Quarta-feira, 9 de julho de 2025
APOIE
Menu

O vice-ministro das Relações Exteriores de Cuba (Minrex), Carlos Fernández de Cossio, explicou nesta quarta-feira  (02/06) tudo o que diz respeito ao recém-anunciado Memorando dos Estados Unidos contra o governo e o povo cubano que, segundo o diplomata, tem por trás a influência do secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio e de setores anticubanos.

No programa de televisão cubano Mesa Redonda, o diplomata cubano explicou que o Memorando não diz a razão pela qual isso está acontecendo agora, nem as declarações do governo dos Estados Unidos o detalham, acrescentando que o conteúdo anunciado pelo documento “tem sido aplicado desde o dia em que Trump assumiu o cargo em janeiro”. Ele ressaltou que algumas das restrições incluídas no Memorando já estavam sendo aplicadas pelo governo do ex-presidente Joe Biden.

O diplomata cubano destacou que uma das razões do reforço da política de pressão máxima contra Cuba pode estar ligada à influência do Secretário de Estado dos Estados Unidos e descendente de migrantes cubanos, Marco Rubio. Ele poderia estar recebendo “pressões dos segmentos anticubanos que financiaram sua carreira, que o promoveram politicamente e o colocaram na (posição) em que está agora”, afirmou.

Receba em primeira mão as notícias e análises de Opera Mundi no seu WhatsApp!
Inscreva-se
Cuba aponta que Marco Rubio pode estar por trás de Memorando contra a Ilha
Gage Skidmore / Wikimedia Commons

“Talvez eles estejam exigindo, em meio à euforia na política externa dos EUA de impor a paz pela força, a nova doutrina da política externa [norte-americana], que ele faça algo semelhante com Cuba”, acrescentou Cossío.

Citando a declaração oficial do Ministério das Relações Exteriores de Cuba, ele enfatizou que a Proclamação Presidencial de Segurança Nacional para o ano de 2017 foi “reeditada com um conjunto de emendas”.

Política agressiva

Uma segunda razão poderia estar relacionada à necessidade de “dar uma espécie de advertência ou lição, já que se sabe que a política agressiva contra Cuba não goza de consenso nos Estados Unidos”, afirmou. “Não se pode dizer que é uma política que tem o apoio da maioria”, enfatizou, indicando que “há grandes segmentos da população que se opõem a ela”.

“Existem elementos dentro do governo dos EUA que se opõem. Há agências no governo dos EUA que consideram [a medida] contra os interesses da segurança nacional ou outros interesses, e que não contribui para o que é realmente do interesse do país e que responde a interesses muito estreitos”, afirmou.

Como terceira razão, o alto funcionário das Relações Exteriores cubana apontou a “intenção de intimidar o povo de Cuba”, a fim de anunciar aos cubanos que Washington está vindo desta vez com uma política agressiva, “como se o povo cubano fosse facilmente intimidado”, disse.

Cossío avalia que se os norte-americanos fossem informados da realidade de Cuba e das características da política de Washington contra Cuba que os proíbe de turismo na Ilha, “certamente a maioria se oporia”.

Intimidação

Ele também se referiu às viagens feitas pelo encarregado de negócios da Casa Branca em Havana, “que está andando pelo país fazendo perguntas aos cubanos”. Segundo o diplomata, ele deveria fazê-lo em seu próprio país para ouvir o que os americanos pensam sobre as medidas de pressão máxima de Washington contra Cuba.

Além da mão de Marco Rubio, por trás do Memorando está a família Bacardi que “paga, entre eles (o Secretário de Estado), muito dinheiro pela agressão contra Cuba”, declarou.

Sobre o que estipula o Memorando, o diplomata cubano enfatizou ser preciso esperar um pouco mais, porque o próprio texto explicita que setores do governo devem apresentar uma proposta e declarar as regras de sua aplicação. Até que elas sejam esclarecidas, não é possível “aferir qual o significado que terão”, afirmou.

O diplomata cubano disse que o texto aponta canhões para o setor não estatal/privado cubano. “É uma questão que gera debates nos Estados Unidos, mas é claro que eles querem punir o setor privado de Cuba de uma forma ou de outra e incluem ameaças nessa direção”, alertou.

Embargo

Ele também enfatizou que existem ameaças contra instituições ou entidades que exportam para Cuba sob licença. “Temos que esperar pelas regras, mas há declarações que ameaçam as pessoas nos EUA que, com licenças norte-americanas, estão exportando para o setor privado em nosso país”, enfatizou.

Ele também ressaltou que há uma “mensagem intimidadora contra os cubanos que residem [nos EUA] em relação às viagens. É algo que já vem acontecendo de forma oportunista e cruel e sem que haja nenhuma regra ou política oficial de proteção. Espalhou-se o boato de que o cubano residente nos Estados Unidos, se viajar a Cuba, corre riscos de perder sua residência”.

Isso implicaria uma característica discriminatória contra os cubanos. “Nos Estados Unidos há residentes de múltiplas nacionalidades e eles teriam que tomar uma medida muito específica e muito discriminatória contra os cubanos nesse sentido, o que implicaria uma traição adicional”, afirmou.

“Eles já estão traindo os cubanos que convidaram, aqueles que receberam tratamento privilegiado ao entrar pela fronteira, apoiando todas as ações anti-imigrantes, incluindo a prisão de crocodilos da Flórida, uma coisa atroz, mas onde os cubanos também podem parar”.

Proibição do turismo

Sobre a proibição do turismo norte-americano na Ilha, Cossío argumentou que esse público turístico não “existe” mais. “O cidadão norte-americano pode viajar para qualquer país do mundo, exceto Cuba, porque seu governo o proíbe”, acrescentou.

“Se ele viaja, [a medida] o condiciona, dizendo-lhe onde ele pode ficar, onde  pode comer, se pode dançar ou não, se pode ir à igreja ou não ir à igreja, com quem pode se relacionar e sobre tudo isso tem que ter registros”, afirmou.

Cossío alertou que o objetivo central desta medida é “se apoderar de Cuba e decidir qual é o destino da nação cubana… a partir de uma crença de que Cuba lhes pertence”.

“Isso se choca com o pensamento firmemente defendido por nossa população, de que o destino de Cuba corresponde aos cubanos. Nós é que realmente acreditamos nos direitos soberanos e na autodeterminação”, concluiu.