Terça-feira, 10 de junho de 2025
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No último 3 de junho, o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou que as negociações para a concessão de uma linha de crédito “stand-by” à Argentina estão avançadas.

O socorro internacional de ao menos U$ 30 bilhões foi solicitado no dia 8 de maio pelo presidente Maurício Macri, que qualificou a medida como preventiva para conter a crise cambial por qual passa o país, e para seguir adiante com as reformas econômicas que o governo tenta aprovar desde 2017.

O pedido de ajuda contraria declarações do próprio Ministério da Fazenda, que anunciou em maio que não voltaria a pedir ajuda ao Fundo, e ocorre devido à desvalorização de 21,5% do peso argentino frente ao dólar.

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Polêmica, a medida ataca diretamente a população que foi às ruas no dia 17 de maio contra o socorro do FMI e a aprovação das reformas da previdência e trabalhista – a primeira, que já foi aprovada, reflete negativamente na economia do país; a segunda foi rechaçada pela população e movimentos populares.

Em troca do crédito do FMI, Macri promete um grande ajuste nas contas públicas do país e avanço com as reformas, especialmente a trabalhista. Para Amanda Barrenengoa, professora de sociologia da Universidade Nacional de La Plata, o auxílio internacional e o posterior ajuste nas contas públicas junto a reforma trabalhista serão negativos para a população.

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Especialistas afirmam que proposta faz parte de uma agenda neoliberal que vem avançando nos países da América Latina

Especialistas afirmam que proposta faz parte de uma agenda neoliberal que vem avançando nos países da América Latina; socorro internacional de ao menos U$ 30 bilhões foi solicitado no dia 8 de maio pelo presidente Macri

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Segundo Amanda, a ajuda internacional servirá para justificar a reforma trabalhista, rechaçada em 2017. “Todo esse cenário beneficiará os empregadores”, diz.

Na sociedade argentina existem diferentes opiniões e pouca informação sobre as implicações reais da reforma trabalhista. “Para dar um exemplo, a CGT (Central Geral dos Trabalhadores) foi contra, outros setores e sindicatos também. Por causa disso, em 2017, o governo decidiu não avançar com a reforma trabalhista e adiá-la para o ano de 2018, agora pretende seguir em frente”, explica.

Macri e sua equipe econômica argumentam que a ajuda do FMI é melhor que um crédito privado pela previsibilidade dos juros. Já com a reforma trabalhista, assim como a da previdência, o governo visa aumentar a confiança dos investidores externos.

Para a socióloga argentina e pesquisadora do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET) Anabel Beliera, 30 anos, as medidas se valem de pressupostos neoliberais de livre mercado, que já deram errado no passado. “Eles dizem que se a mão de obra é mais barata, então mais empresários vão querer produzir na Argentina. É claro que não é assim. Os fatos estão mostrando isso com a reforma da Previdência. ”

A aprovação dessas reformas na Argentina segue uma agenda neoliberal em curso em muitos países da América Latina, outrora governada por políticos de esquerda que alcançaram avanços econômicos e diplomáticos para a região. A eleição de Macri na Argentina, a presidência de Michel Temer no Brasil e a recente decisão de Paraguai, Colômbia, Chile, Peru, Argentina e Brasil de suspender por tempo indefinido a participação na União das Nações Sul-Americanas (Unasul) são exemplos da tendência neoliberal na região.

Para Julián Bilmes, mestre em Ciência Social e representante do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas da Argentina (Conicet), este é um projeto regional para a América Latina. “Se os dois países mais importantes do subcontinente conseguirem ser dobrados e as reformas trabalhistas neoliberais lhes forem impostas, o impacto pode ser severo para projetos populares emancipatórios e soberanos. Pelo contrário, se conseguirmos detê-los, a disputa para voltar ao caminho integracionista, emancipatório e de justiça social na Pátria Grande continuaria aberta”, complementa.

As discussões seguem em curso na Argentina e no dia 1° de junho o ministro da Fazenda, Nicolas Dujovne, apresentou um plano de gastos do governo que inclui, entre outras coisas, um freio de custos com pessoal e a venda de automóveis oficiais. Isso contribuiu para o avanço nas tratativas com o FMI, que deverão aprovar a linha de crédito.

Assim, as discussões sobre a reforma trabalhista deverão voltar à pauta do governo e sofrerão forte embate frente à opinião pública, já contrariada com a aprovação do socorro.