O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse que vai “pelo menos dobrar” o tamanho e a capacidade de seu Exército, em reação às notícias de que a Colômbia permitirá que tropas dos Estados Unidos ocupem quatro bases militares no país andino.
Chávez qualificou o acordo entre Colômbia e Estados Unidos de “ato hostil” e disse que seu governo conversa com a Rússia sobre a compra de armamentos para incrementar as Forças Armadas da Venezuela. “Há uma força militar ianque se agrupando em nosso flanco esquerdo”, afirmou ele. “O que a Colômbia quer? Que fiquemos quietos?”.
A declaração provocou temores de uma possível corrida armamentista entre os países vizinhos, à medida que ambos reagem ao que consideram ameaças militares.
A situação diplomática entre os dois países se agravou ontem (28), quando Chávez mandou retirar seu embaixador na Colômbia, Gustavo Márquez, e outros funcionários diplomatas, após chamar o líder colombiano, Álvaro Uribe, de “irresponsável” pelas acusações de desvio de armas venezuelanas para as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
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Chávez tem investido pesadamente na atualização do arsenal da Venezuela. “Acredita-se que ele comprou entre 9 bilhões e 10 bilhões de dólares em armas, principalmente da Rússia, dentre elas, 24 aviões Sukhoi-30-C, 50 helicópteros tipo MI e 100 mil fuzis Kalashnikov”, disse Rocio San Miguel, presidente da Associação Civil Controle Cidadão para a Segurança, a Defesa e a Força Armada Nacional.
San Miguel acredita que as reclamações de Chávez são legítimas diante da falta de confiança entre a Colômbia e seus vizinhos. No entanto, ressalta que a situação também foi uma desculpa para que Caracas compensasse a fraqueza de suas defesas ao longo da fronteira oeste.
“Numa década com apenas um governo, no qual a questão poderia ter sido tratada, nos vemos sem planos para um sistema de defesa nacional”, afirma San Miguel. “A descoberta de que devemos fortificar a fronteira oeste parece bem recente”, completa.
Relações tensas
A tensão entre a Venezuela e a Colômbia atingiu seu clímax em março do ano passado, quando Chávez enviou batalhões de tanques à fronteira entre os dois países, em resposta a um ataque colombiano contra um acampamento das Farc em território do Equador.
As relações entre os dois países, que compartilham uma fronteira de 2.219 quilômetros, pareciam ter melhorado no início deste ano, depois que Chávez e sua contraparte ideológica, o presidente Álvaro Uribe, reuniram-se para discutir questões de energia e comércio bilateral.
Dependência de alimentos
A Colômbia é o segundo maior exportador de alimentos para a Venezuela, depois dos Estados Unidos, com o comércio alcançando 7,4 bilhões bilhões em 2008. Embora estejam com relações estremecidas, Chávez descartou a possibilidade de recorrer a países como o Brasil para se livrar da dependência das importações colombianas.
“A situação econômica da Venezuela significa que as ameaças de Chávez provavelmente não passarão da retórica, afirmou ao Opera Mundi Alfredo Rangel, diretor da Fundação Segurança e Democracia.
Ele ressalta que a Venezuela produz apenas 4% do que consume e, por conta da dependência dos alimentos vindos da Colômbia e dos Estados Unidos, acredita que não haverá rompimento. “Por isso, com os Estados Unidos, ele vocifera e grita, mas nunca fez nada real e efetivo que representasse uma ruptura. Fica sem comida”, finaliza Rangel.
*Com reportagem de Camila Moraes, de Bogotá
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