O Escritório de Investigação de Corrupção para Funcionários de Alto Escalão (CIO, na sigla em inglês) solicitou ao Ministério Público nesta quinta-feira (23/01) para que indicie o presidente afastado da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, do Partido do Poder Popular (PPP) de extrema direita, por crimes de insurreição e abuso de poder.
“Seria mais eficiente para os promotores, que têm que decidir se vão indiciar ou não, coletar os dados e conduzir investigações adicionais, se necessário, para descobrir a verdade do caso. Por isso decidimos solicitar (antecipadamente) que indiciem (Yoon)”, anunciou o vice-chefe do CIO, Lee Jae Seung, durante uma coletiva.
Previsto para ser entregue em 28 de janeiro, o caso chegou nas mãos dos promotores de forma antecipada. Nos últimos interrogatórios conduzidos pelo CIO, o mandatário afastado continuava se recusando a responder às perguntas relacionadas aos crimes que cometeu durante a decretação da lei marcial, em 3 de dezembro passado.
De acordo com os investigadores, Yoon “conspirou com o ex-ministro da Defesa, Kim Yong Hyun, e outros para provocar um motim ao declarar a lei marcial em 3 de dezembro do ano passado com o objetivo de remover o poder do Estado ou perturbar a Constituição”. Também julgou que “ele abusou de sua autoridade para forçar policiais e soldados a cumprir ordens que não eram obrigados a cumprir, e obstruiu a Assembleia Nacional de exercer o seu direito de exigir a revogação da lei marcial”.
Agora, os promotores dispõem de 11 dias para decidir se devem, ou não, acusar o presidente afastado, o que o levaria a um julgamento criminal. Vale lembrar que o crime de insurreição não tem imunidade no país, ou seja, caso Yoon seja considerado culpado por ter liderado uma insurreição, ele poderá ser condenado a prisão perpétua ou a pena de morte.

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Papel do CIO
Depois que o presidente afastado ignorou todas as três intimações – nos dias 18, 25 e 29 de dezembro – o Escritório de Investigação de Corrupção para Funcionários de Alto Escalão (CIO) realizou uma força-tarefa que incluiu a polícia e a ala investigativa do Ministério da Defesa para obter o aval da Justiça e prender Yoon.
Em 15 de janeiro, após duas tentativas fracassadas, a agência conseguiu deter o mandatário, preventivamente, e transferi-lo ao Centro de Detenção de Seul, onde ficou hospedado por quatro dias enquanto passava por interrogatórios no escritório do Complexo de Gwancheon, província de Gyeonggi.
Em 18 de janeiro, o Tribunal Distrital do Oeste de Seul atendeu a um pedido do CIO e realizou uma audiência com Yoon. A sessão durou quase cinco horas e contou com um inédito pronunciamento do mandatário. De acordo com a agência de notícias Yonhap, o presidente quebrou o silêncio e defendeu-se durante cerca de 40 minutos.
Criada em janeiro de 2021, o CIO surgiu como uma solução inovadora na Coreia do Sul para lidar com abusos sistêmicos de poder. No entanto, recentemente, a entidade passou a ser criticada pelos sul-coreanos por suas repetidas falhas em garantir mandados de prisão e “insuficiência” nas audiências.
Na quarta-feira (22/01), os agentes tentaram executar um mandado de busca e apreensão na residência presidencial para obter documentos e possíveis evidências que pudessem colaborar com as investigações. No entanto, a operação acabou no fracasso porque, mais uma vez, o gabinete da Presidência se recusou a cooperar com o mandado.