Terça-feira, 10 de junho de 2025
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Apenas algumas semanas depois da decisão do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de proibir todos os agentes do governo de usarem a tortura em interrogatórios, um relatório do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) revela que profissionais da área da saúde participaram diretamente de maus-tratos contra suspeitos de terrorismo em prisões secretas da CIA.

Isso constitui uma “flagrante violação da ética médica”, afirma o documento confidencial do CICV, escrito em 2007 a partir do depoimento de 14 prisioneiros que foram levados a Guantánamo no final de 2006.

O jornalista Mark Danner, especialista na questão de tortura, já havia divulgado boa parte do texto em um artigo publicado em março. Na noite de segunda-feira (7), ele publicou pela primeira vez as conclusões da Cruz Vermelha sobre ética médica no site do The New York Review of Books

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Artista iraquiano Salaheddin Sallat pinta um prisioneiro iraquiano sendo torturado pela Estátua da Liberdade, em 23 de maior de 2004. Os maus-tratos no presídio de Abu Ghraib estão entre os fatos negativos mais marcantes da invasão norte-americana ao Iraque. Crédito: Nabil Mounzer/EFE



“Submarinos”

Segundo o informe, equipes médicas supervisionaram sessões da prática conhecida como “submarino” (afogamento), aplicada em suspeitos de terrorismo. Eles estavam presentes quando os prisioneiros foram lançados contra a parede, submetidos a variações de temperatura extremas, ou impedidos de dormir durante vários dias.

O artigo cita o caso de Khalid Shaikh Mohammed, suposto idealizador dos atentados de 11 de setembro de 2001. Ele declarou aos investigadores que quando foi afogado em um interrogatório, sua pulsação e nível de oxigênio eram monitorados. Segundo ele, os médicos pediram em varias ocasiões que os procedimentos fossem interrompidos.

Um outro prisioneiro, Encep Nuraman, recorda a frase de um dos médicos que assistia a tortura: “Eu me preocupo com seu corpo só porque precisamos de informação”.

Bush

Segundo a Cruz Vermelha, a suposta participação dos médicos nos interrogatórios é equivalente a uma participação direta na tortura, mesmo se a intenção dos médicos fosse evitar a morte dos prisioneiros.

No relatório de 40 páginas, a organização condena veementemente a CIA não só por usar a tortura e outros tratamentos cruéis, mas também pela detenção de prisioneiros sem avisar governos ou as famílias. “A totalidade das circunstâncias em que os 14 foram detidos corresponde a uma privação arbitrária de liberdade e desaparecimento forçado, em violação do direito internacional”, diz o relatório.

O texto também fornece detalhes sobre a falta de cooperação da administração Bush com a Cruz Vermelha durante vários anos, especialmente a partir de 2002 em relação aos programas de detenção. 

Pouco tempo depois de tomar posse em janeiro, Barack Obama ordenou o fechamento dos centros de detenção secretos da CIA e pediu que a Cruz Vermelha fosse informada dos nomes de todas as pessoas detidas pela CIA ou qualquer outra agência.

A CIA assegura, porém, que ninguém será processado ou punido pelos atos, já que os métodos de interrogatório da CIA foram declarados legais pelo departamento de Justiça sob o presidente George W. Bush.

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