Colômbia: reunião ministerial expõe crise interna do governo Petro, e quatro renunciam
Presidente disse que colombianos 'têm direito de saber o que governo está fazendo' ao defender a transmissão do gabinete
Uma crise política se instalou na Colômbia nesta quarta-feira (05/02) após a renúncia de quatro autoridades do governo na esteira de uma reunião do presidente Gustavo Petro e seu gabinete, transmitida ao vivo.
A reunião ministerial transmitida ao vivo foi pelos canais públicos de rádio e de televisão. Petro havia anunciado que o evento é uma iniciativa para “permitir que os cidadãos tenham acesso aos atos administrativos de forma pública e transparente”.
No entanto, a transmissão acabou expondo diversos problemas internos do governo, incluindo conflitos entre os ministros e críticas da vice-presidente Francia Márquez.
Na manhã desta quarta, após a reunião, o ministro da Cultura, Juan David Correa; o diretor do Departamento Administrativo da Presidência da República (Dapre), Jorge Rojas; o diretor da Unidade Nacional de Gestão de Riscos de Desastres (UNGRD), Carlos Carrillo, e a secretária jurídica do governo, Paula Robledo, apresentaram suas renúncias ao governo.
Em carta, agora o ex-ministro da Cultura afirmou que sua saída era “irrevogável”, agradecendo pelo convite de ter trabalhado no “primeiro governo progressista da Colômbia”.
Já Rojas, que chefiava o Departamento Administrativo da Presidência da República, disse à W Radio que os “acontecimentos não me permitem continuar” no cargo.
Nenhum citou os motivos diretos de sua renúncia. Porém, ocorreram em meio a rumores de ajustes no gabinete após controvérsias internas.
‘Povo tem o direito de saber o que governo está fazendo’, diz Petro
Em suas redes sociais, o presidente Petro falou sobre a repercussão da reunião ministerial em uma mensagem que enfatizou “o número de compromissos assumidos com a população e a elevada percentagem de incumprimento”.
“Decidi que isso deveria ser tornado público para obter uma resposta do gabinete sobre essa não conformidade. A escolha foi feita para evitar uma resposta e lançar um ataque canibal e autodestrutivo, o que é uma tradição histórica não só da esquerda, mas da Colômbia”, acrescentou o mandatário.
Em seguida, Petro alegou que “o povo tem o direito de saber o que seu governo está fazendo e como é seu governo, diretamente e sem desinformar intermediários. Expor o governo à luz, me parece democrático, permite que o povo não fique indiferente à política e se aproprie dela e decida transformá-la conscientemente”.
“Quem quiser fazer campanha pode sair, é livre, eu já tinha pedido isso. Aqueles que desejam trabalhar na conformidade do programa permanecem. Não quero um governo com agenda dupla, mas também não quero um governo de uma única cor, porque o povo é multicolorido. É o povo que governa, ninguém mais”, concluiu o presidente.

Reunião ministerial transmitida ao vivo acabou expondo divergências entre ministros e chefes de departamento do governo de Gustavo Petro
Crise interna
Os principais questionamentos durante o encontro tiveram como alvo os dois novos ministros nomeados por Petro: Armando Benedetti, novo Chefe do Despacho Presidencial (similar à Secretaria Geral da Presidência), um ex-aliado da extrema direita envolvido em escândalos de corrupção e de violência familiar, e Laura Sarabia, nova ministra das Relações Exteriores, também acusada em casos de corrupção.
A vice-presidente Márquez liderou o grupo que se queixou pela presença de Benedetti e Sarabia na reunião, não só pelas suspeitas públicas a respeito dos dois, como também por ataques pessoais que teria sofrido, principalmente da nova chanceler.
“Me sinto incomodada com as atitudes de Sarabia para conosco, e comigo em particular. Em uma oportunidade, tive que dizer a ela que me respeito, pois sou a vice-presidente”, afirmou.
No caso de Benedetti, a vice colombiana disse a Petro, durante a reunião, que “respeito a sua decisão, mas não concordo com trazer para este Ministério pessoas que têm grande responsabilidade nos problemas que estamos enfrentando”.
Além disso, o ex-presidente Ernesto Samper (1994-1998) fez um apelo público para que todo o gabinete renuncie, para dar maior liberdade de ação a Petro.
Já o ministro do Interior, Juan Fernando Cristo, propôs uma renúncia coletiva do gabinete para permitir que o presidente “reoriente a administração”. “Os confrontos públicos não são a forma institucional de resolver diferenças”, declarou o ministro, em coletiva aos meios locais.
(*) Com TeleSur.
