e não permanente como afirmou o presidente Donald Trump.

Enquanto o presidente disse que os Estados Unidos seriam os responsáveis por “demolir, aplanar e reconstruir” o enclave, a Casa Branca afirmou que Washington não vai assumir esse esforço. Finalmente, enquanto Trump não descartou uma intervenção militar, “caso necessária”, a Casa Branca garantiu que nenhum soldado norte-americano “porá os pés sobre o terreno de Gaza”.

A porta-voz da Casa Branca não explicou como se levaria a cabo o plano, sobretudo tirar dois milhões de pessoas de suas terras contra a sua vontade sem usar o exército. Mas repetiu as afirmações feitas por Trump na terça-feira (04/02) de que as propostas haviam recebido “tremendo apoio” dos “mais altos dirigentes” de até “12” países do Oriente Médio.

Países árabes criticaram com veemência a proposta

Vale lembrar que Liga Árabe e os principais países da região se pronunciaram veementemente contra à ideia de deslocar os palestinos, inclusive aqueles que, no entender de Trump, deveriam recebê-los, como a Jordânia e o Egito. De fato, todos os países que se manifestaram, tanto no Oriente Médio, como na Europa, Ásia como na América Latina, além das Nações Unidas defenderam a ideia de dois Estados como a solução para o conflito. O presidente Lula também manifestou seu repúdio à proposta.

A porta-voz da Casa Branca, Karonine Leavitt
Wikimedia commons
A porta-voz da Casa Branca, Karonine Leavitt

O ministro de Relações Exteriores do Egito, Badr Abdelaty, recebeu o primeiro-ministro palestino, Mohamed Mustafa, e reafirmou a necessidade de reconstruir Gaza “sem que os palestinos a abandonem”. Também o rei da Jordânia, Abdalah II, descartou “qualquer tentativa de anexar terras e deslocar os palestinos de Gaza ou da Cisjordânia ocupada”.

A Arábia Saudita, um dos primeiros a responder, declarou “rejeição absoluta à vulneração dos direitos legítimos do povo palestino”. O país reafirmou que a criação de um Estado palestino é uma das condições indispensáveis para a normalização das relações do seu país com Israel, que é um dos objetivos de Trump.

De fato, os únicos que aprovaram e aplaudiram a proposta de Trump foram os Israelenses, sobretudo a extrema direita de seu governo.

Também o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, contradisse Trump. Em viagem pela Guatemala, ele sugeriu que o presidente jamais quis anexar Gaza. Mas Trump disse literalmente que eu país “iria tomar o controle da Franja de Gaza”, “a possuiremos” e “nos pertencerá no longo prazo”.

Governo norte-americano foi pego de surpresa

A questão é que, segundo fontes da Casa Branca citadas anonimamente pelo jornal The New York Times, as declarações de Trump pegaram de surpresa os próprios membros de seu governo. De fato, até o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que soube da ideia momentos antes, pareceu surpreso quando Trump expôs seu plano aos jornalistas na terça-feira (04/02).

Os membros do governo que conversaram com o jornal garantiram que não havia nenhum estudo de viabilidade a respeito e que a proposta sequer foi discutida em qualquer reunião de governo. Isso, embora as declarações representem uma guinada completa na posição dos Estados Unidos sobre o conflito israelense-palestino. Há mais de 20 anos, o país defende a solução de dois Estados.

A ideia de se apossar de Gaza nunca esteve no debate público nos Estados Unidos. Mas um genro de Trump, Jared Kushner – que também trabalha na área imobiliária – chegou a propô-la há cerca de um ano. Ele disse que Gaza tinha um “potencial valioso” como “propriedade de frente para o mar” e sugeriu que Israel deveria “limpar” o enclave, palavras similares às que Trump usou nos últimos dias.