Apenas algumas semanas depois da decisão do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de proibir todos os agentes do governo de usarem a tortura em interrogatórios, um relatório do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) revela que profissionais da área da saúde participaram diretamente de maus-tratos contra suspeitos de terrorismo em prisões secretas da CIA.
Isso constitui uma “flagrante violação da ética médica”, afirma o documento confidencial do CICV, escrito em 2007 a partir do depoimento de 14 prisioneiros que foram levados a Guantánamo no final de 2006.
O jornalista Mark Danner, especialista na questão de tortura, já havia divulgado boa parte do texto em um artigo publicado em março. Na noite de segunda-feira (7), ele publicou pela primeira vez as conclusões da Cruz Vermelha sobre ética médica no site do The New York Review of Books
Artista iraquiano Salaheddin Sallat pinta um prisioneiro iraquiano sendo torturado pela Estátua da Liberdade, em 23 de maior de 2004. Os maus-tratos no presídio de Abu Ghraib estão entre os fatos negativos mais marcantes da invasão norte-americana ao Iraque. Crédito: Nabil Mounzer/EFE
“Submarinos”
Segundo o informe, equipes médicas supervisionaram sessões da prática conhecida como “submarino” (afogamento), aplicada em suspeitos de terrorismo. Eles estavam presentes quando os prisioneiros foram lançados contra a parede, submetidos a variações de temperatura extremas, ou impedidos de dormir durante vários dias.
O artigo cita o caso de Khalid Shaikh Mohammed, suposto idealizador dos atentados de 11 de setembro de 2001. Ele declarou aos investigadores que quando foi afogado em um interrogatório, sua pulsação e nível de oxigênio eram monitorados. Segundo ele, os médicos pediram em varias ocasiões que os procedimentos fossem interrompidos.
Um outro prisioneiro, Encep Nuraman, recorda a frase de um dos médicos que assistia a tortura: “Eu me preocupo com seu corpo só porque precisamos de informação”.
Bush
Segundo a Cruz Vermelha, a suposta participação dos médicos nos interrogatórios é equivalente a uma participação direta na tortura, mesmo se a intenção dos médicos fosse evitar a morte dos prisioneiros.
No relatório de 40 páginas, a organização condena veementemente a CIA não só por usar a tortura e outros tratamentos cruéis, mas também pela detenção de prisioneiros sem avisar governos ou as famílias. “A totalidade das circunstâncias em que os 14 foram detidos corresponde a uma privação arbitrária de liberdade e desaparecimento forçado, em violação do direito internacional”, diz o relatório.
O texto também fornece detalhes sobre a falta de cooperação da administração Bush com a Cruz Vermelha durante vários anos, especialmente a partir de 2002 em relação aos programas de detenção.
Pouco tempo depois de tomar posse em janeiro, Barack Obama ordenou o fechamento dos centros de detenção secretos da CIA e pediu que a Cruz Vermelha fosse informada dos nomes de todas as pessoas detidas pela CIA ou qualquer outra agência.
A CIA assegura, porém, que ninguém será processado ou punido pelos atos, já que os métodos de interrogatório da CIA foram declarados legais pelo departamento de Justiça sob o presidente George W. Bush.
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