O Conselho dos Guardiães do Irã – órgão que supervisiona a eleição presidencial – anunciou hoje (16) que está disposto a recontar os votos da eleição de sexta-feira (12), contestados pela oposição. O anúncio representa uma mudança radical de posicionamento – nunca o conselho havia autorizado algo parecido.
O candidato reformista Mir Hussein Mousavi questionou a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad com 64% dos votos, alegando fraude generalizada.
O Conselho dos Guardiães disse que os votos serão recontados em áreas contestadas pelos candidatos derrotados.
Protesto
O protesto de ontem envolveu centenas de milhares de pessoas e foi um dos maiores desde a Revolução Islâmica no Irã, há 30 anos.
Segundo a rádio iraniana, no fim do ato público – considerado “ilegal” pelas autoridades – quando as pessoas se dirigiam “pacificamente” para casa, teriam ocorridos os incidentes violentos que resultaram na morte de até sete pessoas. Somente uma morte foi confirmada oficialmente.
Preocupação internacional
Dezenas de ativistas da oposição foram presos desde o início dos protestos.
Há notícia de que vários políticos reformistas de destaque, inclusive o ex-vice-presidente Mohammad Ali Abtahi e um aliado de Mousavi, Saeed Hajarian, foram detidos durante a noite.
O presidente do Parlamento, Ali Larijani, condenou a resposta aos protestos. Segundo a mídia iraniana, Larijani disse: “O ministro do Interior é responsável por isso”.
O líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, ordenou a abertura de um inquérito para investigar as alegações de irregularidades na votação.
A divulgação de informações de dentro do país vem recebendo críticas externas. A BBC Persa teve seu sinal bloqueado no país e hoje o Ministério de Guia e Orientação Islâmica iraniano anulou todas as permissões de trabalho das agências de notícia estrangeiras e advertiu que não podem cobrir nenhum ato na rua que não conte com a autorização do órgão.
A forma como as autoridades lidaram com os protestos atraiu críticas da comunidade internacional.
Ministros do Exterior da União Europeia manifestaram “séria preocupação” e pediram um inquérito para investigar a eleição.
Obama
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse ontem que estava “profundamente preocupado” com a violência no Irã. Os comentários do líder americano foram feitos ao final de um encontro na Casa Branca com o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi.
“Seria errado se eu permanecesse em silêncio diante do que vi na televisão nos últimos dias. Eu fiquei profundamente perturbado pela violência que tenho visto na TV. Eu acredito que o processo democrático, a liberdade de expressão e o direito de protesto pacífico são valores universais que precisam ser respeitados”, disse.
Obama disse ainda não ser possível afirmar se existiu fraude durante o pleito, como alegam os oposicionistas no Irã, uma vez que os Estados Unidos não contaram com monitores eleitorais no país.
O presidente americano afirmou, no entanto, que o ''mundo está vendo e se sentiu inspirado com a participação'', em referência ao elevado comparecimento de iranianos às urnas.
Ele acrescentou ainda que aguarda a prometida investigação do governo iraniano sobre as denúncias de fraude e que espera que ela seja conduzida de forma justa e sem mais violência.
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