Com 98% das urnas apuradas, o candidato direitista Sebastián Piñera, (44%) enfrentará o candidato da Concertação, Eduardo Frei (29%) no segundo turno. O independente Marco Enríquez-Ominami reuniu 20,12% dos votos e liberou seus eleitores para votar em quem desejarem e o comunista Jorge Arrate teve 6,21%. Este último disse que não dará um cheque em branco para o segundo turno, mas apoiará Frei, que presidiu o país de 1994 a 2000.
Piñera comemorou a vantagem e acenou para Enríquez-Ominami, afirmando que “sempre reconheci em Marco uma grande vitalidade, e compartilho com ele a visão de que a Concertação (coalizão governista de centro esquerda) está acabada, sofre de fadiga de material”.
Frei celebrou a passagem ao segundo turno pedindo o apoio de
Enríquez-Ominami: “esta noite quero convidar todos os que não votaram
em mim, aqueles que tiveram dúvidas, que se somem a minha candidatura”.
“Por todo o Chile tenho escutado a exigência de
renovação e mudança em nossa política, e assumirei esta aspiração
cidadã, quero que os cargos sejam ocupados por quem tem méritos e não
pelos que têm contatos. Vou governar com todos e todas, vou representar
todo o povo, gente com e sem partido”, disse Frei.
Mas Enríquez-Ominami já revelou que não apoiará Piñera ou Frei, e liberou seus eleitores para votar em qualquer candidato no segundo turno. “É impossível abusar da confiança em mim depositada. Não tenho qualquer condição de endossar o voto em outro candidato, não farei isto, em respeito aos mais pobres e aos mais desamparados”.
“A velha política está esperando sinais que não vai receber. O Chile deverá escolher entre dois projetos que são mais do passado do que do futuro (…). Frei e Piñera se parecem muito”.
Segundo turno
Jorge Pizarro, chefe da campanha de Frei, estimou que por suas orientações de centro e esquerda, os eleitores de Enríquez-Ominami e Arrate apoiarão Frei no segundo turno: “ficou provado que 55% dos votos estão com um Chile livre e solidário…”.
Andrés Allamand, senador e um dos porta-vozes de Piñera, assinalou que “enquanto o árbitro não apitar o final da partida”, não se pode comemorar, mas estimou que “há uma vantagem extraordinária”. “Vamos seguir trabalhando com força e humildade”, disse.
Entrevistado antes da publicação dos primeiros resultados, o deputado Felipe Harboe, candidato a reeleição pela Concertaçao, declarou ao Opera Mundi que se “a diferença entre Piñera e Frei fosse inferior a 15 pontos, o jogo estaria ainda totalmente aberto”. Ele ressaltou, porém, que a possibilidade de ganhar “depende muito da qualidade da mensagem de união que Frei emitir entre os dois turnos”.
Para a analista política Marta Lagos, “é possível que as cúpulas dos partidos consigam uma aliança contra a direita, mas acho muito mais difícil convencer os eleitores”. Ela considera que os ataques entre os dois principais candidatos de centro-esquerda, Enríquez-Ominami e Frei, foram “incisivos, relevantes, e muito fortes”. Ela compara a situação política a um matrimônio: “às vezes, dá para fazer as pazes e voltar a namorar, às vezes, é tarde demais, o limite já foi passado”.
Já o analista Santiago Escobar lembra que o Chile é o país da América Latina onde o segundo turno é o menos previsível. “Em 2000, uma derrota do socialista Ricardo Lagos contra a direita parecia evidente. Ele acabou ganhando”, lembra. “A única coisa que sabemos com certeza é que a Concertação sob sua forma atual já explodiu”, conclui.
Eleição
Os eleitores chilenos votaram com tranquilidade e houve bom índice de participação, apesar do calor em Santiago neste domingo.
Piñera, Eduardo Frei e Enríquez votaram cedo e sem maiores inconvenientes.
“Todos sabem que vai haver um segundo turno. Então, a eleição de hoje é muito importante, mas, sem dúvida, teremos outra votação para eleger o presidente da República”, disse Bachelet, que termina seu mandato com uma popularidade recorde, de entre 75% e 80%.
Piñera aparece nas pesquisas para o segundo turno com 49% das intenções de voto, contra 32% para Frei.
Os chilenos também escolheram 120 deputados da Câmara e 20 dos 38 membros do Senado.
Comunistas
O Partido Comunista obteve uma significativa votação e voltou ao Congresso chileno, após 36 anos de ausência. O presidente do PC, Guillermo Teillier, e seus colegas de partido Hugo Gutiérrez e Lautaro Carmona foram eleitos para a Câmara dos Deputados.
A última vez que os comunistas chegaram ao Congresso foi no governo do socialista Salvador Allende, em 1970, derrubado pelo ditador Augusto Pinochet, em 1973.
*Com agências
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