Policiais de Hornachuelos e Málaga, cidades da região da Andaluzia, na Espanha, prenderam na última quarta-feira (08/08) dois integrantes do SAT (Sindicato Andaluz de Trabalhadores) que participaram de um saque a um supermercado na última terça-feira (07/08) na cidade de Écija, na província espanhola de Sevilha. Apesar de já terem sido soltos nesta quinta-feira (09/08), a ação do grupo tomou conta do noticiário do país e dividiu a opinião pública espanhola.
Agência Efe
Sánchez Gordillo (esquerda) e outros integrantes do SAT no terreno invadido pelo sindicato.
O saque cometido pelos integrantes do SAT na cidade de Écija foi liderado por Juan Manuel Sánchez Gordillo, prefeito a 33 anos do município de Marinaleda e deputado da IU (Esquerda Unida, em sua sigla em espanhol) no Parlamento da Andaluzia. Na ocasião, cerca de 200 sindicalistas entraram no supermercado Mercadona, encheram 10 carrinhos de compras com itens de primeira necessidade e forçaram sua saída sem passar pelos caixas.
Houve um momento de tensão quando alguns funcionários tentaram impedir que o grupo levasse os produtos e, supostamente, uma funcionária foi agredida. Os ânimos se acalmaram com a chegada da polícia e o grupo pode sair do estabelecimento com todos os produtos sem precisar pagar nada.
No mesmo dia, na cidade de Arcos de la Frontera, na província de Cádiz, o SAT realizou outro saque, desta vez com cerca de 100 integrantes. Eles colocaram mantimentos como leite, açúcar e legumes em seus carrinhos e tentaram sair do supermercado, que pertence ao grupo Carrefour.
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Os funcionários da loja fecharam as portas e houve uma negociação com os sindicalistas, que conseguiram que o estabelecimento cedesse os produtos para prefeituras e ONGs citadas pelo grupo. Entretanto, os mantimentos não poderiam deixar a loja. Os órgãos públicos e as entidades sem fins lucrativos deveriam buscar os carrinhos no supermercado.
Segundo o SAT, a comida do primeiro saque foi entregue em bairros de Sevilha. E os produtos do segundo estão separados para as prefeituras das cidades de Espera, Puerto Serrano e Bornos. De acordo com o jornal El Pais, os prefeitos e as ONGs que seriam beneficiadas não querem aceitar os produtos porque não compartilham com o método utilizado pelos saqueadores.
Críticas políticas
As duas ações, coordenadas por Sánchez Gordillo, repercutiram negativamente dentro da classe política espanhola. O porta-voz do grupo governista no Congresso dos Deputados, Alfonso Alonso, classificou os saques como um “assalto” e um “ato criminoso”.
Ele ainda manifestou que não entende como existe “uma tolerância a este tipo de delito porque quem o comete é uma pessoa que tem uma responsabilidade pública”. “Quando uma pessoa ostenta um cargo público é obrigada a [manter] uma certa exemplaridade e, neste caso, ocorreu justamente o contrário”, completou.
Para Alonso, “o mais condenável” no ato de Sánchez Gordillo é que o deputado “se esconde” em sua condição de político com foro privilegiado, que lhe daria um sentimento de “impunidade”.
Diego Valderas, vice-presidente do governo da Andaluzia e coordenador da IU (partido de Sánchez Gordillo), disse que “não compartilha das formas” utilizadas por seu companheiro de legenda. Ele deixou claro que o ato nos supermercados “é uma iniciativa de um sindicato, não da Esquerda Unida”. Entretanto, Valderas admite que “foi uma ação simbólica que abriu um grande debate na sociedade sobre a riqueza e a pobreza”.
Provocações
Nesta quinta-feira (09/08) o SAT divulgou uma nota em seu site criticando o ministro do Interior espanhol Jorge Fernadéz Díaz, a quem acusam de ser “um bom servo do seu Deus, o mercado”. Para ilustrar o artigo, o sindicato publicou uma montagem em que uma suástica sobrepunha o logo do governista PP (Partido Popular).
Reprodução
Artigo publicado no site do sindicato com a montagem do logotipo do PP e uma suástica.
Em um comunicado oficial, o PP afirmou que diante da “gravidade” dos “insultos” e da “manipulação” de seu logotipo, resolveu colocar o assunto nas mãos de seu departamento jurídico para que estudem “possíveis ações legais”.
Sánchez Gordillo e outros sindicalistas ocupam uma propriedade do Ministério da Defesa espanhol em Écija há 16 dias. Eles reclamam que o Exército dê as terras aos agricultores que estão passando fome.
Na Espanha, quase 25% da população está desempregada e o país amarga uma profunda depressão econômica. O Estado espanhol já anunciou cortes de 62 bilhões de euros em suas contas e deve pedir um novo empréstimo à União Europeia. Neste ano, o governo de Mariano Rajoy já obteve uma linha de crédito de 100 bilhões de euros para salvar os bancos do país.
O novo pacote seria para aumentar as arcas do governo central, que precisa ajudar a diversas províncias que admitiram precisar de empréstimos para manter suas contas em dia. Entre elas, está a Catalunha, que possui o maior PIB (Produto Interno Bruto) da Espanha.