A primeira-ministra da República Democrática do Congo (RDC), Judith Suminwa Tuluka, declarou nesta segunda-feira (24/02) que aproximadamente 7 mil pessoas foram mortas em combates no leste do país desde que os rebeldes do M23, apoiados por Ruanda, iniciaram suas ofensivas em janeiro. Do montante, cerca de 3 mil mortes foram relatadas somente em Goma, a maior cidade da região que é rica em recursos minerais.
Durante uma reunião do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra, a premiê congolesa alertou que a situação de segurança no país atingiu “níveis alarmantes” ao relatar que a guerra, para além das milhares de mortes registradas, deixou cerca de 450 mil pessoas desabrigadas por conta da destruição de 90 campos de refugiados.
No início do ano, a milícia M23 iniciou suas operações em grande escala no leste do Congo, o que resultou na tomada de Goma e, recentemente, Bukavu, duas das maiores cidades do leste, configurando a pior escalada em mais de uma década do conflito de longa duração no país.
No último domingo (23/02), o ministro das Comunicações da RDC, Patrick Muyaya, relatou que Ruanda e os rebeldes da M23 deslocaram mais de 40 mil pessoas, a maioria mulheres e crianças, para o Burundi no mês de fevereiro, incluindo mais de 9 mil em um único dia.
O M23, formado por tutsis que deixaram o exército congolês há mais de 10 anos, é um dos mais de 100 grupos armados que lutam contra as forças congolesas no leste do Congo.
O grupo justifica suas operações no território congolês prometendo defender os interesses da comunidade minoritária dos tutsis contra as milícias étnicas hutus, como as Forças Democráticas para a Libertação de Ruanda (FDLR), fundadas por aqueles que fugiram de Ruanda após participarem do genocídio de 1994, que deixou cerca de um milhão de mortos.

Aproximadamente 7 mil pessoas foram mortas em combates no leste do Congo desde que os rebeldes do M23, apoiados por Ruanda, iniciaram suas ofensivas em janeiro
No entanto, segundo Paris Yeros, doutor em Relações Internacionais e professor do programa de pós-graduação em Economia Política Mundial da Universidade Federal do ABC (UFABC), trata-se de um contexto que envolve interesses estrangeiros, como dos Estados Unidos.
“A riqueza do Congo e as disputas em torno dela encontram um terreno fértil nas diversidades, mobilizam-se para vários fins e criam narrativas de conflito étnico, como se fosse a causa principal”, afirmou a Opera Mundi.
Nos últimos dias, a milícia anunciou que também marchará para Kinshasa e prometeu que derrubará o governo do presidente da RDC, Félix Tshisekedi, “limpando” as cidades de suposta má governança e insegurança.
‘Hora de silenciar as armas’
Durante a a abertura da sessão no Conselho de Direitos Humanos da ONU, o secretário-geral da organização António Guterres denunciou o papel do que chamou de “senhores da guerra”, de autocratas e do patriarcado, apelando para a solução dos conflitos na Ucrânia, na Faixa de Gaza e na RDC.
Guterres considerou particularmente a situação no Congo “um turbilhão mortal de violência e abusos horríveis dos direitos humanos”, defendendo que a “soberania e a integridade territorial da RDC devem ser respeitadas” “É hora de silenciar as armas”, disse a autoridade.
Diante da ameaça da crise se alastrar em outros nove territórios vizinhos, deflagrando uma guerra regional, o secretário-geral também pediu diplomacia e diálogo para ajudar a resolver “as terríveis e contínuas violações de direitos em locais como na região do Sahel, em Mianmar e no Haiti!.
(*) Com ONU News