O Comitê Nacional de Paralisação (CNP) da Colômbia, composto por 11 organizações políticas, sociais e sindicatos, suspendeu de forma temporária a convocação para novas manifestações populares no país após quase 50 dias do início da greve em abril.
“Decidimos interromper temporariamente as recorrentes mobilizações que fazíamos às quartas-feiras”, disse, nesta última terça-feira (15/06), Francisco Maltés, presidente da Central Única de Trabalhadores (CUT) colombiana.
Maltés afirmou que a mobilização vai continuar “pelas causas que o geraram e permanecem em vigor “, mas com “um novo plano de ação”. Mesmo com o anúncio, os protestos continuaram na Colômbia contra o governo neoliberal de Iván Duque.
O Comitê havia rompido com a mesa de negociações com o presidente Duque no começo de junho sem chegar a acordos. A organização acusa o mandatário de dilatar o processo e descumprir os pré-acordos e garantias mínimas de manifestação pacífica. Já o governo exige o levantamento dos bloqueios para retomar o diálogo.
“Depois de oito dias de intensas conversas, o governo disse que submeteria o conjunto de pré-acordos à consulta do seu gabinete de ministros. Agora, voltou à mesa para reabrir a discussão sobre os pontos pré-acordados”, afirmam, em comunicado.
No novo plano de ação proposto pelo comitê, estão listados, entre outros, a convocação de fóruns, encontros, palestras, atividades culturais e artísticas no dia 20 de junho, assim como a realização de uma mobilização “pela vida, pela paz, pela democracia e contra as políticas neoliberais do governo Duque”.
O documento ainda aponta para a elaboração de projetos de lei com interesses populares que serão entregues ao Congresso e o apoio a um encontro internacional em defesa da democracia, dos direitos humanos e garantias para o exercício do protesto social.
A declaração do comitê, que explica o cenário das mobilizações, elenca os saldos que foram conquistados desde 28 de abril: a retirada da reforma tributária e do projeto de reforma da saúde, a remoção de Alberto Carrasquilla do Ministério da Defesa, a renúncia da chanceler Claudia Blum, a suspensão da compra de aviões de guerra e a visita da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
Congreso de Los Pueblos
Manifestações populares no país acontecem após quase 50 dias do início da greve em abril
Nem todos os setores que estão nas ruas, no entanto, concordaram com a decisão do Comitê. Um grupo denominado Primera Linea continuam indo às ruas. Para a rádio RCN, Camilo Sarate, integrante do movimento paralelo, afirmou que o comitê não os representa.
“As decisões que eles tomaram pela paralisação das manifestações é mentira, eles querem fazer um agrado ao governo nacional”, declarou nesta quarta (16/06).
Violência policial nas manifestações da Colômbia
A repressão policial, denunciada desde o início das mobilizações, continuam. Segundo a organização Temblores, que trata de direitos humanos, há registros de 4.285 casos de violência dos agentes de segurança pública, entre eles 43 homicídios, quase 1.500 casos de violência física, 70 agressões oculares e 1.832 detenções arbitrárias
Pelo Twitter, a vereadora de Bogotá Heidy Sanchez publicou nesta quinta-feira (17/06) que o repórter Diego Otavo, do jornal comunitário Noti Barrio Adentro, teria sido agredido por um membro da Polícia da capital colombiana.
¡Que comunicar no cueste la vida! Toda nuestra solidaridad con @diegootavoph, quien fue agredido anoche presuntamente por miembro de la @PoliciaBogota cuando realizaba sus labores de prensa para @NotiBAdentro. #SOSMediosAlternativos @FLIP_org pic.twitter.com/3PPl9heryX
— Heidy Sánchez Barreto ?? (@heidy_up) June 17, 2021
Origens do protesto
A paralisação do dia 28 de abril, que deu início à greve geral, foi convocada pelo Comitê Nacional de Paralisação, mas é consenso que as mobilizações transcenderam essa instância.
O evento, que já é considerado a maior paralisação da história da Colômbia, é marcado pelo protagonismo de uma juventude que não se vê representada pelos partidos, sindicatos e outras estruturas organizativas existentes no país.
Além do desejo de mudança, das exigências de garantias do direito à saúde, educação e paz, os jovens expressam sua revolta pelas vítimas provocadas pela brutalidade policial, uma das facetas da violência estrutural do país.
“Não aguentamos mais e já não temos medo. Estamos jogando tudo ou nada. Já sabemos que vão nos matar de uma ou outra maneira. Por isso, já perdemos o medo. Muitos estão dispostos a morrer e outros tantos já morreram”, afirma Julián López.