A Cúpula de Líderes do G20, que reúne as 19 maiores economias do planeta, mais União Europeia e União Africana), começa nesta segunda-feira (18/11) no Museu de Arte Moderna (MAM) no Rio de Janeiro, em um cenário de intensos debates sobre temas globais cruciais, como as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza.
Na primeira vez em que acontece no Brasil, o encontro tem a presença confirmada de 55 delegações de 40 países. Entre os presidentes confirmados estão o norte-americano Joe Biden, o chinês Xi Jinping e o sul-africano Cyril Ramaphosa.
Ao todo, 19 chefes de Estado e de Governo estão na cidade para debaterem um documento que chegue a um consenso entre os três eixos que marcaram a presidência brasileira no G20 ao longo de um ano. A única ausência será a do presidente russo, Vladimir Putin, que será representado pelo ministro das Relações Exteriores do país, Sergei Lavrov.
A expectativa mundial em relação ao evento de dois dias mudou após a eleição de Donald Trump nos EUA. A delegação do governo Biden, prestes a acabar, terá pouco poder de decisão sobre ações futuras dos Estados Unidos relacionadas a alguns dos principais temas que serão debatidos no G20. Entre eles estão combate à fome, guerras na Ucrânia e na Palestina, emergência climática, transição energética e mudança na governança global.
Aliança contra a fome
A cerimônia de abertura da Cúpula do G20, após a recepção dos líderes mundiais pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pela primeira-dama Janja Lula da Silva, terá como tônica principal o lançamento da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza. É brasileira a iniciativa desta articulação entre países e organizações internacionais para acelerar medidas de combate à fome até 2030.
O Brasil exerce a presidência do G20 de 1º de dezembro de 2023 a 30 de novembro de 2024. Sob a direção de Lula, o G20 pretende alinhar as instituições e garantir financiamentos que viabilizem as políticas de combate à fome. Parte dos recursos virá do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que anunciou empréstimos de US$ 25 bilhões (cerca de R$ 150 bilhões) para as ações relativas à aliança contra a fome.
Conforme adiantou o embaixador brasileiro Mauricio Lyrio em coletiva de imprensa em Brasília, o governo federal pretende fazer dessa aliança um dos marcos centrais da edição brasileira da cúpula do G20.
“Há uma mobilização dos países para que se consiga ter resultados mais efetivos no combate à fome em relação ao que tem se estabelecido como metas dos objetivos do desenvolvimento sustentável”, declarou Lyrio.
Governança global
No período da tarde da segunda-feira (18/11), a reunião sobre reforma da governança global será restrita aos chefes de Estado. Eles devem discutir as atuações e formas organizativas das principais instituições financeiras internacionais, tais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial, a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a própria Organização das Nações Unidas (ONU).
O foco, detalhou Lyrio, será a “reforma das instituições financeiras internacionais, basicamente o conjunto de instituições nascidas com Bretton Woods”.
Em setembro, após participar da Assembleia Geral da ONU em Nova York (EUA), o presidente Lula defendeu o fim do poder de veto no Conselho de Segurança e criticou a dificuldade de intervenção da organização nas guerras em curso no planeta.
“O que vemos em Israel, na Faixa de Gaza e agora no Líbano é uma coisa que não tem precedente”, classificou o chefe de Estado brasileiro na ocasião, ao citar as tentativas de cessar-fogo da ONU ignoradas pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. “Por isso estamos na briga de fortalecer a ONU como um instrumento que tenha força para tomar decisão e fazer as coisas acontecerem”, defendeu Lula, em Nova York.
Transições energéticas
A crise climática e as transições energéticas serão tema da cúpula na terça (19/11) pela manhã. Os países do G20 são os principais emissores de carbono e gases de efeito estufa no mundo.
Recentemente, o governo brasileiro – representado na 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP29) em Azerbaijão pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e a ministra Marina Silva – foi criticado por organizações ambientalistas. O plano apresentado de reduzir gases de efeito estufa entre 59% e 67% até 2035 foi considerado “insuficiente” e “pouco ambicioso” por entidades como o Observatório do Clima, o Greenpeace e a WWF Brasil.
Taxação global dos super-ricos
Na área econômica, a principal bandeira brasileira é a taxação global dos super-ricos, que ajudaria a financiar o combate à desigualdade e o enfrentamento das mudanças climáticas. Baseada nas ideias do economista francês Gabriel Zucman, a proposta prevê um imposto mínimo de 2% sobre a renda dos bilionários do mundo, que arrecadaria entre US$ 200 bilhões e US$ 250 bilhões anualmente e divide os países.
Apesar de ter a adesão de diversas nações, a ideia enfrenta a resistência de alguns países desenvolvidos, entre os quais os Estados Unidos e a Alemanha, e também da Argentina. Entre os países que apoiam estão França, Espanha, Colômbia, Bélgica e África do Sul, que assumirá a presidência rotativa do bloco depois do Brasil. A União Africana manifestou apoio desde a apresentação da proposta em fevereiro.
Ainda no último dia da Cúpula na capital carioca, haverá a declaração de líderes do G20. Estão previstas mensagens de promoção de paz referentes a conflitos armados no planeta.
Ao final da terça-feira (19/11) acontecerá uma cerimônia em que o Brasil transmitirá a presidência do G20 para a África do Sul, que assumirá a liderança da organização até 2025.
Apesar das tentativas do governo do presidente Lula de alinhar um posicionamento comum, ainda não há consenso entre os países sobre a declaração final. As divergências residem principalmente na linguagem utilizada para abordar os conflitos internacionais, como a guerra na Ucrânia.
Confira a programação prevista para a Cúpula do G20
18 de novembro (segunda-feira)
08h40 – Cumprimentos aos líderes do G20
10h – Lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e 1ª Sessão da Reunião de Líderes do G20: Combate à Fome e à Pobreza
14H30 – 2ª Sessão da Reunião de Líderes do G20: Reforma das Instituições de Governança Global
19 de novembro (terça-feira)
10h – 3ª Sessão da Reunião de Líderes do G20: Desenvolvimento Sustentável e Transição Energética
12h30 – Sessão de encerramento da Cúpula de Líderes do G20 e cerimônia de transmissão da presidência do G20 do Brasil para a África do Sul
(*) Com Redação Opera Mundi, Agência Brasil, Ansa e Brasil de Fato