A quebra da General Motors não representa o fim de um dos ícones do capitalismo norte-americano, porém, marca um golpe duro nos esforços do presidente Barack Obama para evitar outra experiência de crise trabalhista logo no início de sua presidência.
No fim do ano passado, quando tudo indicava que a indústria automobilística estava em más condições, Obama disse que a recuperação não seria nem rápida, nem fácil. Mas com a ajuda do governo, era possível.
Não foi. Apesar de em março a Casa Branca ter oferecido generosos subsídios e pedido aos executivos da GM que desenvolvessem um plano de recuperação econômica, Obama anunciou ontem (1º) que os esforços não foram suficientes e declarou a quebra, amparada no capítulo 11.
Obama fala sobre a queda da GM, em Washington – Matthew Cavanaugh/EFE (01/06/2009)
“Plano realista”
O capítulo 11 permite a fundação de uma nova GM, que “comprará” todos os ativos da velha GM necessários para funcionar. O resto será considerado fundo perdido.
Segundo o plano de resgate, o governo dos Estados Unidos renunciará à cobrança da maioria da dívida que a GM contraiu, assumirá os ativos de 60% dos acionistas – conservando o direito de nomear alguns membros do conselho de administração da GM – e subsidiará a recuperação com 30,1 bilhões de dólares.
As tentativas de recuperação da “velha” GM fracassaram porque durante o processo de recuperação, a empresa foi incapaz de convencer seus credores a acabar com 90% da dívida, avaliada em 27,2 bilhões de dólares, 20 bilhões dos quais foram emprestados pelo governo em março.
“Temos um plano realista, que dá a possibilidade de recuperação a esta empresa, que é um símbolo dos Estados Unidos”, disse Obama em discurso na Casa Branca para anunciar o plano de recuperação.
Consequências
Uma das consequências deste plano é a eliminação de mais de 15% dos pontos de venda da GM nos Estados Unidos, onde a maioria dos vendedores trabalha por comissão e não com um salário fixo. A estimativa é que irão desaparecer 2,6 mil pontos de venda até o fim de 2010 e estão sendo cancelados os contratos de criação de 789 novos pontos. Os fechamentos afetam 20 mil postos de trabalho.
Mesmo com a possibilidade de desemprego em larga escala, Obama está de acordo com o plano. “Em meio à recessão e à profunda crise financeira que atravessamos, se a empresa estivesse afundando, haveria um efeito devastador na economia – os prejuízos iriam além da própria indústria automóvel”, disse o presidente.
Fachada da sede central da GM, em Detroit – Jeff Kowalsky/EFE (30/05/2009)
Críticas
Poucos minutos depois do anúncio, as críticas vieram tanto por parte de deputados e senadores federais, como de empresários da indústria, sindicalistas e vendedores de automóveis.
O comentarista conservador Lou Dobbs, da CNN, começou a chamar a General Motors de “Government Motors” e acusou Obama de “socializar a indústria”.
Em seguida, um grupo de senadores republicanos e democratas marcou uma audiência de emergência para amanhã (3) com os principais gerentes da GM. “Eles devem nos explicar, tem de explicar aos norte-americanos porque o prazo para fechar os pontos de venda é tão curto, como os vendedores podem minimizar seus prejuízos e como vão se desfazer dos milhares de automóveis que não conseguiram vender”, disseram os senadores Jay Rockfeller (Virgínia), democrata, e Kay Bailey Hutchison (Texas), republicana, na carta de convocação da audiência pública.
“Isto não resolve o problema econômico do país. O fechamento dos postos de venda prejudica ainda mais a economia, a empresa e o consumidor”, comentou John McEleney, presidente da Associação Nacional de Vendedores de Automóveis (NADA, por suas iniciais em inglês).
Realidade
O mesmo pensam os vendedores de automóveis consultados pelo Opera Mundi em Miami.
“Não conheço ainda os detalhes do plano de recuperação. Vou esperar que a empresa os envie. Mas uma coisa posso dizer desde já: isso nos afeta muito, porque não somos empregados da empresa, mas sim concessionários que dependem dela”, afirmou Lorenzo Silva, vendedor das principais marcas produzidas pela GM, Chevrolet e Pontiac.
A crise na indústria automotiva é tão profunda que, ao menos no sul da Florida, os vendedores são obrigados a usar a imaginação para convencer a clientela a gastar. Desde uma redução de quase 20% do preço inicial até a oferta de um ano de gasolina ou duplicação das condições de garantias, os anúncios nos jornais e outdoors mostram todo o tipo de ofertas.
“O pior deste plano de recuperação é que não nos permite devolver os carros que não conseguimos vender. São carros que eu devo ao banco porque o fabricante já foi pago e, sinceramente, não vejo muita saída para isto, a não ser abaixar o preço. O banco não aceita os carros como pagamento nem o fabricante os quer. Que outra possibilidade tenho, senão perder dinheiro?”, explicou Mark Williams, vendedor do famosos Corvette, fabricado pela Chrysler.
Williams é um dos muitos concessionários que já começaram a despedir vendedores, inclusive antes do anúncio do plano de recuperação da GM.
Hoje em dia entrar num concessionário de automóveis nos Estados Unidos é uma aventura. Quando detectam um potencial comprador, os vendedores lançam-se sobre ele como pequenas aves de rapina, oferecendo todos tipo de desconto. O processo de venda é acompanhado de generosas ofertas de cafezinho, acesso a salas de descanso para “pensar”, participação em sorteios de viagens e cruzeiros ou a oferta de televisões e gravadores de vídeo.
Para muitos norte-americanos, isso seria classificado como coisa de terceiro mundo. Mas já acontece aqui. É a crise.
Brasil
O presidente da GM do Brasil e Mercosul, Jaime Ardila, afirmou hoje para Agência Brasil que a unidade brasileira não faz parte do processo de recuperação judicial anunciado ontem pela matriz norte-americana e que não remeterá nenhuma ajuda à montadora nos Estados Unidos. Ardila declarou que a GM Brasil será uma parte da nova GM e que a empresa mantém os planos de investir 2,5 bilhões de dólares no país até 2012.
De acordo com o presidente da GM no Brasil e Mercosul, o Brasil possui recursos próprios para realizar investimentos e modernização da fábrica no país, além de ser capacitada para vender tecnologia a outras unidades da montadora no mundo. Ardila salientou, ainda, que desde 2005 a fábrica brasileira não recebe ajuda da matriz americana.
O presidente afirmou também que o mercado brasileiro continua sendo o terceiro mais importante para a montadora e, por isso, estão descartados, no momento, o fechamento de fábricas e demissões no Brasil.
NULL
NULL
NULL