Uma semana após ter anunciado a desvalorização da moeda venezuelana – o bolívar – e a criação de duas taxas de câmbio paralelas, o presidente Hugo Chávez anunciou nesta sexta-feira (15) uma nova estrutura de sua equipe econômica.
Durante o discurso anual perante a Assembleia Nacional (de quase cinco horas), o presidente nomeou o atual ministro de Economia, Alí Rodríguez Araque, como novo ministro de Energia. Ele substitui Ángel Rodriguez, que foi demitido na quinta-feira (14) por causa da má gestão do racionamento de eletricidade em Caracas.
Na quarta passada, cinco minutos antes de terminar o primeiro dia de racionamento de eletricidade na capital, Chávez anunciou a suspensão da medida devido ao descontamento da população e aos protestos de diversos setores econômicos.
Fusão de ministérios
A Venezuela, quinto maior produtor mundial de petróleo, enfrenta uma severa crise energética que o governo explica pela seca que afeta o país, cuja geração de energia é de 70% de origem hidrelétrica. Segundo os números oficiais, o déficit elétrico alcança atualmente 1,7 mil megawatts. O plano de racionamento nacional buscava economizar 1,6 mil megawatts.
Chávez anunciou a fusão dos ministérios da Economia e da Planejamento em um único órgão que será assumido por Jorge Giordani. “Esta fusão vai permitir mais coerência”, justificou o presidente.
Ele também declarou um aumento de 25% do salário mínimo, aplicável em dois períodos: o primeiro, de 10%, no dia 1º de março; e um segundo, de 15%, em 1º de setembro próximo – ou seja, antes das eleições legislativas. O salário mínimo mensal vigente na Venezuela é de 967 bolívares (cerca de 370 dólares ou 224,80 dólares, dependendo do câmbio).
A polemica desvalorização da moeda nacional foi também um dos temas da intervenção presidencial. O novo esquema cambial colocou duas taxas controladas, de 2,6 e 4,3 bolívares por dólar, comparado com a taxa única anterior de 2,15 bolívares. Segundo a oposição, a medida deveria provocar um aumento da inflação. Chávez defendeu a medida, explicando que era “uma desvalorização revaluadora”, que vai contribuir a fortalecer o bolívar.
Mercado paralelo
O banco central venezuelano lançou uma intervenção maciça no mercado de câmbio para tentar defender o novo sistema monetário. O objetivo é parar a valorização do chamado “dólar paralelo”, que negociado no mercado negro. Ontem, o valor atingia 5,7 bolívares.
O presidente do BC, Nelson Merentes, declarou que o motivo das intervenções no mercado paralelo era de “diminuir a cotização, para que fique abaixo de 5 bolívares”.
O economista Alberto Ramos, analista sênior para América Latina do banco de investimentos Goldman Sachs, considera que o sistema cambial duplo está criando uma distorção entre o setor público e o setor privado. Ele argumenta que “enquanto o governo pode comprar todos os bens e serviços que quiser na taxa subsidiada de 2,6 bolívares, as empresas privadas terão de importar os mesmos produtos com uma taxa desvalorizada de 4,3 bolívares, com a exceção dos bens declarados como prioritários”.
Ele lembra que produtos como iogurtes e queijo não são considerados como prioritários. “Em conseqüência, este regime cambial deveria dar ainda mais espaço para o Estado na economia”, conclui Ramos.
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