Cidade nos EUA mantém ações de autodefesa contra neonazistas e inicia boicote econômico
Cidade nos EUA mantém ações de autodefesa contra neonazistas e inicia boicote
Moradores de Lincoln Heights, no estado norte-americano de Ohio, que organizaram grupos armados de autodefesa para combater grupos neonazistas que surgiram na região, iniciaram, nesta sexta-feira (28/02) um boicote econômico contra a negligência das autoridades regionais em denunciar os extremistas.
Em 7 de fevereiro, um grupo chegou em um caminhão e se posicionou em um viaduto da rodovia que dá acesso à cidade, onde bradou insultos racistas e agitou bandeiras com suásticas vermelhas. O clima de tensão se intensificou duas semanas depois, quando outro grupo espalhou panfletos racistas da Ku Klux Klan pelo município.
Diante da escalada do conflito, a xerife do Condado de Hamilton, Charmaine McGuffey, condenou os neonazistas, chamando-os de “covardes”, e prometeu reforçar as patrulhas policiais na cidade, além de aprofundar as investigações sobre a atuação dos grupos extremistas na região.
Contudo, as autoridades locais defenderam que os grupos neonazistas estavam “exercendo sua liberdade de expressão protegida por lei” e apenas ordenaram que se retirassem da região para “evitar a escalada da violência”.
Diante do que consideram negligência da polícia local em combater os extremistas, os habitantes passaram a patrulhar as estradas que levam a Lincoln Heights, abordando e interrogando qualquer pessoa que se aproxime da cidade. Muitos dos guardas comunitários são homens usando máscaras e armaduras corporais.
“Um indivíduo [norte-]americano protegendo sua terra natal com uma arma de fogo — pensei que essa era a coisa mais americana que poderíamos fazer”, afirmou Daronce Daniels, porta-voz do recém-formado Programa de Segurança e Vigilância de Lincoln Heights, que coordena as patrulhas da comunidade.
“Quando vimos que a polícia não estava nos ajudando, todos os homens fisicamente aptos do bairro, com ou sem arma, ficaram de guarda e continuam de guarda desde então”, declarou Dominic Brewton Jr., residente da cidade.
O boicote tem como alvo a vila de Evendale, vizinha de Lincoln Heights, que anunciou em 21 de fevereiro uma equipe policial independente para investigar a presença dos grupos neonazistas que também ocorreram em sua região.

Histórico de luta antirracista de Lincoln Heights vem de origem da cidade, que surgiu como comunidade negra autônoma
Contudo, a iniciativa não incluiu os líderes eleitos de Lincoln Heights. Além disso, os moradores acreditam que as autoridades de Evendale não estão sendo transparentes em relação às investigações estabelecidas.
“Nos recusamos a apoiar uma comunidade que não se responsabiliza. Estamos nos comprometendo a boicotar a Evendale até que haja uma mudança real. A luta pela justiça vai além do status econômico. Pedimos a todos que acreditam em igualdade, transparência e bem-estar da comunidade que se juntem a nós”, declarou Daniels.
Entre as exigências dos moradores está a “investigação completa e transparente” dos atos extremistas, com a divulgação de todas as filmagens não editadas da polícia de Evendale sobre o ato neonazista de 7 de fevereiro para que sejam analisadas de forma independente.
A comunidade também demanda que “ todos os policiais que ajudaram ou possibilitaram os manifestantes neonazistas” na região sejam responsabilizados.
E por fim exige que todas as vítimas dos discursos e atos de ódio dos atos neonazistas sejam apoiadas com assistência à saúde mental e emocional.
“Sem justiça, sem dólares. Até que essas exigências sejam atendidas, não gastaremos um único centavo em Evendale”, concluiu Daniels por meio das redes sociais.
A atitude dos moradores reflete uma tradição local. Lincoln Heights surgiu como uma comunidade negra autônoma, a mais antiga ao norte da Linha Mason-Dixon, que historicamente separava os estados escravistas do sul dos estados livres do norte dos EUA.
Em contraste, Evendale é uma comunidade marcada pelo desenvolvimento econômico possibilitado por sediar a General Electric Aviation, uma divisão do conglomerado multinacional que atua no setor de energia.
(*) Com Brasil247
