Entre 55 e 90 milhões de pessoas devem cair este ano na extrema pobreza, ou seja, sobreviver com menos de 1,25 dólar por dia (2,44 reais), de acordo com o primeiro balanço da ONU (Organização das Nações Unidas) da crise financeira mundial, no relatório sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).
Os ODM são metas concretas e quantificáveis estipuladas pela comunidade internacional no ano 2000. Assinando este documento, 191 países se comprometeram daqui a 2015 a atingir oito objetivos: acabar com a fome e a pobreza, universalizar a educação básica, promover a igualdade de gênero, reduzir a mortalidade infantil, melhorar a saúde das gestantes, combater a Aids, reduzir desemprego e respeitar o meio ambiente.
O relatório da ONU marca o primeiro retrocesso desde a adoção dos objetivos, sendo que a meta era reduzir o número total de pobres pela metade. O documento mostra que a quantidade de pessoas na extrema pobreza no mundo em desenvolvimento passou de 1,8 bilhão para 1,4 bilhão entre 1990 e 2005.
Ganhos revertidos
Ao apresentar o relatório ontem (6) em Genebra, o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu à comunidade internacional mais vontade política para se alcançar as Metas do Milênio. Além do impacto da crise financeira, ele abordou a gravidade da crise de alimentos ocorrida no ano passado e que “reverteu a tendência de quase duas décadas na redução da pobreza”.
Em 1992, 20% da população mundial passava fome, e esse número foi reduzido para 16% em 2006. Mas estes ganhos foram revertidos como conseqüência da alta nos preços de alimentos. Segundo Ban Ki-Moon, em 2008, novamente, 20% do mundo é vítima da fome.
É na África Subsaariana, no subcontinente indiano e no Oriente Medo que a inversão de tendência em relação à extrema pobreza é mais preocupante. A parte de pessoas vivendo com menos de 1,25 dólar por dia passou respectivamente de 59% para 64%, de 38% para 44%, e de 10% para 25%.
Meio caminho
Além do impacto da crise financeira e do aumento dos preços de alimentos, o Secretário-Geral advertiu que até agora, os progressos têm sido “lentos demais” para permitir a implementação dos objetivos do milênio daqui a 2015. Ele lembrou que já estávamos a meio caminho do limite do prazo fixado.
Sobre a meta referente ao saneamento básico, Ban Ki-Moon sustentou que 1,4 bilhão de pessoas deveriam ter acesso ao serviço até 2015. A falta deste tipo de estrutura ameaça a saúde de pelo menos 2,5 bilhões de pessoas no mundo.
Ele acionou o sinal amarelo em relação à saúde das crianças. Nas regiões em desenvolvimento, mais de quarto delas têm peso insuficiente para a sua idade e os escassos progressos na alimentação infantil realizados entre 1990 e 2007 são insuficientes para permitir que seja atingida a meta fixada de reduzir a taxa de mortalidade infantil mundial em dois terços até 2015.
O objetivo de eliminar a disparidade de gênero nos ensino fundamental e médio já fracassou, pois teve seu prazo expirado em 2005. Com o recente aumento do desemprego, que prejudica mais as mulheres que os homens, a situação deve piorar.
Ban também se mostrou muito preocupado com a situação da saúde materna, uma das áreas que registraram menos progressos. “A cada minuto, uma mulher morre no parto, e 99% dessas mortes ocorrem em países em desenvolvimento, algo que deve ser inaceitável para todos nós”, destacou.
América Latina
A América Latina e o Caribe fizeram progresso na luta contra a pobreza extrema de 1999 a 2005 com redução de 11% para 8% de sua população vivendo com menos 1,25 dólar por dia. Mas segundo a projeção da ONU, em 2009 esse número deverá ser maior do que o esperado antes da crise.
A proporção de pessoas com fome diminuiu de 12% em 1990 e 1992 para 8%t em 2004 2006, mas parou em 2008. De acordo com um relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), o número de pessoas com fome na região em 2009 será de 53 milhões, 13% mais alto que em 2008.
Apesar do pessimismo, o informe da ONU destaca alguns êxitos na região. América Latina e Caribe tiveram grandes progressos em alfabetização primária – atualmente, cerca de 95% das crianças da região estão matriculadas. Também houve progresso em prover oportunidades iguais para mulheres em educação e empregos – 45% de seus empregos pagos fora da agricultura são ocupados por mulheres.
Leia a íntegra do relatório aqui
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