O ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, não acha que o Brasil se pauta por interesses geopolíticos em causas humanitárias internacionais. Segundo ele, é uma “grande bobagem” quando entidades defensoras dos direitos humanos fazem esse tipo de acusação, pelo fato de o país se recusar a condenar determinados governos, como o do Sudão.
“É uma postura muito cômoda simplesmente fazer condenações”, disse Amorim na última segunda-feira (22) ao Opera Mundi antes da gravação do programa Roda Viva, na TV Cultura. “[Isso] não melhora em nada a situação das pessoas que estão lá enfrentando problemas”.
O Brasil tem sido criticado por organizações como Anistia Internacional, Human Rights Watch e Conectas por mostrar-se a favor do diálogo, em vez de pedir punição para regimes acusados de abusos, em sucessivas reuniões do Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas).
“Nós queremos, tanto quanto possível, ajudar a criar um diálogo, mas às vezes não é possível”, declarou o ministro, questionado durante o programa sobre o posicionamento pró-diálogo do Itamaraty no recente caso do Sri Lanka, em que o governo foi acusado de violar direitos humanos na guerra contra rebeldes tâmeis, que deixou milhares de mortos.
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“Todas essas questões levam a aspectos políticos”, admitiu o ministro ao ser questionado a respeito do caso do Sri Lanka. ”O mundo é cheio de pecados. Se formos nos alinhar só com pessoas virtuosas…”.
Como exemplo de país onde condenação internacional não resolve o problema, Amorim citou o Sudão, cujo presidente Omar Hassan Ahmad al-Bashir teve prisão preventiva decretada em março pelo Tribunal Penal Internacional, por crimes de guerra e contra a humanidade, mas disse que continuaria exercendo suas funções. E continua.
“Eu poderia citar o nome do país, mas não vou, porque essas coisas são muito delicadas. Tem país que há 20 anos é condenado. E melhorou a situação dos direito humanos lá? Não”, disse o ministro ao Opera Mundi. Em seguida, durante o Roda Viva, ele admitiu que se referia ao Sudão.
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Irã
Um dos principais tópicos de discussão do programa de TV foram as eleições no Irã, onde parte da população, liderada pela oposição reformista, protesta desde o dia 13 contra o resultado. O presidente Mahmoud Ahmadinejad foi reeleito com 64% dos votos, porcentagem que levantou suspeita de fraude, o que vem sendo confirmado pelo Conselho dos Guardiães, órgão encarregado de validar o processo eleitoral.
“Não podemos ter essa pretensão moral de dizer como as coisas devem acontecer no país dos outros”, disse o chanceler quando perguntado sobre as atitudes que o Brasil tomaria. “O próprio Obama tem uma posição cautelosa”.
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Durante a entrevista, o ministro também comentou sobre outros assuntos, tais como:
Lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU
“Se quiséssemos agradar alguém para entrar, teríamos nos alinhado com a invasão do Iraque”.
G8
“É um grupo sem legitimidade ou eficácia”.
Volta de Cuba à OEA
“O Brasil talvez tenha sido uma peça-chave na chegada de um consenso”, na correção de um “anacronismo que precisava ser enterrado”.
Possibilidade de abrigar detentos de Guantánamo
“Não cogitei, nem cogitaremos”.
Projeto brasileiro na política externa
“O Brasil quer ajudar o desenvolvimento do seu país. Quer também ajudar outros países em desenvolvimento. Há também o elemento de solidariedade na política externa, mas há, sobretudo, o interesse nacional”.
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