O ministro da Educação do Chile, Felipe Bulnes, entregou às lideranças estudantis do país, nesta segunda-feira (05/09), uma proposta de cronograma para as negociações sobre a reforma do sistema educacional. O governo sugeriu a criação de três mesas de trabalho que deverão apresentar, até o fim de setembro, propostas concretas que ponham fim ao impasse com os estudantes, que há três meses promovem manifestações nas principais cidades do Chile. Eles se comprometeram a dar uma resposta ao governo nesta quarta-feira.
“Temos três semanas para negociar acordos, descobrir onde não há possibilidade de acordo e ver até onde governo cederá, porque o governo deve ceder em algo”, disse o líder estudantil Giorgio Jackson, 24 anos, que está terminando o curso de engenharia. Ele preside a Feuc (Federação de Estudantes da Universidade Católica do Chile) e é um dos três porta-vozes do movimento estudantil. “Vamos manter a mobilização, porque o movimento estudantil chegou para ficar. Se for preciso ficar anos, ficaremos anos pressionando as autoridades para conseguir as reformas que pedimos”.
Apesar de manter a mobilização, os estudantes suspenderam uma grande manifestação prevista para o próximo sábado (10/09). O motivo foi o acidente de avião que, na sexta-feira (2), matou 21 pessoas, entre elas o mais famoso apresentador da TV chilena, Felipe Camiroaga. Ele acompanhava um empresário em uma missão humanitária na Ilha de Juan Fernandez, arrasada pelo terremoto e tsunami de 27 de fevereiro de 2010.
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“Entendemos que, nestes dias, o país vive uma grande comoção por causa da tragédia e somos respeitosos”, disse a líder estudantil Camila Vallejo ao explicar por que a mobilização do dia 8 foi cancelada. Mas os estudantes estão organizando mais manifestações para a semana que vem.
Os estudantes chilenos começaram a se mobilizar contra o governo do presidente Sebastián Piñera em maio. Em junho, o movimento ganhou as ruas e os estudantes também ocuparam escolas de nível médio e universidades. Nos dias 24 e 25 de agosto, o país parou por causa de uma greve geral, convocada pelos sindicatos, em apoio aos estudantes. A paralisação terminou em confronto entre grevistas, estudantes e a polícia chilena, culminando na morte de um adolescente de 16 anos.
Os estudantes querem mudar o sistema de educação chileno, criado pelo ex-ditador Augusto Pinochet, que reduziu a participação do Estado no setor. No Chile, as universidades públicas e privadas sao pagas. Existem mecanismos de financiamento para quem não tem dinheiro para pagar as mensalidades, mas os juros são altos e os jovens começam as carreiras já endividados.
Os estudantes de ensino médio também têm uma pauta específica de reivindicações. Há escolas públicas gratuitas de nível médio, mas são controladas pelos municípios, não pelo governo central. Isso, de acordo com as lideranças estudantis, prejudica os moradores dos pequenos municípios ou bairros mais pobres.
Há também, no país, um sistema misto que os estudantes querem rever. São escolas privadas (de ensino médio e universitárias) que cobram mensalidades mais acessíveis porque são subsidiadas pelo Estado. Os estudantes dizem que os donos dessas escolas e universidades estão enriquecendo com os subsídios estatais, em vez de investir os recursos na melhoria da qualidade de ensino.
Esta não é a primeira vez que os estudantes enfrentam o governo para pedir melhorias na educação. Em 2006, os estudantes secundaristas promoveram a Revolução dos Pinguins, que tinha como alvo a então presidenta Michelle Bachelet. O apelido (pinguins) foi dado por causa do uniforme azul-marinho e branco dos estudantes e as reinvindicações eram as mesmas das atuais. Mas Bachelet reuniu-se com os estudantes e o governo fez algumas mudanças sem, no entanto, modificar o sistema: aumentou o numero de bolsas de estudo e reduziu os juros pagos por estudantes que precisavam recorrer a empréstimos para financiar o estudo universitário.
“Foi uma negociação que levou dois anos e, com o tempo, os estudantes foram se desmobilizando. Mas aprendemos com os erros do passado e aprendemos como negociar. Por isso, vamos manter as mobilizações”, explicou Jackson. “Agora, os prazos para chegar a um acordo são mais curtos”.
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