Depois de um primeiro dia intenso, marcado por importantes avanços na renovação das relações entre os Estados Unidos e a América Latina – especialmente com Cuba –, a 5ª Cúpula das Américas se encerrou hoje (19) em um ambiente de anticlímax.
Não houve uma assinatura formal da declaração final: o primeiro-ministro de Trinidad e Tobago, Patrick Manning, se encarregou da tarefa em nome dos outros 33 líderes de estado, de acordo com seus termos. O presidente norte-americano, Barack Obama, deu uma coletiva separada de outra, presidida pelos seus colegas do México, Canadá e Panamá, e logo que declararam encerrados os trabalhos, os organizadores pediram aos jornalistas que abandonassem de imediato a sala de imprensa.
Além disso, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, que passou o sábado diante das câmaras de televisão e conversando com todos, não se deixou ser visto, e a fotografia final foi suspensa, porque a maioria dos presidentes não compareceu ao encontro.
Tal como se previa, a declaração final não incluiu grandes novidades. Os presidentes e primeiros-ministros que a subscreveram se comprometeram a manter um diálogo permanente, promover a prosperidade humana com o desenvolvimento agrícola e industrial, proteger o meio ambiente, incentivar a produção de biocombustiveis, reforçar a segurança pública com o combate ao narcotráfico e o terrorismo em primeiro plano e reforçar a governabilidade democrática.
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Sem unanimidade
Não foi uma declaração unânime. Como era esperado, os países da Alba (Aliança Bolivariana para as Américas) não a assinaram porque a consideraram “ultrapassada” e “não adequada aos tempos atuais”. A declaração não foi apoiada pela Venezuela, Bolívia, Nicarágua, Honduras, Dominica e São Vicente-Granadinas.
O presidente boliviano, Evo Morales, explicou que não aprovou o documento porque se opõe à promoção do desenvolvimento dos biocombustíveis, já que sua produção retira espaço do cultivo de alimentos. Além disso, porque o texto não fez referência ao embargo econômico a Cuba, que acabou se transformando no grande tema da cúpula.
“Eu não assino isso tal como está, mas também não vou pressionar para que seja modificado”, afirmou o presidente venezuelano, Hugo Chávez, na madrugada passada. Em sua opinião, “o texto está deslocado no tempo, não reflete as necessidades reais da região e esquece Cuba”.
O presidente equatoriano, Rafael Correa, acabou assinando a declaração, mas com algumas reservas e dúvidas. “Para dizer a verdade tudo isto é muito ambíguo. Os temas são interessantes, mas o documento está escrito em termos do estilo, ‘você gosta de seu avozinho?’ e a resposta é, naturalmente que sim. Ninguém vai dizer que não”, afirmou Correa.
Alem disso, sublinhou o presidente, “a declaração não se refere aos fundamentos da crise econômica global”, nem critica instituições que Correa considera responsáveis pela situação, como o FMI (Fundo Monetário Internacional), que foram os “algozes de nossos povos e agora pretendem ser seus salvadores”.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez a mesma avaliação, acrescentando que o sistema financeiro atual baseia-se “num pensamento conservador, incapaz de prever e evitar os recentes efeitos das aventuras especulativas do capital financeiro”.
Leia a declaração final da 5ª Cúpula das Américas aqui
Avaliação positiva
Apesar da falta de unanimidade, a cúpula foi “um êxito”, afirmou o presidente mexicano Felipe Calderón, em coletiva ao lado do panamenho Martin Torrijos e do primeiro-ministro canadense, Stephen Harper.
“O êxito da cúpula, assim o definimos todos, está dado pela ratificação da importância do diálogo entre os chefes de estado do continente, que permitiu aprofundar o conhecimento mútuo, compreender nossas prioridades, problemas e diferentes pontos de vista, inclusive, ideologias, expressas num ambiente de grande cordialidade e franqueza”, disse Calderón.
O secretário-geral da OEA (Organização de Estados Americanos), José Miguel Insulza, que disse durante os trabalhos que quer Cuba de volta à entidade, não ocultou sua satisfação. “Aqueles que pensavam que isto ia ser uma luta e uma gritaria, saíram decepcionados. Aqui foi visto um novo espírito, muito positivo”, disse.
O próprio Lula garantiu que regressava a Brasília “extremamente surpreendido” por ter participado de uma cúpula onde os Estados Unidos e o resto dos países latino-americanos criaram “uma nova forma de ultrapassar as divergências e a debater com maturidade”.
Evo Morales (Bolívia) cumprimenta Àlvaro Uribe (Colômbia), observado por Hugo Chávez (Venezuela)
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Um novo best-seller
No meio de tudo isto, o grande vencedor parece ter sido o escritor uruguaio Eduardo Galeano, autor de “As veias abertas da América Latina”, que viu a vendagem de sua obra crescer depois que Chávez presenteou Obama com um exemplar.
Ontem, o livro estava na posição 60.280 da lista de bestsellers da Amazon.com e subiu hoje para o segundo lugar. A obra pode ser comprada no site norte-americano por cerca de 12 dólares, mas já tem uma lista de espera de 11 dias.
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