China supera Rússia como parceira de Cuba com investimentos em energia solar
Pequim financia 55 projetos solares até 2025 na ilha caribenha, enquanto promessas russas de desenvolvimento não se concretizam, afirma Reuters
A China assume a posição de principal parceira econômica de Cuba ao financiar 55 novos projetos de energia solar até 2025. A Reuters constatou a mudança ao analisar as exportações chinesas de energia solar para a ilha caribenha, enquanto as promessas russas de desenvolvimento no país não se materializaram.
Segundo a reportagem da agência britânica, o tráfego da China no porto de Mariel, principal centro de transporte de Cuba, começou a aumentar em agosto de 2024.
“Navios que chegaram de Xangai, Tianjin e outros portos chineses importantes transportavam painéis solares, aço, ferramentas, peças e também combustível para transporte terrestre, garantindo que os painéis chegassem aos seus destinos”, declararam fontes do porto à Reuters.
A parceria entre China e Cuba cresceu após a ilha aderir à Iniciativa Cinturão e Rota em 2018. A China investiu em projetos de infraestrutura, incluindo transporte, portos e telecomunicações.
“Uma análise da Reuters de vários locais no local sugere que, onde muitas das promessas mais recentes da Rússia fracassaram, a China discretamente se apresentou para preencher o vazio, avançando com uma série de projetos com prazos críticos, visando ajudar Cuba a salvar sua economia”, afirma a reportagem.
A mudança ocorre em momento crítico para Cuba, que enfrenta grave crise econômica maximizada pelo bloqueio dos Estados Unidos, com escassez de alimentos, combustível e medicamentos, além de apagões prolongados. Segundo apuração da agência de notícias britânica, a situação piorou com a queda no turismo, redução nas exportações e novas sanções norte-americanas impostas pelo governo Trump.
China assume mais da metade da demanda energética de Cuba
Os investimentos chineses alcançam desde áreas próximas à capital até Jatibonico, cidade remota a horas de Havana. Esta pequena cidade usa charretes puxadas por cavalos e enfrenta longos períodos sem luz. O local exemplifica o contraste entre promessas russas não cumpridas e avanços dos projetos chineses.
Em Jatibonico, enquanto a antiga usina de açúcar, que já foi a maior do país, permanece inoperante apesar do anúncio feito há dois anos pela empresa russa Progress Agro, três tratores preparam um antigo canavial para a instalação de um parque solar financiado pela China, que fornecerá 21 MW de eletricidade.
“Quando os (russos) virão? É só disso que todo mundo fala”, questionou Carlos Tirado Pino, de 58 anos, à Reuters. Ele é um dos poucos trabalhadores de manutenção que mantiveram seus empregos na usina de açúcar local.
Os projetos solares chineses já produziram quase 400 MW de energia, representando aproximadamente um terço do déficit energético diurno de Cuba. Segundo estimativas oficiais, os novos investimentos devem elevar essa capacidade para mais de 1.100 MW até o final de 2025, quase cobrindo o déficit diurno e economizando combustível para uso noturno.

Ministerio de Energía y Minas de Cuba/X
Em fevereiro passado, Cuba inaugurou um parque solar em Cotorro, nos arredores da capital, com a presença do embaixador chinês em Havana, Hua Xin, e do presidente cubano Miguel Diaz-Canel, que descreveu o projeto como uma “colaboração de nossa irmã República China”.
Autoridades anunciaram ainda durante o evento que a China participa de um projeto para modernizar toda a rede elétrica cubana, com 55 parques solares a serem construídos em 2025 e outros 37 até 2028, totalizando 2.000 MW – o que representará cerca de dois terços da demanda atual de energia no país.
Projetos russos permanecem estagnados
Em contraste, muitos projetos russos anunciados em 2023 não avançaram. Em maio daquele ano, o vice-primeiro-ministro russo Dmitry Chernyshenko participou da cerimônia de reabertura da maior siderúrgica de Cuba, viabilizada por um financiamento russo de US$ 100 milhões.
O diretor da fábrica, Reinier Guillén, havia prometido que a produção de barras de aço aumentaria para 62.000 toneladas métricas em 2024, mas a agência oficial de estatísticas de Cuba (ONEI) informou em abril que a ilha produziu apenas 4.200 toneladas métricas naquele ano.
“Falar é fácil. Quando (a fábrica) está funcionando, ouvimos o barulho, vemos os trabalhadores, mas não vi nenhum sinal de que esteja funcionando”, relatou Esperanza Perez, 37 anos, moradora local. “Não vimos nenhum benefício aqui”.
Outros projetos russos não avançaram. A reconstrução da comunidade residencial de praia de Tarara, próxima a Havana, e a abertura do “Rusmarket” foram adiadas. O mercado seria um ponto de entrada para produtos russos.
Apesar das falhas em cumprir promessas anteriores, a Rússia ainda mantém alguma presença em Cuba, fornecendo cargas marítimas de trigo e petróleo e promovendo o turismo na ilha.
Em maio deste ano, Chernyshenko anunciou um plano para subsidiar taxas de juros para empresas interessadas em investir até US$ 1 bilhão em Cuba, referindo-se ao país como “parceiro confiável”.
“Ainda há muito trabalho duro a ser feito, avançaremos aos poucos”, declarou Chernyshenko a repórteres em Moscou. Ele acrescentou por fim que “é impossível conseguir as coisas imediatamente, como num passe de mágica”.
(*) Com informações da Reuters