O Comitê Argentino de Seguimento e Aplicação da Convenção Internacional dos Direitos da Criança questionou nesta quarta-feira (10/11) a decisão judicial que mantém em liberdade o padre Julio César Grassi, condenado a 15 anos de prisão pelo crime de pedofilia.
Um tribunal de Morón, cidade a 40 quilômetros ao oeste da capital Buenos Aires, recusou ontem um recurso da promotoria e da acusação que pedia a imediata detenção de Grassi. Segundo a Justiça local, havia supostos “erros formais” no processo.
“Não podemos aceitar que Grassi continue sem ir para a prisão depois de uma condenação em duas instâncias a 15 anos, enquanto nenhum tribunal se anima a prendê-lo”, declarou Nora Schulman, diretora-executiva do comitê, que se apresentou como querelante no julgamento que condenou o religioso em 2008.
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A sentença contra o padre, por abuso sexual e corrupção de menores, foi ratificada em nova análise, em junho de 2009. Mesmo assim, ele continua solto.
“Apelaremos a todas as instâncias que correspondam até conseguir que a Justiça da verdade seja feita. Nos indigna a impunidade”, continuou Schulman.
“Se não fosse padre com um enorme poder político, econômico e eclesiástico, já estaria preso, como o sacerdote Héctor Pared que, pelo mesmo crime, foi levado à julgamento e condenado em um prazo de seis meses, morrendo pouco depois na prisão”, comparou a representante da organização.
Para Schulman, “é pelo menos curioso que, enquanto o papa Bento XVI reúne cardeais para ocupar-se com o tema da pedofilia na Igreja, a instituição na Argentina, em especial suas máximas hierarquias, permanece absolutamente à margem de tal preocupação do Santo Padre”.
Ontem, o advogado de acusação, Juan Gallego, já havia acusado que “a câmara [penal de Morón] não explica os fundamentos pelos quais” Grassi continua livre. “É uma situação patética”, declarou à agência DyN.
A Argentina é um dos países onde a Igreja católica enfrenta acusações de pedofilia, denúncias que chocaram o mundo e o Vaticano nos últimos meses. Desde que soube das acusações, Bento XVI se esforça para promover a justiça e eliminar a corrupção nas instituições ligadas ao clero.
Para investigar um caso no Chile, a Santa Sé designou uma comissão que abordou as acusações contra Fernando Karadima em um documento de cerca de 700 páginas. No México, após Marcial Maciel, fundador dos Legionários de Cristo, ter sido denunciado, foi enviada, inclusive, uma delegação para reformular a imagem e ações de tal congregação. Também no Brasil há relatos desse tipo de violação.
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