Indagado se a gripe suína fez diminuir as vendas de carne de porco, o atendente de açougue do supermercado Extra, Pereira, demonstra tranqüilidade. “Ainda não notamos mudança na quantidade das vendas de carne de porco, até porque as notícias da gripe só começaram recentemente”, declara. Prudente, Pereira acrescenta: “Pode ser que depois as vendas diminuam, mas ainda não dá pra saber”.
Mesmo com essa estabilidade confirmada pela Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), os profissionais do setor não escondem o temor de ver as vendas derrubar. Nesta terça (28), a Abipecs enviou um ofício à diretora geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), pedindo a mudança de denominação da gripe.
Segundo o presidente executivo da associação, Camargo Neto, o assunto da gripe, que a Abipecs vem chamando de ‘mexicana’, estaria muito mal explicado, confundindo a população. “Há uma tendência, até certo ponto, de comparar o que vem ocorrendo nestes dias com a gripe aviária, quando as aves estavam doentes e morriam”, explica.
Quarto exportador mundial
Para ele, esta confusão não faz sentido. “Com relação aos suínos, não há um só animal afetado no México ou em outros países. Hoje, o que vemos na TV é a imagem de pessoas com máscaras, não do rebanho suíno infectado, que não existe”, declara.
Camargo Neto vem insistindo na necessidade de as autoridades brasileiras e internacionais explicarem o que está acontecendo para evitar perdas por parte dos criadores de suínos. Até o começo desse ano, a indústria de carne de porco estava em crescimento. Ao final de 2008, tinha exportado 1,48 bilhão de dólares (pouco mais de três bilhões de reais) – um aumento de 20% em relação a 2007 que firmou o país como quarto maior exportador mundial de carne suína.
A assessora do Ministério da Agricultura, Eliane Santos, explicou ao Opera Mundi que o Ministério ainda não se pronunciou porque o contágio só tem se dado entre humanos, e não há animais infectados. “Até agora não foi detectado nenhum foco de infecção animal, e as relações comerciais continuarão normalmente. De qualquer maneira, o Brasil mais exporta do que importa, e não importa nenhuma carne suína do México”.
“Nova gripe”
Esta reivindicação de uma comunicação melhor surgiu em vários outros países. A Comissão Européia (órgão executivo da União Européia) insistiu nesta terça que os casos de gripe suína em humanos não têm relação com o consumo de carne de porco.
A comissária de Saúde da União Européia (UE), Androulla Vassiliou, mostrou o interesse da Comissão em batizar como “nova gripe” a infecção confirmada em humanos no México, EUA ou Espanha, a fim de que os cidadãos não a associem mais ao setor suíno.
Além disso, fontes da Comissão lembraram que, se um porco estiver infectado, pode sim transmitir a doença por via aérea, mas as possibilidades de contagiar humanos são inferiores que no caso da gripe aviária.
Matem os porcos
No Egito, parlamentares pediram na Câmara Baixa do Parlamento o sacrifício de todos os porcos do país, cujo número se calcula em aproximadamente 350 mil. Os deputados pediram ao Governo que isole as fazendas de porcos e as transfira para longe dos núcleos urbanos, para evitar que a gripe suína possa se estender.
A solicitação coincide com as primeiras medidas adotadas pelo Ministério da Saúde egípcio para prevenir que a doença chegue ao país. A carne de porco é consumida majoritariamente pela minoria cristã, que constitui 10% da população, já que o consumo de carne suína é proibido pela religião muçulmana, maior do país. Outros países árabes da região, como o Líbano e a Jordânia, já proibiram a importação de carne de porco.
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