Segunda-feira, 19 de maio de 2025
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Por conta da nova guerra tarifária de Donald Trump, agora mais do que nunca, há mais chances do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia sair realmente do papel.

Se manter no mercado norte-americano pode ficar mais difícil em breve para alguns países, por isso a Espanha é uma das nações que está de olho no Brasil e deseja seguir conquistando consumidores do nosso país.

A diretora comercial da vinícola espanhola Pago Casa del Blanco diz que a sua empresa já deixou de exportar aos Estados Unidos por conta das novas tarifas impostas por Trump e que a meta agora é defender e proteger o produto espanhol. “Nosso foco será vender dentro da Europa mesmo, e para a América Latina também”, diz Paula Sánchez.

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Quem acredita que o atual cenário comercial mundial pode beneficiar tanto o Brasil como a Europa, se o acordo Mercosul-União Europeia or validado, é o presidente da Fundação Euroamérica, Ramón Jáuregui. Ele explica que “a narrativa em torno do debate é que todos os líderes mundiais estão dizendo que as guerras tarifárias são ruins e que todos perdemos com isso. Então, não há dúvidas de que se o acordo for ratificado beneficiará muito a região”.

Essa postura também é defendida pela eurodeputada espanhola Hana Jalloul. “Diante do protecionismo dos Estados Unidos, o Mercosul pode sair mais fortalecido se conseguir capitalizar seu papel como parceiro estratégico da Europa em um momento de reconfiguração do comércio global”, sintetiza.

Para Jalloul, representante do Partido Socialista Operário da Espanha (PSOE), o contexto de tensões comerciais globais impulsionado pela política tarifária dos Estados Unidos fez com que a necessidade de acelerar acordos estratégicos seja ainda maior.

Tradição vinícola

Com uma produção de 33,6 milhões de hectolitros, a Espanha está entre as três nações que mais produzem vinhos no mundo. Além disso, o país ibérico exporta cerca de 66% dessa produção.

Segundo a Federação Espanhola de Vinho (FEV), no último ano, a Espanha vendeu 10 milhões de litros ao Brasil. A exportação de vinhos espanhóis ao mercado brasileiro triplicaram desde 2015 e se espera um aumento ainda maior se o acordo comercial entrar em vigor.

“A situação com os Estados Unidos está bem tensionada por conta das novas taxas que o governo americano quer impor aos produtos da União Europeia. Abrir novas oportunidades sempre é importante e o Brasil é um mercado muito relevante, já que a população é grande e o país tem um bom intercâmbio cultural com a Espanha¨, afirma uma fonte da FEV.

Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em encontro com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no Palácio do Planalto
Ricardo Stuckert / Presidência da República

Azeite de oliva

Se no quesito vinho a Espanha ocupa a terceira posição, em azeite de oliva o país é o líder mundial; é responsável por 42% da produção do planeta.

Depois de Portugal, a Espanha é o segundo maior fornecedor de azeite de oliva à mesa dos brasileiros. Esse é outro setor que está de olho no mercado consumidor do Brasil. Segundo a Associação Espanhola da Indústria e Comércio Exportador de Azeites de Oliva (Asoliva), o Brasil compra cerca de 25 mil toneladas de azeite de oliva de origem espanhol por ano.

“O Brasil é uma economia tão importante para nós que este ano faremos campanhas de marketing somente em cinco países e um deles é o Brasil. Esse é um mercado muito interessante e também prioritário para nós”, afirma Rafael Pico, diretor da Asoliva.

Com relação ao tratado com o Mercosul, Pico diz que a filosofia da associação que preside é a do livre mercado. “Por isso qualquer acordo que for feito entre a União Europeia e o Mercosul nós vamos comemorar.

Recentemente o Brasil zerou a tarifa de importação do azeite de oliva virgem e o ideal seria que isso também se estendesse a outros tipos de azeite”, deseja Pico.

A guerra tarifária promovida por Donald Trump, ao mesmo tempo em que ameaça, abre uma janela de oportunidades para potenciar novas parcerias comerciais. Entretanto, no caso do esperado acordo Mercosul-União Europeia, ele precisa primeiro ser ratificado pelos parlamentos de todos os países envolvidos.

Jáuregui faz a sua aposta e acredita que isso poderia acontecer ainda no final deste ano ou em janeiro de 2026.

“Hoje em dia, quando alguém diz que não está a favor desse tratado, de certa maneira está dizendo que aposta pela guerra comercial. Acho que a Europa, de uma forma bem direta, está tentando mostrar ao mundo outra maneira de se relacionar economicamente e comercialmente com o resto de países, apresentando um contra modelo à estratégia de Trump”, finaliza o diretor.