O Banco Central do México comunicou que em outubro houve uma queda recorde no montante de remessas de mexicanos vivendo fora do país. No mês, os depósitos caíram 36% – nível mais baixo dos últimos 10 anos. O desemprego nos Estados Unidos, destino da maioria dos imigrantes, é apontado como o maior responsável pela diminuição.
Duramente golpeada pela crise econômica e pela queda do PIB (Produto Interno Bruto) em 12% e do turismo em conseqüência da epidemia de gripe A (H1N1), a economia mexicana depende das remessas.
“As remessas são como o oxigênio para a minha família”, contou ao Opera Mundi Julia Moreno, mãe de três filhos. “Apesar de tanto eu quanto meu marido trabalharmos, sem os dólares que vêm de parentes nos EUA não podemos manter a família. E vivendo como nós há muitos”, completou.
Como muitas mulheres de Iztapalapa – distrito pobre da Cidade do México –, Júlia, nascida em Oaxaca, estado de origem da maioria dos mexicanos que viaja à procura de fortuna nos EUA, trabalha nas casas de famílias de profissionais da rica colônia de Condesa. O marido é pedreiro. “Sem o dinheiro do meu irmão e irmã, que vivem em Albuquerque, não conseguiríamos manter a escola dos nossos filhos ou pagar despesas médicas. A crise mexicana já nos afeta. Se as remessas realmente diminuírem, não existirá saída, vamos ter que roubar ou mendigar”, afirmou.
Em queda
Os recursos têm registrado um declínio constante durante todo o ano. A desaceleração da economia norte-americana e a queda do número de empregos em setores que contratam a mão de obra mexicana – construção civil, por exemplo – tiveram grande efeito.
O investigador econômico do Instituto Tecnológico de Monterrey, Carlos Canfield, disse em entrevista ao jornal Milênio que “a forte queda dos recursos obedece a elevada taxa de desemprego ao redor do mundo, particularmente nos EUA, onde supera os 10%.”
“O setor da construção civil se mantém fraco. Por ser uma atividade que concentra uma importante massa trabalhadora de imigrantes, os efeitos recaem diretamente sobre as remessas. Esta queda repercutirá no consumo e na produção do México”, concluiu.
Nos primeiros 10 meses de 2009, os depósitos que ingressaram no país somaram cerca de 1,8 bilhões de dólares, 16% a menos que o registrado no mesmo período de 2008.
O total das remessas desse ano foi de 1 bilhão e 692 milhões de dólares de dólares, quando em outubro de 2008 chegaram ao México 2 bilhões e 636 milhões de dólares.
Seguindo essa tendência, no final do ano o México poderia receber menos de bilhões de dólares por remessas, uma queda de 20% em comparação aos 2,5 bilhões de dólares de 2008.
Pobreza
Há poucos dias, o secretário de Desenvolvimento Social, Ernesto Cordero, declarou que “a atual crise econômica provocou um retrocesso nos índices de pobreza similares aos de 2005. Isto representa um aumento de seis milhões de mexicanos nessa situação.”
Segundo Cordero, atualmente 47,4 % da população vive na pobreza, ou seja, com ingressos inferiores a 1,9 mil pesos mensais (148 dólares) nas cidades e menos de 1,2 mil nas zonas rurais (94 dólares).
John Moore/AFP
Imigrante mexicana leva filha de quatro dias de idade a um centro de saúde para pessoa de baixa renda,
em Denver, EUA. Com a recessão no país e o aumento da pobreza, a procura por clínicas assim aumentou 138% este ano
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