Uma reportagem publicada nesta quarta-feira (12/02) pelo jornal espanhol El País afirma que o empresário sul-africano naturalizado estadunidense Elon Musk tem usado seu cargo como chefe do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, por sua sigla em inglês) para favorecer suas próprias empresas a partir de decisões impulsionadas por ele dentro da administração pública.
A matéria é assinada pelo jornalista Miguel Jiménez, correspondente do diário espanhol em Washington, que acusa o bilionário de obter benefícios pessoais com as políticas de cortes massivos de pessoal e eliminação de algumas agências governamentais, anunciadas nas primeiras semanas do segundo mandato do presidente Donald Trump.
Vale lembrar que o atual mandatário prometeu, durante a campanha eleitoral de 2024, criar o DOGE como um departamento especial para entregá-lo a Musk, um dos seus apoiadores mais importantes – o magnata sul-africano participou de diversos comícios e chegou a sortear prêmios em dinheiro para pessoas que prometessem votar no candidato do Partido Republicano.
De acordo com a reportagem do El País, além dos cortes orçamentários e das agências eliminadas, o bilionário também tem utilizado o cargo para manipular os processos que enfrenta na Justiça. A matéria relata que ao menos dois diretores de agências federais que investigavam empresas de Musk pediram demissão, e que uma agência que investigava dezenas de queixas contra a Tesla foi fechada.
“O caso não tem precedentes”, afirma Jimenez em sua reportagem sobre os conflito de interesse que envolvem as decisões tomadas por Musk, e que, em alguns casos, tem sido contestados pela Justiça norte-americana.
Fechada a agência onde havia dezenas de queixas sobre a Tesla
Musk também decidiu fechar o Consumer Financial Protection Bureau, órgão de defesa dos consumidores que já recebeu dezenas de denúncias contra a Tesla, a fabricante de carros elétricos da qual Musk é acionista majoritário.
Durante a campanha eleitoral, o empresário declarou a analistas de mercado que, se Trump ganhasse as eleições, ele criaria um caminho federal mais simples para a aprovação de veículos autônomos, em substituição das complicadas regras estaduais que vigoram hoje.
Também durante a campanha, Musk disse que era preciso acabar com tanta regulamentação na área aeroespacial. “A menos que haja um esforço consistente de desregulamentação, Marte será impossível. Estaremos confinados para sempre na Terra”, afirmou, em um comício na Pensilvânia.
Vale lembrar que os lançamentos da SpaceX, de Musk, foram interrompidos pela Autoridade Federal de Aviação (AFA) para investigações depois que o último explodiu obrigando vários voos comerciais a desviarem suas rotas. O chefe do departamento pediu demissão depois que Trump assumiu a Presidência.
Mudanças regulatórias ajudam suas companhias
Na função que ocupa atualmente, Musk tem poder para criar uma estrutura regulatória mais favorável ao lançamento dos foguetes da sua empresa SpaceX, para a inteligência artificial de sua propriedade ou para os testes de implantes para o cérebro, feitos pela Neuralink, da qual Musk também participa.
Trump tem nomeado pessoas indicadas por Musk para diversos altos cargos da administração. Para chefiar a NASA, o nome escolhido foi o do astronauta amador Jared Isaacman, maior cliente da SpaceX. Outro velho conhecido de Musk é David Sacks, nomeado por Trump “czar das criptomoedas e da inteligência artificial”.

Elon Musk ao lado de um carro da Tesla, empresa que está sendo investigada por agências governamentais
Processos e investigações contra negócios de Musk
A Tesla é suspeita de ter exagerado as capacidades de direção autônoma de seus carros e de ter enganado os clientes sobre a autonomia que seus veículos elétricos teriam antes de precisarem recarregar.
Todas essas investigações estão a cargo de organismos públicos, sobre os quais Musk agora pode praticar seus cortes.
Musk também foi processado pela Comissão de Câmbio e Valores Mobiliários (SEC, da sigla em inglês) por infringir a lei e enganar investidores na compra do Twitter. Ele teve lucro líquido de mais de US$ 150 milhões na operação. A mesma comissão tem uma investigação aberta contra a sua empresa Neuralink. Depois que Trump assumiu, o presidente da comissão já renunciou e Trump indicou Paul Atkins para o cargo.
Os sindicatos também denunciam que o DOGE teve acesso ao sistema de dados do Departamento Federal do Trabalho. O sistema armazena muitas reclamações contra suas empresas por abusos e práticas discriminatórias, além de segredos comerciais de concorrentes. Além disso, a área está com sua capacidade de fiscalizar e sancionar comprometida porque Trump demitiu vários membros do Conselho Nacional de Relações Trabalhistas.
A fortuna que mais cresceu no mundo
Ao ser questionado sobre possíveis conflitos de interesse, na entrevista coletiva que deu ao lado do presidente na terça-feira (11/02), Musk alega que todas as ações do DOGE são transparentados em publicações em sua conta no X.
Críticos do bilionário contestam essa informação e afirmam que os dados divulgados contém informações imprecisas, e algumas delas falsas.
Durante o ano eleitoral, a fortuna de Musk foi a quem mais cresceu entre todos os bilionários do mundo. O aumento foi de cerca de US$ 133 bilhões, quase todo concentrado em dois meses, sobretudo após a vitória de Trump. Musk foi o maior financiador da campanha de Trump – além de doar milhões de dólares e colocar os algoritmos do X a serviço da campanha.
Com informações do El País.