Um movimento indígena, que partiu, em marcha, há 13 dias desde o sul do Equador, chegou a Quito para se somar à paralisação geral desta quarta-feira (13/08), da qual também participam setores sindicais, profissionais liberais e professores. Diante dos diversos protestos realizados no país desde julho, o presidente Rafael Correa convocou um diálogo nacional com a sociedade, mas, de acordo com o deputado governista Bairon Valle, esses setores se negam a conversar e “responderam ao chamado com mentiras e desinformação” para a população.
O descontentamento no país teve como estopim o envio ao Congresso, por parte do governo, dos projetos de lei que previam taxar grandes heranças e acabar com a especulação imobiliária.
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Flickr/CC/Assembleia Nacional do Equador
Deputado Biron Valle integra a comissão de diálogos propostos pelo governo, que terão duração até dezembro
Em entrevista exclusiva concedida por telefone a Opera Mundi, Valle, que integra a comissão formada pelo governo para promover o diálogo, afirmou que a oposição — formada por setores da esquerda, como indígenas, trabalhadores, médicos, professores e representantes das oligarquias do país — tem usado as novas tecnologias como “mensagens no WhatsApp, email e Twitter para dizer que haverá golpe de Estado, que as Forças Armadas retiraram o apoio ao presidente, que a polícia nacional está contra o governo e que haverá feriado bancário”. “Foi isso que recebemos como resposta ao convite ao diálogo”, diz Valle.
De acordo com a emissora multiestatal TeleSUR, áudios com conteúdo semelhante foram divulgados em redes sociais antes da visita do papa Francisco ao país com o intuito de gerar temor na população e forçar as pessoas a uma corrida bancária, aumentando a tensão econômica no país. A situação fez com que o Ministério da Defesa divulgasse uma nota, em 6 de julho, desmentindo a retirada do apoio a Correa.
Valle explicou que essas ações são realizadas com o propósito de “dar uma sensação de falta de legitimidade ao governo. Desprestigiam o governo com calúnia, o que é um plano de golpe branco”.
Diálogo com a sociedade
Para debater não só os dois projetos de lei em questão — que foram retirados da pauta do Congresso — como também outros que já foram implementados no país e buscar maior proximidade com a cidadania, o governo anunciou, em julho, um processo de diálogo com todos os setores da sociedade.
Agência Efe
Protesto indígena percorreu diversas cidades até chegar a Quito nesta terça (10/08)
O processo em curso no país é chamado, lembra-se Valle de 'Revolução Cidadã'. “Então todos estão convocados e estão saindo propostas muito interessantes. Sabemos que temos que ter essa retroalimentação do nosso povo”, afirma.
Em seu congresso, realizado em 17 de julho, a Conaie (Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador), um dos principais movimentos organizadores da paralisação desta quarta, no entanto, tirou como resolução o não comparecimento aos chamados de diálogo do governo.
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O deputado, que é um dos 100 congressistas do Aliança País, partido governista, entre as 137 cadeiras do Congresso, ressaltou que o processo de consultas não deverá ficar simplesmente no plano da formulação ao término da convocatória, serão revistos artigos de leis que estão afetando a população e também propostas novas medidas.
Ele ressalta, em referência ao movimento desta quarta, que o governo “não vai ceder a pressões ou ameaças. Assim não vamos mudar nada”.
Golpe suave
Desde o início dos protestos, o governo diz defender o legítimo direito a manifestações, mas denuncia a orquestração de um golpe suave no país.
Reprodução/ Twitter
Reuniões com movimentos sociais estão sendo realizadas em todo o país em comunidades, bairros e associações
Valle faz coro a essa posição. “Denunciamos todas as cinco fases do golpe suave. A oposição está bem organizada e incitando ódio nos manifestantes para que saiam e realizem atos de vandalismo. (…) se não podem nos derrubar, a estratégia é nos desacreditar”.
Em específico, o correligionário de Correa conclui que, como parte dessa campanha, se a proposta que permite a reeleição indefinida — a partir da qual o mandatário que já foi reeleito uma vez poderá concorrer novamente em 2017 — for aprovada pelo Congresso, “o candidato [Correa] chegará totalmente debilitado pelas mentiras e acusações que não têm sustento”.