Coreia do Sul: mais de 500 mil manifestantes exigem ‘prisão imediata’ de Yoon Suk Yeol
A Opera Mundi, vice-presidente da Confederação Coreana de Sindicatos, Jeon Ho Il disse que protestos contra presidente afastado devem seguir até conclusão do processo de impeachment
Os protestos em Seul pela prisão do presidente afastado Yoon Suk Yeol, do Partido do Poder Popular (PPP) de extrema direita, intensificaram-se perto da residência oficial neste sábado (04/01), um dia após o Serviço de Segurança da Presidência ter impedido os agentes investigativos de cumprirem o mandado de detenção emitido pela Justiça.
“Prisão imediata para Yoon Suk Yeol!”, gritavam os manifestantes. Entre a multidão composta por pessoas de diferentes faixass etárias, de jovens a idosos, era possível ver pessoas balançando faixas de movimentos sociais aos quais pertencem, além de light sticks de grupos de k-pop (gênero musical sul-coreano) e cartazes exigindo a queda do mandatário.
O protesto foi convocado pela Confederação Coreana de Sindicatos (Minju-nochong, uma central sindical nacional que nasceu de um movimento trabalhista em 1995) e reuniu pelo menos 500 mil pessoas na avenida adjacente à sede presidencial, localizada no bairro de Hannam, distrito de Yongsan.
A Opera Mundi, o porta-voz e vice-presidente da Minju-nochong, o líder sindical Jeon Ho Il, declarou que os protestos na região seguirão até a determinação do impeachment de Yoon, que depende da decisão do Tribunal Constitucional. A primeira audiência já está marcada para 14 de janeiro e exige a participação obrigatória do mandatário afastado.
“A Confederação Coreana de Sindicatos exige o impeachment e a prisão imediata de Yoon Suk Yeol. O governo de Yoon é contrário ao trabalho, à subsistência, à democracia e à paz. Ele não está refletindo sobre os seus crimes e está dando desculpas por meio de mentiras”, afirmou Jeon, referindo-se aos crimes de insurreição e abuso de poder cometidos pelo presidente durante a decretação da lei marcial, em 3 de dezembro, e às suas alegações de que pretende “proteger a Coreia do Sul” de “forças anti-estatais” e “forças comunistas norte-coreanas”.

Manifestantes sul-coreanos sentados na avenida perto da residência oficial, no bairro de Hannam, em Yongsan, em protesto pacífico pela prisão de Yoon Suk Yeol
Ainda neste sábado, durante os protestos que tiveram caráter pacífico, a polícia prendeu dois membros da Confederação. De acordo com o sindicato, os policiais também chegaram a ferir outros integrantes, fizeram uso de violência e ameaçaram ordenar novas prisões.
“A polícia está, de forma aleatória, restringindo e interferindo nas reuniões (sindicais) e manifestações legítimas”, denunciou a entidade em comunicado. “A Constituição da República da Coreia (do Sul) garante a liberdade da manifestação (…) Que raios é o propósito da polícia da República da Coreia (do Sul), que desconsidera os direitos e a segurança das pessoas?”, acrescentou a nota.
Solidariedade
Em meio a dezenas de barracas que distribuíam alimentos, bebidas quentes e bolsas térmicas aos manifestantes na avenida, chamava a atenção, na esquina, a porta de uma igreja onde um grupo de voluntários separava sacolas com garrafas de água e lanches.

Sul-coreanos se voluntariam na igreja para distribuir alimentos e bebidas aos manifestantes
Ao entrar no prédio, observava-se, na frente do banheiro, uma fila extensa de manifestantes. Enquanto esperavam por sua vez, um homem vestido de preto com uma fita amarela no peito – simbolizando a solidariedade com as vítimas da recente tragédia aérea da Jeju Air – caminhava pelo local e conversava com as pessoas.
Era o padre Sanghwan Joseph Oh, da Igreja Católica Romana, localizada perto da residência presidencial. A Opera Mundi, ele revelou que abriu o espaço especialmente para atender às necessidades básicas dos civis que protestavam contra Yoon.
“No dia anterior, foi a primeira vez que houve um protesto massivo nessa região e ouvi dizer que muitos manifestantes passaram por dificuldades por não encontrarem banheiros nos arredores. Então hoje decidi abrir a igreja para receber essas pessoas”, explicou.

Padre Sanghwan Joseph Oh, da Igreja Católica Romana, abriu espaço para auxiliar manifestantes contrários a Yoon Suk Yeol
Embora o padre Sanghwan não tenha associado a abertura da igreja com qualquer posicionamento político, nem endosso ao protesto do dia, muitos manifestantes contrários a Yoon disseram à reportagem que se reuniam no local de forma voluntária para e auxiliar na separação e distribuição dos suprimentos.
De acordo com padre Sanghwan, a igreja costuma usar suas redes sociais e realiza transmissões ao vivo para divulgar a abertura de doações. Uma vez arrecadadas, elas acabam sendo divididas “a todos os civis que precisam de auxílio”. E, desta vez, a igreja se prontificou para atender os manifestantes.

Mais de 500 mil pessoas se reuniram no bairro de Hannam, no distrito de Yongsan, em Seul, exigindo a prisão imediata do presidente afastado Yoon Suk Yeol
Oposição exige prisão de chefe do Serviço de Segurança da Presidência
Os líderes dos seis partidos oposicionistas da Assembleia Nacional da Coreia do Sul se reuniram na manhã deste sábado, pelo horário local, e anunciaram à imprensa o pedido da destituição do chefe do Serviço de Segurança Nacional e uma consequente prisão “por obstrução de funções oficiais especiais, ocultação de criminosos e abuso de poder”.
O posicionamento foi dado um dia depois que o Serviço de Segurança da Presidência e apoiadores extremistas de Yoon ameaçaram os investigadores e impediram de cumprir o mandado de prisão na residência presidencial.
“O líder rebelde Yoon Suk Yeol tratou o Serviço de Segurança e o poder público do Estado como se fossem o seu próprio exército privado. Isso impediu que o mandado de prisão fosse cumprido e acabou tornando-os (os funcionários da Segurança Nacional que seguiram às ordens do presidente afastado) criminosos”, criticaram os parlamentares, reforçando a necessidade de uma “detenção imediata” de Yoon.
“A execução dos mandados de prisão expedidos pelo tribunal não está sujeita a negociação. (…) O chefe da Serviço de Segurança da Presidência, e a sua gangue cometeram crimes ao serem cúmplices da traição”, acrescentaram.
As siglas oposicionistas que participaram da conferência e endossaram com o pedido incluíram o Partido Democrático da Coreia, o Partido da Inovação da Pátria, o Partido Progressista, o Partido da Nova Reforma, o Partido da Renda Básica e o Partido Social Democrata.
