A legenda conservadora, formada pelas siglas União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU), venceu as eleições legislativas antecipadas da Alemanha, no último domingo (23/02), com 28,6% dos votos, aproximando o líder de centro-direita de Friedrich Merz ao cargo de chanceler federal, o chefe Executivo do país.
Em discurso após a vitória, o político declarou que prioridade será “recolocar o país na liderança da União Europeia (UE)”. “Minha prioridade absoluta é fortalecer a Europa o mais rápido possível para que, passo a passo, alcancemos a independência dos Estados Unidos”.
Merz questionou se a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), principal aliança militar ocidental, “ainda pode ser discutida em sua configuração atual” ou se “teremos que criar capacidades de defesa autônomas mais rapidamente”. Isso porque, nas suas palavras, o governo do presidente norte-americano Donald Trump “é amplamente indiferente ao destino da Europa”.
No tradicional pronunciamento da TV pública após a divulgação dos resultados eleitorais, o ex-banqueiro que nunca foi ministro de governo insistiu na soberania europeia ante os Estados Unidos. “Não tenho ilusões sobre o que está acontecendo nos Estados Unidos”, referindo-se à influência de Elon Musk ao partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) na campanha eleitoral.
Merz ainda comentou os avanços eleitorais da AfD, que ficou em segundo lugar na eleição, obteve 20,8% dos votos e dobrou seu resultado da última eleição, conquistando 152 assentos no Bundestag (Parlamento Alemão).
O político conservador descartou negociações para negociar uma coalizão de governo com a AfD, reiterando o que havia declarado em janeiro passado: “não trabalhamos com um partido que é xenófobo, antissemita, que tem radicais de direita e criminosos em suas fileiras, um partido que flerta com a Rússia e quer deixar a OTAN e a União Europeia”.
Como deve ficar a coalizão?
Graças a ausência de mais partidos no Parlamento será possível para Merz formar governo com uma coalizão de apenas dois partidos, o que pode dar mais estabilidade ao governo do que uma coalizão de três partidos como era a de Scholz, que entrou em crise e levou às eleições parlamentares antecipadas no final do ano passado.
O colapso da coalizão de Scholz ocorreu após o chanceler demitir Christian Lindner, líder do FDP, devido a conflitos internos, sobretudo em relação a reformas e aumento de gastos. Após as eleições do último domingo, Lindner – cujo partido não obteve nenhuma cadeira – anunciou sua aposentadoria.
Apesar da reafirmação de Merz de que a AfD não fará parte do governo, Alice Weidel, co-líder do partido de extrema-direita disse que a sigla permanecia aberta à negociação e que a sua exclusão do governo equivalia a “fraude eleitoral”.
Já Jens Spahn, vice-líder da aliança vencedora CDU/CSU, disse que os partidos pretendem iniciar as negociações para formar governo “muito, muito rápido”, “já esta semana”. Também frisou que o grupo está pronto para “fazer concessões ao SPD” e que “seria essencial que ambos priorizassem fortalecer a Alemanha, restaurar a confiança na democracia e limitar a imigração”.

Friedrch Merz, candidato a chanceler pela coligação conservadora que venceu as eleições alemãs no domingo (23/02)
Partido de Scholz é o grande derrotado
A coligação conservadora União Democrata Cristã-União Social Cristã (CDU/CSU) de Merz venceu com 28,6% dos votos (208 assentos no parlamento). Em segundo lugar, ficou a AfD que, com 20,8% dobrou seu resultado da última eleição (152 assentos), tornando-se o segundo maior partido e a maior força de oposição. É um resultado inédito para um partido de extrema-direita desde a Segunda Guerra Mundial.
Em detalhamento, a AfD venceu nos cinco estados que formavam a Alemanha Oriental (Brandemburgo, Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, Saxônia, Saxônia-Anhalt e Turíngia) ficando acima de 30% dos votos em todos eles, com destaque para os 38,6% na Turíngia, onde o partido conseguiu vencer a eleição estadual em setembro passado, sendo também a primeira conquista do tipo desde o conflito que durou de 1939 a 1945 e teve papel central da Alemanha sob o nazismo.
O Partido Social Democrata (SDP) de centro-esquerda do atual chanceler Olaf Scholz, teve seu pior desempenho desde a Segunda Guerra Mundial, ficando em terceiro lugar com 16,4% dos votos e 120 parlamentares. A seguir, ficaram os Verdes, com 11,6% (85 assentos), e a Esquerda, que surpreendeu com 8,8% dos votos (64 assentos).
Ficaram sem assentos no Bundestag o Partido Democrático Liberal (FDP) e o partido populista de esquerda Sahra Wagenskneckt (BCW), que não conquistaram o mínimo necessário para conquistar pelo menos um assento (5%).
As eleições foram para todos os 630 assentos que compõem o Bundestag. A distribuição por partido é proporcional aos votos recebidos por cada partido, desde que supere 5%.