Terça-feira, 10 de junho de 2025
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O Ministério Público do Equador solicitou formalmente à Justiça a inclusão de três lideranças do correísmo no país às investigações do ‘Caso Ligados’, sobre um suposto esquema de “associação ilícita” envolvendo decisões políticas e nomeações estratégicas.

O pedido foi encaminhado para a Justiça na segunda-feira (19/05) pela procuradora-geral Diana Salazar, que ainda deve definir uma data para dar avanço ao processo. A Procuradoria-Geral equatoriana pede que sejam investigados o ex-candidato presidencial e o secretário-executivo do movimento Revolução Cidadã, Andrés Arauz, a ex-deputada Esther Cuesta e o ex-superintendente de Bancos, Raúl González.

A Opera Mundi, Arauz, que disputou a Presidência em 2021 e a vice-presidência em 2023, classificou a acusação como “eminentemente política” e a associou ao contexto de uma eleição presidencial de caráter “completamente ilegítimo” em decorrência das inconsistências institucionais verificadas no processo eleitoral.

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“A ausência de autorização compulsória do presidente [Noboa] para nomear o vice-presidente, um golpe de Estado contra a vice-Presidência interina durante a campanha eleitoral e uma série de gastos dias antes da eleição sem justificativa técnica ou jurídica. Neste contexto de eleição ilegítima, a escolha de Noboa tem sido tentar impedir a participação política da oposição, ou seja, da Revolução Cidadã em todos os seus aspectos”, explicou o secretário.

Segundo ele, existe atualmente uma espécie de “boicote” aos parlamentares que compõem o Revolução Cidadã, no qual as autoridades “não dão a palavra” e não reconhecem a legitimidade da coalizão.

“Como secretário-geral da Revolução Cidadã, tenho várias reclamações. Este é o primeiro caso na área criminal que avançou para a fase de acusação. Qual é a acusação? A acusação é que eu tuitei em solidariedade a Augusto Verduga, membro do Conselho de Participação Cidadã, quando seu assessor foi assassinado no Equador pelo crime organizado”, contou.

De acordo com o secretário, a acusação proferida por um dos legisladores do ADN alegou que ele supostamente tinha informações relacionadas a esse assassinato. Entretanto, a mídia argumenta que ele teria coordenado com membros do Conselho de Participação Cidadã para ter um superintendente bancário progressista e não um superintendente bancário de direita.

Arauz afirmou que “os poderes bancários e econômicos estão se vingando” uma vez que ele, em especial, tem denunciado os abusos do setor bancário quanto os vínculos entre este e o narcotráfico e o crime organizado no Equador. Ele ainda recordou que os dois últimos presidentes do país eram donos de bancos: Guillermo Lasso é dono do Banco de Guayaquil, e Daniel Noboa é dono do Banco del Litoral.

“Essa é a situação, é uma acusação absolutamente política. Eles acusam ​​de associação criminosa, que é um crime genérico que não exige prova da prática de um crime específico. Não há ataque à vida, à fé pública, à propriedade privada ou pública, nem contra as mulheres, nem contra nada. Mas simplesmente a associação ilícita, ou seja, a tentativa de ter falado sobre o que eles consideram que poderia ser considerado um crime político. Dizem que a influência política é punível, o que não é correto no Equador”, criticou, acrescentando que a denúncia, pelo contrário, faz parte do direito à liberdade de expressão. 

Ainda na plataforma X, Arauz acusou a perseguição política e mencionou que a ADN o denunciou por um tuíte. “Eles me acusam de associação ilícita: o promotor disse que eu queria ‘tomar o poder do Estado’. Na realidade, eles me perseguem porque eu sempre coloco meu dedo na ferida. Eles estão vindo atrás de mim porque eu desmascarei como a oligarquia opera e como os narco-banqueiros operam. Posso ver que eles sentiram falta da minha presença. Se eles me procuram, eles me encontram’, afirmou.

Ex-candidato presidencial do Equador rejeita ‘acusação políitica’ do Ministério Público contra ele por suposta ‘associação ilícita’
X/Andrés Arauz

Entenda o caso

A perseguição política no Equador ganhou um novo capítulo nesta semana, com a procuradora-geral Diana Salazar acusando Arauz de “associação ilícita” com base em uma publicação realizada na plataforma X. A alegação, rechaçada por membros ligados ao Revolução Cidadã, é a mais recente de uma série de ações judiciais contra opositores do presidente reeleito de extrema direita Daniel Noboa.

O ‘Caso Ligados’ ganhou destaque quando a Procuradoria-Geral do Equador vinculou, anteriormente, várias figuras políticas à “associação ilícita”, acusando ex-integrantes do Conselho de Participação Cidadã e Controle Social (CPCCS), entre eles Augusto Verduga, Eduardo Franco e Yadira Saltos.

As autoridades afirmaram que chegaram aos nomes de Arauz, Cuesta e González após a análise de mensagens encontradas no telefone de Verduga e nos aplicativos, indicando articulações entre lideranças ligadas ao Correísmo na atuação de comissões legislativas para favorecer as decisões do CPCCS.

O MP investiga se houve manobras políticas e irregularidades na tentativa de nomear González como Superintendente de Bancos para o período 2022–2027, após uma decisão do Tribunal Constitucional proibir a designação. Entretanto, aliados do Correísmo interpretam as recentes manobras como uma perseguição política coordenada pelo governo de Noboa, por meio da Justiça, com o objetivo de enfraquecer forças opositoras.