Impulsionar as esquerdas latino-americanas e celebrar os 20 anos de atuação. Foi com esse horizonte que a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América – Tratado de Comércio para os Povos (Alba- TCP) começou nesta sexta-feira (13/12) a 24ª cúpula dos países membros em Caracas para levantar propostas de articulação entre os movimentos populares do continente.
O secretário-geral da organização, Jorge Arreaza, abriu o primeiro evento dos dois dias de atividade. Durante o Conselho de Movimentos Populares da Alba, Arreaza destacou a importância do fortalecimento de uma frente que não seja burocrática na atuação e que os governos façam uma articulação que forme organizações para tornar essa movimentação mais efetiva.
“Este conselho deve gerar propostas, para que possamos levantar formalmente a nossa voz na diplomacia entre os Estados, com base no que vocês entregam como conselho social, que não é uma instância que substitua qualquer movimento”, disse na abertura do evento.
O conselho levantou uma série de propostas em um documento que será encaminhado aos movimentos para a execução desses projetos nos 30 países representados na cúpula da Alba. O primeiro deles é a criação de brigadas temporárias. A ideia foi trazida pela dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Messilene Gorete. De acordo com ela, o objetivo é ter um processo de trabalho complexo de organização e formação política em diferentes territórios por períodos específicos.
O projeto tem como base as próprias brigadas do MST que se articulam em diferentes países. Dentro desse projeto, o objetivo é ter três categorias de brigadas: intercâmbio, solidariedade e permanente. Nas brigadas de intercâmbio o intuito é trocar experiências e conhecimentos entre os movimentos de vários países em temas como a agroecologia e produção, feminismos populares e políticas públicas.
As brigadas de solidariedade são voltadas para a vida das pessoas em discussões como direitos humanos e monitoramento de violações desses direitos. As brigadas permanentes teriam o intuito de estimular a cooperação a partir da perspectiva dos povos. O objetivo é fortalecer articulações políticas que já existem em países como Venezuela, Haiti e Zambia.
Outra proposta levantada foi a criação de um Fundo de Solidariedade da Alba para suporte emocional e material nos países integrantes da Alba. A ideia é não só ter recursos para fortalecer a luta, como também para realizar ações com as vítimas do fascismo e dos desastres naturais.
O fundo também poderia ser usado para articular campanhas de solidariedade entre governos e organizações populares.
No eixo da comunicação, a jornalista Florencia Agustina apresentou a proposta de formar uma escola e uma agência de notícias dos movimentos populares. Essas duas ferramentas seriam uma forma de romper com a concentração da informação em grandes empresas que atendem aos “interesses do capital”. Para isso, seria necessário ter correspondentes em diferentes países. Na frente teórica, a meta é criar uma nova teoria comunicacional que faça uma articulação com universidades.
Os movimentos também levantaram a necessidade de ter uma rede de formação política para fazer a disputa ideológica e construir ferramentas de interpretação para a transformação da realidade. Também foi discutida a necessidade de formar estratégias de produção, que sejam pautadas no cooperativismo dentro de uma perspectiva de solidariedade e complementaridade.
Este documento elaborado pelos movimentos foi incorporado a um texto escrito pelos representantes dos governos dos países membros da Alba e será entregue ao presidente da Venezuela Nicolás Maduro, que preside também a 24ª cúpula da Alba por ser chefe do Executivo do país sede desta edição.
Segundo o chanceler venezuelano, Yván Gil, as propostas buscam impulsionar a Alba como um agente importante e um “ator geopolítico poderoso”.
“Este é um desafio importante para os novos tempos. Por isso os nossos chefes de Estado têm uma responsabilidade importante neste sábado (14/12), de poder, em toda esta complexidade que estamos discutindo, traçar um rumo claro para o próximo ano. Em escala global, sabemos que iremos enfrentar um momento de incerteza política no continente e o nosso objectivo é nos preparar para dar maior segurança ao nosso povo”, disse.
O documento assinado entre os chefes de Estado tem como propostas principais criar um plano alimentar, um Acordo Comercial Popular, promover um programa especial de desenvolvimento científico, cultural, comunicativo e acadêmico compartilhado e uma agência para mitigar os impactos das mudanças climáticas.
O texto propõe também relançar o Petrocaribe, programa de fornecimento de petróleo a países caribenhos criado em 2005 pelo então presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Ele durou 14 anos, sendo interrompido apenas depois das sanções estadunidenses contra a indústria petroleira venezuelana em 2019, quando sua estrutura comercial foi desmobilizada.
20 anos da Alba
A organização foi criada em 14 de dezembro de 2004, quando os presidentes de Cuba, Fidel Castro, e Hugo Chávez assinaram o acordo de fundação em Havana. Além de Cuba e Venezuela, fazem parte da Aliança Bolívia, Nicarágua, São Vicente e Granadinas, Antigua e Barbuda Granada, Dominica, São Cristóvão e Névis e Santa Lúcia.
A 24ª edição da Cúpula dos Chefes de Estado terá também Honduras e Palestina entre os convidados. A reunião deste sábado terá um documento final que será firmado pelos presidentes dos países e ministros das Relações Exteriores para a execução das propostas aprovadas.
“Neste sábado, diremos ao mundo que, 20 anos depois, nada mais fazemos do que ratificar e reafirmar cada um dos princípios solidários de cooperação, colaboração, complementaridade, que significa a Aliança Bolivariana”, disse o secretário executivo da Alba-TCP, Jorge Arreaza.