Eurodeputados reunidos em Estrasburgo concederam, nesta quinta-feira (18/07) um segundo mandato de cinco anos à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que já havia recebido o sinal verde dos 27 Estados-Membros da União Europeia (UE) em junho. Em uma votação secreta, a líder alemã recebeu 401 votos a favor (284 contra, 15 abstenções, 7 votos nulos), bem acima da maioria absoluta de que precisava.
Ursula von der Leyen trabalhou arduamente para convencer os membros do Parlamento Europeu a lhe darem um segundo mandato à frente da Comissão Europeia, desenvolvendo um amplo roteiro e buscando garantir uma maioria. Sua reeleição foi saudada pelo primeiro-ministro polonês, Donald Tusk. “Estes são tempos difíceis, mas com sua coragem e determinação, tenho certeza de que fará um bom trabalho. Faremos isso juntos”, disse o ex-chefe do Conselho Europeu nas redes sociais.
O programa de Ursula von der Leyen para convencer os membros do Parlamento Europeu a mantê-la à frente da Comissão Europeia foi “melhor do que há cinco anos”, segundo Sébastien Maillard, consultor especial do Instituto Jacques Delors e pesquisador associado do think tank Chatham House, em entrevista à RFI. O especialista explica que ela obteve cerca de 40 votos a mais do que a maioria necessária de 360 membros.
“Até o final, estávamos nos perguntando se ela realmente teria votos suficientes, como vimos nas eleições europeias. Seu partido, o Partido Popular Europeu, estava na liderança. Ela também contava com o apoio dos social-democratas, dos centristas, dos liberais e também dos Verdes. E em seu discurso desta manhã, ela teve que tranquilizar cada um desses partidos, seus apoiadores, para que todos quisessem reconduzi-la ao cargo”, diz.
Maillard destaca que a líder alemã focou seu discurso na competitividade e na economia – algo muito aguardado. A fala de Von der Leyen foi acompanhada com muita atenção por seu próprio partido, “que achava que ela, às vezes daria muita ênfase à ecologia”, reitera o especialista.
Discurso de continuidade
O pano de fundo do discurso foi a continuidade das principais instituições da UE: a mensagem de Ursula von der Leyen aos deputados foi que não se muda o capitão no meio de uma tempestade. Acima de tudo, a presidente da Comissão Europeia queria agradar o maior número possível de deputados, além de sua coalizão, como relata o correspondente especial da RFI em Estrasburgo, Julien Chavanne.
Para Chavanne, as prioridades de Ursula von der Leyen são impulsionar a competitividade e aumentar maciçamente o investimento em setores essenciais e na defesa. Ela também pretende buscar uma meta climática ambiciosa de uma redução líquida de 90% nas emissões até 2040, em um gesto de boa vontade para com os Verdes. Esse objetivo, uma etapa fundamental para alcançar a neutralidade de carbono até 2050, será incluída em um texto legislativo proposto aos Estados-Membros pela próxima Comissão.
Depois do Acordo Verde, “um novo pacto para Indústrias Limpas ajudará a reduzir as contas de energia”, cujos altos preços “estão prejudicando nossa competitividade”, prometeu Von der Leyen.
Momento de ansiedade e incerteza para os europeus
Ursula von der Leyen também estendeu a mão para a esquerda, que estava esperando por ações na área de moradia, prometendo um “plano de habitação acessível” para famílias precárias, com, pela primeira vez, um comissário dedicado à questão. “A Europa está enfrentando uma crise habitacional, (…) as pessoas estão lutando para encontrar moradias a preços acessíveis. É por isso que, pela primeira vez, nomearei um comissário com responsabilidade direta pela habitação”, declarou ela.
Defensora de longa data de uma “comissão geopolítica”, ela também pediu “uma Europa forte” em um “período de grande ansiedade e incerteza” diante dos “demagogos e extremistas que estão destruindo nosso modo de vida europeu”.
“As famílias estão sentindo a dor do custo de vida e da moradia, os jovens estão preocupados com o planeta e a perspectiva de guerra está pressionando as empresas e os agricultores. E tudo isso é sintomático de um mundo em que tudo é armado e contestado. Mas estou convencida de que a Europa, uma Europa forte, pode enfrentar o desafio. E é por isso que estou pedindo hoje a sua confiança”, afirmou a líder.
Ursula von der Leyen se vê como uma garantia de estabilidade diante das tensões globais: disputas comerciais com Pequim, o possível retorno de Donald Trump à Casa Branca, guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, e assim por diante. “O derramamento de sangue em Gaza deve parar imediatamente”, disse ela, pedindo “um cessar-fogo imediato e duradouro” e dizendo que “muitas crianças, mulheres e civis perderam suas vidas como resultado da resposta de Israel ao terrorismo brutal do Hamas”.
Fortalecimento da agência de fronteiras da União Europeia
Por fim, a líder alemã declarou que fortalecerá a Frontex, a agência de fronteiras da União Europeia, e triplicar o número de guardas de fronteira e guardas costeiros: promessas feitas ao Partido Popular Europeu, de centro-direita, mas também ao grupo de extrema direita Conservadores e Reformistas (ECR), associado à líder italiana Giorgia Meloni.
Ursula von der Leyen ainda acusou ainda o primeiro-ministro nacionalista da Hungria, Viktor Orban, de “fazer o jogo” do presidente russo, Vladimir Putin, com sua recente visita a Moscou em uma “suposta missão de paz”.
“A Rússia continua sua ofensiva no leste da Ucrânia. Ela está apostando em uma guerra de desgaste, em um próximo inverno ainda mais rigoroso do que o anterior”, apontou a líder alemã.